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Para analistas, agressividade contra Dilma é desrespeitosa e preocupante

'Existem manifestações muito desrespeitosas com a presidente: 'Tchau querida, adeus boquinha', por parte de deputados. São essas as pessoas que vão julgar a presidente?', diz professor de Direito

portal planalto / reprodução

São Paulo – Em debate na TV Brasil, a professora Jaqueline de Oliveira, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), disse que o fato de a presidenta Dilma Rousseff influenciou no processo que desencadeou na votação do impeachment hoje (17). “O Brasil tem uma característica de patriarcado. Os principais espaços políticos na TV são dos caciques políticos.” Segundo ela, os espaços das mulheres precisam ser preenchidos a partir de uma reforma política.

Cristiano Paixão, professor da Faculdade de Direito da UnB, disse ser preocupante o grau de agressividade contra Dilma. “Existem manifestações muito desrespeitosas com a presidente como as faixas que vimos: ‘Tchau querida, adeus boquinha’, por parte de deputados. São essas as pessoas que vão julgar a presidente? É preciso ter uma oposição forte na democracia, mas essa agressividade é muito preocupante. Os deputados têm que saber se colocar.”

Jacqueline também afirmou que a definição da votação para um domingo atende a interesses midiáticos. “Existe uma busca pela (cobertura da) mídia.” Ela lembrou os boatos e especulações da época da morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, pelo simbolismo da data e por ter caído num domingo, o que facilitaria a cobertura por parte de “um programa de televisão”. Ela disse ainda que há em torno da votação um “clima de terror criado pela grande imprensa”.

Paixão lembrou que as repercussões já ultrapassaram o âmbito nacional e a situação preocupa organismos internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA). Na sexta-feira, o secretário-geral do organismo, Luis Almagro, se manifestou sobre o processo no Brasil. “Para nós o feito fundamental é que está sendo realizado um processo de impeachment de uma presidenta [Dilma Rousseff] que não é acusada de nada, não responde por nenhum ato ilegal”, disse ao El País.

Para Jacqueline, há uma distorção nas justificativas contra Dilma. “Se tem que passar o país a limpo, precisa ser por questões sérias, como inclusão das mulheres negras, a superação das desigualdades, que, apesar de terem diminuído, ainda são grandes. A corrupção é apenas uma das coisas”, afirmou.

Em link no Vale do Anhangabaú, onde ocorre manifestação dos movimentos sociais contra o impeachment, o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, lembrou as Diretas Já. “Estive aqui em 1984 na luta pelas Diretas Já. Passados 32 anos, estamos aqui para pedir respeito ao voto de 54 milhões de pessoas na presidenta Dilma.”

O jurista Luiz Moreira, ex-membro do Conselho Nacional do Ministério Público, disse que o julgamento de hoje não pode ser encarado pelos deputados como um Fla x Flu. “A democracia já se expressou na eleição. O que os deputados estão discutindo não é um Fla x Flu. Os deputados que se posicionarão são juízes, e juízes de um Estado de direito que exige a comprovação de um fato jurídico.”

Para ele, a partir de amanhã, a credibilidade do Brasil estará seriamente comprometida se o impeachment for aprovado sem comprovação de crime de responsabilidade. “Espera-se responsabilidade das instituições. Nós não podemos brincar com a democracia.”

A votação na Câmara está marcada para começar a partir das 14 horas. A ordem de voto estabelecida pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e chancelada pelo Supremo Tribunal Federal, é alternada por estados, na seguinte ordem: Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amapá, Pará, Paraná, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rondônia, Goiás, Distrito Federal, Acre, Tocantins, Mato Grosso, São Paulo, Maranhão, Ceará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Piauí, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas.

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