Em Roma

‘Conquistas do século 20 estão sendo derrubadas pela ganância’, diz Lula

Depois de ser recebido pelo papa e visitar centrais sindicais na Itália, ex-presidente disse que economia mundial está “financeirizada”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula sobre o papa: 'Se todo ser humano de 84 anos tiver a força, a disposição e a garra que ele tem, acho que a gente pode encontrar soluções mais fáceis'

São Paulo – Depois de ser recebido pelo papa Francisco, na tarde desta quinta-feira (13), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou as centrais sindicais italianas e na mais antiga delas, a CGIL, fez rápido pronunciamento sobre desigualdade e meio ambiente.

“Todo mundo sabe que o mundo está ficando mais desigual, que a na maioria dos países os trabalhadores estão perdendo direitos. Conquistas do século 20 (estão sendo) derrubadas pela ganância dos interesses empresariais, dos interesses financeiros”, afirmou, já à noite, antes de seguir para um debate. Ele retornará amanhã ao Brasil. 

Lula lamentou que os esforços para mudar os rumos da economia mundial não tenham avançado. “Eu participei de muitas reuniões do G20 (o grupo que reúne os principais países) e todas as decisões que nós tomávamos (sobre trabalhadores, protecionismo, países mais pobres),  nada disso aconteceu. O que aconteceu foi que o sistema financeiro saiu mais forte, que a economia mundial está financeirizada. Hoje se ganha dinheiro fazendo papel, vendendo facilidade.”

Ele elogiou a iniciativa do papa de promover um encontro com jovens economistas, em março, em Assis (Itália), para discutir novos modelos. “É uma decisão alentadora”, disse Lula. “Isso deve servir de exemplo para o movimento sindical, para outras igrejas.”

Segundo o ex-presidente, é preciso discutir “quem vai pagar salário para os trabalhadores, quem vai cuidar das pessoas, quem nem oportunidade de emprego têm”.

A segunda parte da fala foi sobre a questão ambiental, e mais uma vez Lula identificou dificuldades. “Nós estamos percebendo que, apesar dos discursos,  há uma má vontade dos governantes. Muita gente deseja romper com o Protocolo de Quioto”, afirmou, referindo-se ao tratado firmado em 1997 – e que entrou em vigor em 2005 – para reduzir a emissão de gases que provocam o chamado efeito estufa. “Muito se fala em energia alternativa, no degelo, e pouco é feito.”

Por fim, Lula elogiou a disposição do papa Francisco. “Se todo ser humano tiver a força, a disposição e a garra que ele tem, acho que a gente pode encontrar soluções mais fáceis”, comentou, fazendo ainda referência à visita feita às centrais sindicais, cujo contato foi iniciado ainda nos anos 1970. “Aprendi muito com o sindicalismo italiano.”