Caminho das Índias

CPI da Covid deve ter foco em ‘mortes evitáveis’ e desvios da Covaxin, diz especialista

Especialista em saúde pública, Ligia Bahia (UFRJ) afirma que a CPI deve seguir o “caminho Ricardo Barros”, investigando a participação do líder do governo na compra superfaturada da vacina indiana

Valter Campanato/Agência Brasil
Valter Campanato/Agência Brasil
Líder do governo, Ricardo Barros é investigado por favorecimento à Global Saúde, sócia da farmacêutica responsável pela importação da Covaxin

São Paulo – De acordo com a médica especialista em saúde pública Ligia Bahia, professora de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a CPI da Covid deve concentrar seus esforços na responsabilização dos agentes públicos que foram negligentes ou cometeram erros no enfrentamento à pandemia. Além disso, a comissão tem o dever de investigar suspeitas de corrupção, como os indícios de superfaturamento na compra da vacina Covaxin.

Para ela, o depoimento do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) nesta terça-feira (22) foi pouco produtivo. Nesse sentido, Ligia espera o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, e a diretora-executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, que participam da CPI na próxima sexta-feira (23), apontem que ainda é possível salvar vidas, seguindo as recomendações da ciência.

Ela também afirmou que não faltam evidências de que o presidente Jair Bolsonaro deve ser responsabilidade pela gestão catastrófica na pandemia. “O que aconteceu já é mais do que suficiente para condenar, fazer impeachment, expulsar ou pedir a sua renúncia. Qualquer desses atos estaria mais do que justificado, num país que teve uma resposta tão ruim à pandemia”, disse Ligia.

“São dois caminhos que a CPI deveria fazer. Um deles é seguir as mortes que poderiam ter sido evitadas. O outro é seguir a corrupção, que certamente ocorreu à solta”, afirmou a especialista em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (23).

Covaxin

O empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio da farmacêutica Precisa, deveria prestar depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (23). A empresa intermediou a compra da vacina indiana Covaxin por US$ 15 a dose, 1.000% mais cara do que o valor informado seis meses antes, indicando superfaturamento. No entanto, a defesa de Maximiano informou à Comissão que o empresário cumpre quarentena, pois chegou da Índia no último dia 15 de junho, devendo permanecer 14 dias de isolamento, de acordo com determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Sua ida à Comissão ainda será remarcada.

Lidia aponta que também na Índia o laboratório indiano Bharat Biotech, responsável pela Covaxin, é suspeito de ter sido beneficiado pelo governo daquele país. Isso porque o imunizante foi aprovado pela agência indiana em tempo recorde. Por aqui, a médica destaca as ligações do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), atual líder do governo na Câmara, com a empresa Precisa, responsável por intermediar a importação da Covaxin.

Por meio de uma emenda à medida provisória (MP) 1.026/21, Barros incluiu o órgão regulador indiano na lista de dispensa de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação de vacinas, desde que aprovadas por autoridades sanitárias internacionais reconhecidas. Ele também é investigado por improbidade administrativa, quando era ministro da Saúde, por favorecimento à empresa Global Saúde. A Global, por sua vez, é sócia da Precisa.

Depoimentos e requerimentos

Sem o depoimento do representante da Precisa, a CPI deve deliberar sobre requerimentos de convocações e de informações. Devem ser votadas, por exemplo, a convocação de um representante das gigantes de tecnologia Google, Facebook e Twitter. Os parlamentares querem explicações sobre a divulgação de conteúdos falsos ou desinformativos a respeito da pandemia em suas plataformas.

Além disso, os integrantes da CPI também querem informações sobre os passeios de moto realizados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Um desses atos políticos, ocorrido no Rio de Janeiro, teve a participação do ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello. Os parlamentares também querem saber o que foi feito para enfrentar a pandemia em comunidades indígenas e quilombolas.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


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