impeachment

Para oposição, senadores fazem da votação palco para desrespeito e hipocrisia

Magno Malta (PR-ES) cantou estrofe da música 'Vá Com Deus' ao votar favorável ao impeachment e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), ministro no governo Dilma, votou sim 'em sinal de esperança na reconstrução do Brasil'

Marcos Oliveira/Agência Senado

Senadores contrários ao impeachment destacaram que não vão permitir que suas opiniões sejam censuradas

Brasília – A votação do relatório sobre o impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff pode não ter tido o caráter patético do ocorrido na sessão da Câmara dos Deputados que aprovou a admissibilidade do processo, em 17 de abril, mas também se destacou por cenas desrespeitosas, como o senador evangélico Magno Malta (PR-ES) cantando estrofe da música Vá Com Deus (composta por Roberta Miranda em 1987) ao votar favorável ao relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que defendeu o afastamento. Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), um dos mais criticados por ter sido ministro do primeiro governo de Dilma, afirmou que estava se posicionando pelo impeachment “em sinal de esperança na reconstrução do Brasil”, porque sabe que está sendo observada no país “uma crise política, econômica e ética”.

Coelho foi rebatido pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Ela afirmou que “ninguém no Congresso pode falar de corrupção”. Para a senadora, há parlamentares sérios, mas que estão atrelados a partidos políticos que possuem integrantes envolvidos em todos os escândalos que são constantemente mencionados.

Kátia insistiu que o processo de impeachment não tem motivos para julgar a presidenta e só foi acolhido por uma vingança do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois que o Palácio do Planalto se recusou a defendê-lo durante o processo que tramitava contra ele no Conselho de Ética.

A senadora, que foi ministra da Agricultura do governo Dilma, ressaltou também que inúmeras propostas legislativas para retomada da economia foram encaminhadas ao longo do ano de 2015 para o Legislativo, mas que a oposição fez questão de barrar todas as iniciativas, como forma de boicotar o governo e “sem se preocupar com o destino do país”.

Disse ainda que “quando se fala em falta de ética, é preciso que cada político lembre da sua própria situação e a das legendas que integra”. “Falta de ética tem sido vista por parte dos que até o último minuto fizeram parte do governo Dilma e hoje estão apoiando o governo provisório de Michel Temer”, afirmou.

“E mais ainda, os que eram ministros do governo Dilma e que agora continuam sendo ministros desse governo que aí está”, acusou, em referência a Gilberto Kassab (PSD-SP), ministro das Cidades de Dilma e hoje interino da Ciência e Tecnologia, e Helder Barbalho (PMDB-PA), ministro dos Portos de Dilma e agora o interino da Integração Nacional.

Ronaldo Caiado (DEM-GO), considerado um dos mais brigões durante as reuniões da comissão, desta vez teve uma atitude mais ponderada e evitou bate-bocas. Limitou-se a pedir que, ao final do processo, o Congresso se debruce na avaliação de uma proposta consistente de reforma política.

O senador Dário Berguer (PMDB-SC) disse que embora o momento seja histórico para o país, não gostaria de estar fazendo parte dele e sim, de estar atuando, como parlamentar, na discussão e votação de propostas que ajudassem o desenvolvimento do Brasil. “Estou aqui, infelizmente, e vou votar favorável ao impeachment, mas quero registrar que estou particularmente triste pelo país estar vivendo este momento.”

Golpe

O líder do PT, Humberto Costa (PT-PE), disse que estava vendo poucas diferenças do que acontece hoje no país com o que foi observado em 1º de abril de 1964, quando teve início a ditadura civil-militar. “Em 64, com o argumento de combate à corrupção e ao comunismo no Brasil, se deu um golpe em 31 de março e no dia seguinte se falou no restabelecimento da democracia. Agora também se fala em combate à corrupção. E os que mais falam isso são os maiores corruptos. Falou-se tanto em pedaladas, mas não foi o governo que pedalou, vocês que estão pedalando agora a Constituição Federal”, ironizou.

“Há um discurso farsesco na condução de todo esse processo”, disse Costa. “Acusaram a presidenta Dilma de fazer farra fiscal com as contas do país, mas quem está fazendo a verdadeira farra é este presidente usurpador que aí está. Esse governo não tem condições de construir um pacto político que permita ao Brasil sair da situação difícil que vivemos hoje. Votaremos pelo não ao impeachment, porque votar pelo não é votar pela Constituição Federal e pela democracia”, disse.

Em resposta ao líder petista, Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou que tem idade suficiente para lembrar do dia 1º de abril de 1964 e que considera as circunstâncias daquele tempo diferentes das de hoje. “Não temos tanques nas ruas, não temos Ato Institucional e João Goulart não foi mantido no Palácio da Alvorada para que fosse iniciado um processo de impeachment contra ele, teve de sair do país. Também não foi colocado no lugar de Goulart um civil escolhido por ele próprio para ser o seu vice. Se formos comparar este caso, que seja com o que aconteceu em 1992, com o processo de impeachment de Fernando Collor e não com o período do golpe militar”, afirmou.

A senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que chamou o processo de “crônica de um golpe anunciado”, provocou polêmica na comissão por ter dito que o relatório era uma farsa e tinha conteúdo fraudulento. O presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), pediu para o termo ser retirado das atas da sessão e recebeu o protesto de vários senadores que ficaram de só aprovar a ata da sessão depois que ela for impressa e lida em detalhes.

Lira lembrou que o regimento interno da Casa não admite que sejam proferidos termos ofensivos ou com acusações criminosas contra seus integrantes. O senador José Medeiros (PSD-MT) reclamou dos parlamentares do PT e do PCdoB dizendo que não via motivos para contestarem o que diz o regimento da Casa, porque entende que “contestar o relatório chamando-o de fraudulento é o mesmo que dizer que o relator cometeu o crime de fraude”.

Lindbergh Farias (PT-RJ), Fátima Bezerra e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) destacaram que não vão permitir que suas opiniões sejam censuradas e a sessão foi encerrada sem que os integrantes tivessem chegado a um acordo final sobre o assunto.

Já a senadora Lúcia Vânia (PSB-GO), que vinha sendo considerada uma das parlamentares que se mantinha indecisa sobre como votar, disse que considerava o documento do relator uma peça precisa, que lhe permitiu decidir de forma favorável ao afastamento da presidenta.

Gleisi Hoffmann (PT-PR) pediu que os demais senadores que se manifestam indecisos e que tenham dito durante a votação da admissibilidade do processo que  não sabiam se havia ou não crime cometido por parte da presidenta, “pensem bem nos próximos dias”.

“O momento é de muita responsabilidade e espero que avaliem tudo o que foi discutido aqui e se conscientizem da constatação de que não houve crime. O que está sendo visto durante todo o tempo neste processo é uma inversão da ordem, na qual decidiram quem era a criminosa antes e, só depois, foram em busca de um crime para ser imputado a ela. Lembro aqui que o Congresso não é o dono do país, e sim o povo brasileiro. E é em nome do povo brasileiro que deveremos depositar nosso voto sobre esse processo no plenário, daqui a alguns dias”, ressaltou Gleisi.

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