SUSPENSÃO DO IMPEACHMENT

Dino confirma articulação; para Garotinho, porém, ação pode ter dedo de Cunha

Negociações que resultaram na decisão de Maranhão foram iniciadas na quinta (5), em reunião entre ele, Sílvio Costa e Berzoini. Garotinho, entretanto, suspeita de manobra de ex-presidente da Câmara

Luís Macedo/Câmara dos Deputados

Garotinho é um dos políticos do RJ que teve influência sobre a ascensão política de Cunha no estado

Brasília – O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), contou hoje (9) que conversou bastante com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) nos últimos dias e confirmou as informações de bastidores de que ele viajou ontem a Brasília de carona no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que fica à disposição do presidente da Casa. De lá, os dois seguiram para um jantar na casa do vice-líder do governo, deputado Sílvio Costa (PCdoB-PE), que também contou com a participação do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo.

Dino não entrou em detalhes sobre a conversa, mas tem atuado nos últimos meses contra o impeachment da presidenta e em defesa do governo, e chegou a escrever, no final de semana, em sua conta no Twitter: “Para que serviu esse tal impeachment’ até aqui? Para paralisar o país, fragilizar a imagem do Brasil no mundo e dividir a Nação”.

O governador, que já foi deputado federal por dois mandatos, é tido como um político com bom trânsito com o Legislativo como um todo e muito querido entre os deputados, sobretudo com o presidente interino da Câmara. A articulação para aprovação do recurso da AGU que suspendeu a decisão da Casa que, no dia 17 de maio, aprovou a admissibilidade do impeachment, segundo informações de bastidores de parlamentares da base aliada, teria sido iniciada na última quinta-feira.

Foi durante uma conversa reservada entre o deputado Sílvio Costa, o próprio Waldir Maranhão e o secretário de Governo, ministro Ricardo Berzoini, no Palácio do Planalto, cujo resultado foi se desenvolvendo até culminar com a decisão desta manhã.

Na liderança do PP, as informações divulgadas são de que o partido prepara a expulsão de Waldir Maranhão da sigla, pelo fato de ter acolhido o recurso da AGU. Uma vez que, como a legenda fechou questão pelo apoio ao impeachment, ele não poderia ir contra uma decisão do partido que integra.

Acontece que se for acolhida a decisão do presidente interino e o fechamento de questão pelos partidos sobre a votação for considerada ato irregular (um dos argumentos apresentados por ele para suspender a sessão que aprovou a admissibilidade do impeachment), a questão da expulsão do deputado terá de ser melhor avaliada.

Garotinho

O deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) postou hoje em seu blog nota que assinala a “perplexidade” que tomou conta da imprensa. O parlamentar lembra que Waldir Maranhão não ouviu técnicos da Mesa Diretora da Câmara para tomar a decisão, assim como não consultou os técnicos da Mesa em outras ocasiões em que tomou diversas decisões para beneficiar Eduardo Cunha no Conselho de Ética. “Foram dele várias iniciativas que proporcionaram tornar o processo de Eduardo Cunha o mais longo da história do Conselho de Ética.”

O deputado lembrou observação que ele próprio fez em seu blog, na véspera: “Como falei ontem, Cunha está falando ‘cobras e lagartos’ contra o abandono a que se diz submetido, especialmente por Michel Temer. A imprensa de um modo geral tenta atribuir o voto de Waldir Maranhão contrário ao impeachment à influência do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB),  o que em parte é verdade. Mas sua decisão na votação foi posicionar-se contra seu principal rival no seu estado, a quem acusa de persegui-lo, José Sarney. Como a família Sarney posicionou-se pró-impeachment, Waldir Maranhão tomou o sentido contrário”.

Garotinho lembra ainda que Maranhão esteve com Eduardo Cunha no sábado. “E Cunha acha que foi traído por Michel Temer e anda jurando vingança.”

Cunha

O presidente afastado da Câmara teria divulgado em nota que considera o ato de Maranhão “absurdo” e repele as insinuações de que estaria agindo nos bastidores: “A decisão do presidente em exercício da Câmara dos Deputados é absurda, irresponsável, antirregimental e feita à revelia do corpo técnico da Casa”, diz. “Condeno as insinuações de qualquer natureza publicadas por jornalistas inescrupulosos de qualquer participar minha no episódio”. A reprodução impressa da nota circulou na internet, mas não tem assinatura de Cunha.


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