justiça

Fala de ministro sinaliza estreitamento militar com aliados Paraguai e Argentina

Segundo Alexandre de Moraes, Brasil debaterá com vizinhos, hoje alinhados, estratégias de combate ao crime e tráfico de armas. Ele disse considerar 'superado' o episódio sobre a Lava Jato

Assembleia Legislativa SP

“O que posso afirmar, e os fatos mostram, é que todas as operações vão continuar enquanto houver necessidade”

São Paulo – Em palestra proferida hoje (30) no Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp),  o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, falou sobre quase uma hora sobre os planos do ministério na área de segurança pública. A exposição demonstra que a mudança de comando nos governos do Mercosul, principalmente Argentina e Brasil, os países mais importantes do subcontinente, vai auxiliar no desenvolvimento de parcerias geopolíticas entre os dois países e o Paraguai. Os três estão hoje ideologicamente alinhados e formam a “Tríplice Aliança”, segundo denominação da Venezuela de Nicolás Maduro.

Um dos destaques das propostas em desenvolvimento no âmbito da Justiça é o combate ao crime organizado e ao narcotráfico. Na próxima segunda-feira (3), informou o ministro, ele viaja à Argentina, acompanhado do presidente Michel Temer, do ministro da Defesa, Raul Jungmann, e do titular das Relações Exteriores, José Serra, onde se reunirão com o presidente Mauricio Macri. A equipe brasileira terá também um encontro com o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, que apoiou Temer expressamente logo após o peemedebista assumir interinamente em maio.

Segundo Alexandre de Moraes, um dos temas dos diálogos será o desenvolvimento de possíveis parceiras e estratégias de combate ao crime. O ministro disse que a ideia é utilizar serviços de inteligência para atacar o tráfico de armas e de drogas a partir do território paraguaio. “A reunião é para tratar de mecanismos que possibilitem o ataque lá (no Paraguai)”.

Desde que Michel Temer assumiu a presidência, o governo brasileiro, segundo analistas, vem trabalhando para esvaziar o Mercosul e desestabilizar a Venezuela. País mais influente no bloco sul-americano, o Brasil foi decisivo para isolar a Venezuela. Os sinais, hoje, indicam a tendência a um estreitamento militar na relação com os aliados Argentina e Paraguai.

Depois de longo impasse, no dia 13 de setembro os chanceleres de Brasil, Argentina e Paraguai decidiram que a Venezuela não assumiria a presidência rotativa, como previa o cronograma. O pretexto é de que o país andino não cumpriu protocolos necessários e seu regime viola direitos humanos. O Uruguai, último titular da presidência pro tempore, se absteve na decisão da “Tríplice Aliança” de vetar a Venezuela na presidência.

Na palestra, Moraes afirmou que a ideia não é interferir na soberania paraguaia ou em seu território, mas atuar em conjunto na América do Sul. Isso porque, de acordo com o ministro, 90% da maconha que entra no Brasil vem do Paraguai, assim como 70% das armas que entram no país atravessam a fronteira vindas do território vizinho. “Ora, por que não o Paraguai, com o nosso auxílio, se precisar de pessoal, ou auxílio econômico, não fiscaliza as lojas de armas onde você vai, compra o fuzil que quiser e traz para o Brasil?”

Outro país mencionado por ele como potencial fonte de cocaína e armas é a Bolívia, além da Colômbia. “Agora que as Farc e o governo colombiano fizeram as pazes, onde eles vão colocar aquele monte de fuzis? Vão querer vender para quem? Para o primo rico deles na América do Sul, o Brasil.”

Vazamento

Moraes afirmou que faz parte do passado o episódio do comício de campanha no último domingo (25), em Ribeirão Preto (interior paulista), no qual ele antecipou a 35ª fase da Operação Lava Jato, que prendeu o ex-ministro Antonio Palocci. “Tudo superado, até porque não houve nenhuma antecipação”, disse a jornalistas após a palestra.

“Na minha gestão, o que posso afirmar, e os fatos mostram, é que todas as operações vão continuar enquanto houver necessidade”, acrescentou, sobre a Lava Jato.

Na segunda-feira (26), os deputados federais Paulo Teixeira (PT-SP) e Paulo Pimenta (PT-RS) protocolaram, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara, requerimento pedindo a convocação do ministro da Justiça, para dar explicações sobre o episódio de Ribeirão Preto.

Na terça (27), o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) disse à RBA que as  declarações de Moraes em Ribeirão Preto são um fato “muito grave”. “Ele vazou uma informação sigilosa de uma operação da Polícia Federal que envolve outros poderes como o Judiciário, o Ministério Público, de maneira privilegiada, para buscar dividendos eleitorais e políticos com isso”, avaliou o petista.