Heil, mito

Médico compara desprezo de Bolsonaro pelos vulneráveis à eugenia nazista

“É uma coisa muito mais perversa do que simplesmente não acreditar na ciência. É um outro tipo de teoria que pode ser muito pior do que isso”, disse Arnaldo Lichtenstein, diretor do Hospital das Clínicas de São Paulo

Reprodução/TV Cultura
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"É uma coisa muito mais perversa do que simplesmente não acreditar na ciência"

São Paulo – O médico Arnaldo Lichtenstein, diretor do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirmou nesta segunda-feira (11) que não é apenas anticientífica a postura do presidente Jair Bolsonaro, que sabota, a todo momento, as medidas necessárias para conter a pandemia de coronavírus. Segundo o médico, por trás da proposta de isolamento vertical não está apenas a preocupação com a economia, mas uma ideologia muito mais perigosa, que é a eugenia.

“O que vai acontecer quando as pessoas não defendem o isolamento? Não se fecha o comércio, a economia não para e o governo não precisa colocar dinheiro. As pessoas vão morrer, muitas, são idosos. E vem a fala ‘e daí? ia morrer mesmo’. Ou as pessoas que já estavam doentes. Vão ficar os jovens e atletas”, comentou Lichtenstein no Jornal da Cultura, da TV Cultura.

“Se a gente pegar pedaços da fala, tem uma lógica intensa. Isso chama eugenia. Lembrem-se que sistema político mundial usava isso. Quando você fala ‘que morram os vulneráveis’, para termos uma geração saudável, pode ser que esteja permeando essa história de ‘vamos acabar logo com essa tortura, não vamos ter o derretimento da economia’. É uma coisa muito mais perversa do que simplesmente não acreditar na ciência. É um outro tipo de teoria que pode ser muito pior do que isso”, alertou.

A eugenia foi um expediente utilizado na Alemanha nazista, quando doentes, pessoas com deficiência e além das raças consideradas “impuras”, como judeus e ciganos, foram mortos nos campos de concentração. O intuito era eliminar os vulneráveis para construir uma “raça pura” de alemães arianos, que seriam supostamente superiores, segundo a crença nazista.

Reincidência

As inspirações nazistas de Bolsonaro e seus seguidores antecedem até mesmo a sua chegada ao poder. O lema “Brasil acima de tudo” é uma adaptação do “Deutschland Uber Alles” (Alemanha acima de tudo), do hino nazista.

No início do ano, o então secretário de Cultura Roberto Alvim deixou o governo, após gravar um vídeo no qual copiava trechos de discurso do ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels. ” “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. (…) Ou não será nada”, disse ele.

Nesta semana, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) fez uma publicação que afirma que “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”. É uma alusão à frase “O trabalho liberta” (Arbeit macht frei), que estampava os portões de entrada de alguns campos de concentração do regime nazista.


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