100 anos

Temer presta homenagens ao ‘maior mafioso da história da Fifa’

Acusado pelo comitê de ética da Fifa de desvios milionários e de fraude pela Justiça da Suíça, João Havelange ainda possui admiradores, entre eles, Michel Temer; cartola morreu hoje aos 100 anos

reprodução/ebc

“Esporte mundial perdeu hoje um dos seus mais expressivos líderes”, disse Temer sobre Havelange

São Paulo – Morreu hoje (16), aos 100 anos, um dos políticos mais controversos da história do futebol mundial João Havelange. Íntimo da ditadura civil militar (1964-1985), o carioca, filho de belgas, possui uma extensa lista de envolvimentos em escândalos. “O maior mafioso da história da Fifa”, como definiu o jornalista escocês Andrew Jennings, que dedicou parte de sua carreira a investigar a entidade maior do esporte.

Entretanto, Havelange ainda possui admiradores. Entre eles, o presidente interino, Michel Temer (PMDB). Na contramão de todas as denúncias, inclusive do próprio comitê de ética da Fifa, que o acusou de receber dezenas de milhões de dólares em suborno, Temer homenageou o cartola através de redes sociais. “O esporte mundial perdeu hoje um de seus mais expressivos líderes”, disse o interino sobre o colega político. A Justiça da Suíça também provou, em 2012, esquemas de fraudes comandados pelo cartola. Sem saída, Havelange deixou de atuar no futebol já no ano seguinte.

“João Havelange se dedicou com afinco ao desenvolvimento do esporte e, principalmente, do nosso futebol”, continuou Temer. De fato, o cartola esteve à frente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, que reunia federações de outros 23 esportes além do futebol) de 1957 à 1974 – a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), tal como é conhecida hoje, foi criada em 1979. No período, Havelange dirigiu o esporte no país como um “general”, de acordo com seu biógrafo, o jornalista Ernesto Rodrigues. Após o golpe de 1964, utilizou sistematicamente a seleção brasileira como propaganda do regime.

E foi nesta época de ouro que o cartola ganhou prestígio para alçar à Fifa, que passou a presidir em 1974. De acordo com investigação do jornalista inglês David Yallop, publicada no livro Como Eles Roubaram o Jogo, Havelange financiou sua campanha para a presidência da entidade com dinheiro desviado da CDB. As denúncias de Yallop vão além, e apontam que o brasileiro como responsável por vender armas para a ditadura boliviana de Hugo Banzer (1971-1978), com dinheiro que tomou emprestado do Banco do Brasil.

Ao deixar o cargo, Havelange reafirmou sua força política elegendo seu assessor, Joseph Blatter, em 1998. Segundo Jennings, Blatter manteve a organização “mafiosa” funcionando na Fifa. Entretanto, a relação entre eles ficou estremecida. Neste ano, o pupilo não compareceu à festa de centenário de seu mentor. A razão seria o medo de ser preso, com as proporções que o escândalo de corrupção na Fifa tomou após as denúncias dos jornalistas citados.

Como legado para o futebol brasileiro, o cartola admirado por Temer deixou ainda o seu genro, Ricardo Teixeira. À frente da CBF de 1989 até 2012, Teixeira não ficou de fora dos esquemas de Havelange. De acordo com a imprensa britânica, o ex-presidente da CBF recebeu propinas da empresa de marketing ISL em troca de contratos de transmissão de torneios mundiais. Denúncias apontam para mais de US$ 100 milhões envolvidos apenas neste caso de corrupção.

A demonstração de afeto do Temer entra em choque com palavras do próprio cartola. “Hoje em dia todo mundo é filho da puta. E todo mundo, no fundo, gostaria de sentar na cadeira da Fifa”, definiu o próprio Havelange, em entrevista para Ernesto Rodrigues, divulgada no documentário Conversas com JH (2014).

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