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Manifestações pró-Dilma podem influenciar parlamentares indecisos

Avaliação de parlamentares da base e da oposição é de que conscientização sobre a falta de crime cometido pela presidenta ganhou força e que luta contra atentados à legalidade está maior no país

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Erika Kokay: ‘Nossa democracia é forte o suficiente para silenciar todas as vozes fascistas’

Brasília – Os parlamentares contrários ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff chegaram ao Congresso Nacional com um novo ânimo hoje (1º), após a realização de manifestações de apoio à presidenta em todo o país. Na avaliação tanto de deputados da base aliada como também da oposição, as ruas mostraram que há fatia expressiva da população apoiando o governo. Segundo eles, mesmo se não existir ainda uma certeza sobre o resultado final da votação do processo de impeachment, esse apoio a Dilma e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuda a oxigenar o governo e a fazer com que os partidos dentro da base aliada que demonstram indecisão se posicionem melhor.

Um dos primeiros a fazer esta avaliação foi o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), atual vice-líder do governo. Para Pimenta, as manifestações fizeram com que a tese defendida pelo PT e partidos da base de que o impeachment, da forma como está colocada, é golpe, “ganhou mais força”. “Hoje há um consenso bem maior no sentido de que não existe materialidade de crime de responsabilidade cometido pela presidenta. As pessoas absorveram esta tese e a estão repercutindo, mesmo com toda a pressão dos oposicionistas”, disse.

Segundo Pimenta, outro fator que contribuiu para a melhoria no clima político conturbado pró-impeachment foi a decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal (STF), contrária à decisão do juiz Sérgio Moro de divulgar conversas telefônicas interceptadas entre a presidenta Dilma e Lula.

Segundo ele, “a decisão do STF foi categórica: não há nenhuma dúvida de que o juiz Sérgio Moro cometeu crimes quando não mandou imediatamente para o STF interceptações que envolviam pessoas com foro privilegiado. E cometeu um segundo crime ao vazar conscientemente para a imprensa, de maneira criminosa, com claro objetivo de promover o caos e mais instabilidade no país, porque ele sabia que estava às vésperas das manifestações da oposição”.

A deputada Erika Kokay (PT-DF) viu as passeatas como uma forma de demonstração da democracia brasileira. “A nossa democracia é forte o suficiente para silenciar todas as vozes fascistas, porque ela também arranca vozes que estavam emudecidas e agora começaram a reagir”, disse.

“Nós conquistamos o direito de viver em liberdade a duras penas e não serão os golpistas que nos tirarão este direito. A ida dos cidadãos ontem para levantar a bandeira do Brasil e pedir pela legalidade no país passou este recado”, disse. A parlamentar subiu ao plenário da Câmara hoje para fazer uma defesa contundente dos servidores do Congresso Nacional que foram chamados para depor no setor de segurança legislativa da Casa.

De acordo com Erika, o gesto, que contou com o apoio da presidência, consistiu numa ação intimidatória em função da iniciativa de vários servidores de distribuírem panfletos convidando as pessoas para a manifestação, quando eles estavam fora do seu horário de serviço.

No manifesto distribuído horas antes das passeatas, a quem chegava ao Congresso, os servidores pedem respeito ao Estado democrático de direito e repudiam toda e qualquer tentativa de mudar governos popularmente eleitos que não seja na mais estrita observância da Constituição e das leis. “É inadmissível que esta ação seja criminalizada e um absurdo que servidores, ao distribuírem um manifesto chamando para ato do dia 31, tenham que ser submetidos à apreciação do departamento de polícia desta Casa. Trata-se de mais um arbítrio para cassar a liberdade de expressão de cidadãos”, disse.

O deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), disse que a tentativa de calar servidores da Câmara é mais um exemplo das várias formas de coopção a trabalhadores brasileiros. Ele destacou que o Brasil vive um momento no qual as pessoas precisam ficar atentas, porque não é só a tentativa de golpe contra o governo que está em curso, mas a tentativa de restringir direitos duramente conquistados pelos trabalhadores. “Cuidado, trabalhadores e trabalhadoras! Não se deixem levar pelo canto da sereia em campanhas manipuladoras. A democracia será maior”, alertou.

Reconhecimento de Cunha

Por parte da oposição, o depoimento mais contundente reconhecendo o número expressivo de pessoas nas ruas foi o do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mesmo ironizando as manifestações ao insinuar que foi distribuído lanche para os participantes, ele confirmou que a presença de muitas pessoas nas ruas mostrou, sim, apoio ao governo.

Ao ser abordado pelos jornalistas, Cunha tentou falar o mínimo possível a respeito, mas disse, quando questionado sobre as pessoas que aproveitaram os protestos contra o impeachment para pedir sua saída da presidência da Casa, que ao contrário de se sentir incomodado, estava orgulhoso: “Eu ficaria preocupado se esse grande número de petistas pedisse que eu ficasse no cargo.”

Parlamentares do PP, que vinham demonstrando indecisão, estão cada vez mais definidos pela permanência do partido na base aliada, com indicativos de nomes da sigla para ocupar novos cargos na Esplanada dos Ministérios. Deputados do PP evitaram falar publicamente sobre o período de negociações, mas comemoraram, esta manhã, em conversas reservadas, que as manifestações ajudaram integrantes do partido que estavam indecisos a concordarem com a decisão de permanecer no governo.

O ministro de Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou que a avaliação feita pelo governo foi de que a semana terminou sendo positiva e que mesmo a saída do PMDB da base aliada, que poderia ser um fator muito negativo, acabou criando condições para que a reorganização desta base de apoio começasse a ser feita dentro de um clima favorável.

O ministro destacou que neste momento o clima é “de aglutinação de forças em torno do governo”, com grandes bancadas de apoio sendo negociadas, dentre as quais as do PP, PSD, PR e até mesmo uma ala do próprio PRB e outra do PMDB – uma vez que os seis ministros do partido ainda não decidiram se seguirão a orientação da executiva nacional da sigla e tendem a permanecer nos cargos.

O Palácio do Planalto prossegue com a realização de reuniões e negociações entre os partidos no sentido de remanejar os vários cargos pertencentes hoje a peemedebistas para os integrantes das outras legendas que compõem a base aliada, o que aumentará a participação dessas siglas no Executivo.

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