Apelação

Site francês desmente Bolsonaro sobre jornalista: ‘Informações falsas’

Publicação se solidariza com repórter do 'Estadão'. Entidades de classe também repudiam o presidente

reprodução / getty images

Fenaj e sindicato no Rio de Janeiro divulgaram nota em repúdio a Bolsonaro e em solidariedade à repórter

São Paulo – A polêmica envolvendo Jair Bolsonaro e uma repórter do jornal O Estado de S.Paulo chegou ao exterior, e o próprio site francês Mediapart, onde se originou o imbróglio, afirmou nesta segunda-feira (11) que são falsas as afirmações que serviram de base para a manifestação do presidente. A publicação se solidarizou com a jornalista Constança Rezende, atacada por bolsonaristas, e entidades de classe também saíram em sua defesa, criticando a reação do chefe do Executivo.

O portal bolsonarista Terça Livre citou o site francês para sustentar que a repórter declarou, em conversa gravada, ter a intenção de “arruinar” Bolsonaro. Mas os áudios divulgados não mostram isso. Durante a conversa, a jornalista afirma apenas que o caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, “pode comprometer” e “está arruinando” o pai, sem demonstrar qualquer intenção.

Os trechos foram divulgados em um seção do Mediapart, um blog, destinada aos leitores. “O artigo é de responsabilidade do autor e o blog é independente da redação do jornal”, diz a publicação. O autor, no caso, é Jawad Rhalib, com quem o Estadão tentou fazer contato, sem sucesso. 

Para melhorar, o Estado revelou que a jornalista Fernanda Salles Andrade, que assina o texto no Terça Livre, ocupa cargo no gabinete do deputado estadual Bruno Engler na Assembleia de Minas Gerais. Ele é filiado ao PSL, partido do presidente da República. 

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o sindicato da categoria no município do Rio de Janeiro divulgaram nota em repúdio a Bolsonaro e em solidariedade à repórter. “O site (Terça Livre) é claramente partidário de Bolsonaro e atribuiu à Constança Rezende uma afirmação que ela jamais fez”, afirmam, lembrando que a jornalista acompanhado o caso envolvendo Fabrício Queiroz, ex-assessor de Bolsonaro, que de acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) movimento quantias incompatíveis com sua rede na Assembleia fluminense.

“Ao tentar desqualificá-la para enfraquecer a apuração do caso Queiroz, o presidente da República assume uma postura que não condiz com o cargo que ocupa”, dizem as entidades. “Em mais uma atitude intempestiva e irresponsável, ele agride a jornalista e, em última análise, o trabalho jornalístico. Os constantes ataques do presidente à atuação da imprensa é um desrespeito à democracia brasileira que precisa ter um fim.”

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) diz que as ameaças a Constança representam “grave ofensa ao livre exercício profissional, à liberdade de imprensa e a própria Democracia”. “É inaceitável que se tenha também divulgado a foto da repórter pela internet com a intenção de constrangê-la e silenciá-la pelo medo”, acrescenta a entidade, em nota assinada por seu presidente, Domingos Meirelles. 

A ABI afirma ainda que a função de presidente da República exige “equilíbrio, serenidade, linguagem moderada e altivez”. E acrescenta que, segundo a história, “a erosão do poder começa sempre por dentro, quando desidrata as expectativas daqueles que o fizeram depositário das suas melhores esperanças”.

 

 

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