cálculo político

Mandetta estaria cavando a própria saída, diz advogado pela democracia

Ministro da Saúde pretende se apresentar como opositor de Bolsonaro, mas ambos compartilham a mesma agenda de interesses, segundo Portella Junior

José Dias e Marcos Corrêa/PR
José Dias e Marcos Corrêa/PR
Incensado por setores da imprensa, Mandetta não é muito diferente de Bolsonaro no conteúdo

São Paulo – Apesar de apresentar-se de forma comedida, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, neste domingo (12). No entanto, na avaliação do criminalista José Carlos Portella Junior, do coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia, Mandetta já estaria “prevendo o pior” e tenta se distanciar do chefe, em relação às medidas de combate à pandemia do coronavírus, cavando a própria saída. A intenção seria se apresentar como um opositor ao presidente. Na prática, contudo, ambos representam o mesmo projeto político e econômico.

Na entrevista, Mandetta afirmou que é “uma coisa claramente equivocada” pessoas se aglomerando em padarias e supermercados, em alusão direta às saídas de Bolsonaro pelo comércio de Brasília e cidades do entorno nos últimos fins de semana. Também disse que o brasileiro “não sabe se escuta o ministro ou o presidente”. Ele afirmou ainda que os meses de maio e junho serão os piores em relação à disseminação da doença.

“Ele é esperto o suficiente para perceber que pode ser levado junto a esse projeto de governo que vem fazendo água já há algum tempo. Percebendo os limites de Bolsonaro, ele está pressionando para que seja enxotado do governo e se coloque como oposição. Uma oposição dentro do mesmo projeto. Ou seja, uma falsa oposição”, afirmou Portella a Marilu Cabañas e Glauco Faria, na edição desta segunda-feira (13) do Jornal Brasil Atual.

Interesses privados

Mandetta também é representante de setores da burguesia nacional interessados em retirar direitos sociais e trabalhistas da população brasileira. O ministro, segundo o advogado, se destacou ao longo de sua carreira como deputado como defensor dos interesses das operadoras de planos de saúde. Assim como Bolsonaro, votou a favor da Emenda Constitucional 95, que impôs teto aos gastos públicos, implicando em redução dos recursos para a área da saúde, e limitando, no atual cenário de pandemia, a atuação do SUS no combate e tratamento dos doentes, por exemplo.

“Onde está o dinheiro para a saúde pública? Por que não requisitou os leitos dos hospitais particulares? Cadê os investimentos em equipamentos de proteção, além de programas de pesquisa, com investimentos pesados na ciência? Mandetta continua sendo representante de um projeto neoliberal que quer retirar direitos sociais dos trabalhadores. Entre eles, a saúde”, cobrou Portella.

Crise do capitalismo

Ele destacou que países como a Argentina e o Vietnã, com economias menores que a brasileira, conseguiram implementar políticas muito mais eficazes de combate ao coronavírus. Por aqui, em vez de defender o isolamento social e investir no sistema público de saúde, Bolsonaro anunciou a liberação de R$ 1,2 trilhão para garantir “liquidez” ao sistema financeiro.

“Bolsonaro sabe, embora esconda do povo, que o capitalismo está em profunda crise. A pandemia revelou isso”. O advogado defende que o governo já deveria ter apresentado proposta de uma renda básica universal, não só apenas para determinadas categorias. Deveria também executar políticas para garantir o emprego neste período. Em vez disso, Bolsonaro editou a Medida Provisória (MP) 936, que reduz salários e dá mais poder aos patrões na hora de demitir.

Ouça a entrevista: