‘Para não esquecermos’

Ato no Ministério da Justiça lembra 52 anos do golpe e prega resistência a novas investidas

Ministro Eugênio Aragão diz que Executivo está atento a “ondas de ódio e intolerância contra a democracia”

Wilson Dias/ABr

Ato reuniu ex-perseguidos políticos, familiares de desaparecidos, movimentos sociais e personalidades

Brasília – Presos políticos, parentes de desaparecidos e integrantes de movimentos da sociedade civil debateram hoje (1º), em solenidade no Ministério da Justiça, a passagem dos 52 anos do golpe ditatorial no país, com o slogan “Para não esquecermos”. O evento foi organizado pela Comissão de Anistia do ministério, em parceria com a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos.

O ato contou com vários discursos comparando aquela época com a atual e de solidariedade com a presidenta Dilma Rousseff. As declarações enfatizavam também a importância de se evitar que se repitam os atos de arbitrariedade, perseguição e restrição de direitos observados em 1964.

O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, disse que o ministério “está de olho” em ações de ódio e intolerância contra a democracia no país. “A população não pode mais aceitar que aqueles que não conseguiram ganhar o poder numa eleição queiram agora, no tapetão, quebrar a ordem democrática.”

Ele chamou o discurso da oposição de “oportunista e ideológico”. Lembrou que já se tentou suspender as eleições de 2014 no Tribunal Superior Eleitoral e que tentam agora, por meio de ações no Legislativo e no Judiciário. “Buscam-no de diversas formas, através de iniciativas levadas ao Ministério Público, à polícia, a juízes de Direito, mas não podemos estremecer nessa hora”, afirmou.

A deputada Luiza Erundina (Psol-SP) criticou a intolerância dos últimos tempos e clamou aos movimentos sociais que se manifestem contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ocupa o cargo e comanda a principal Casa legislativa do país, mesmo sendo réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na Operação Lava Jato.

“Aquele réu que nos constrange deveria ter sido afastado, para não conduzir um processo injusto e perverso que já nos custou a todos nós e sobretudo a vocês, parentes de desaparecidos”, destacou.

Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e atual vice-líder do governo na Casa, existe hoje uma conscientização maior por parte da população sobre a falta de materialidade nas denúncias contra a presidenta Dilma Rousseff por crime de responsabilidade fiscal. Ele alertou que é preciso lutar para combater a todo o instante os ataques à ordem democrática.

Também participaram o recém-empossado presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o brasileiro Roberto Caldas, a presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga, o secretário especial de Direitos Humanos, Rogério Sottili, e o secretário-executivo do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul, Paulo Abrão. Além deles, participou do evento João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, deposto em 1964.

Várias personalidades perseguidas durante a ditadura ou que contribuíram na luta pela redemocratização do país foram homenageadas no evento, que terminaria no início da noite, com uma sessão de julgamento de requerimentos de anistia e a exibição do vídeo Betinho: a esperança equilibrista, sobre o sociólogo Herbert de Souza.

“Temos que ficar atentos todos nós, relembrar aqueles tempos para que não se repitam, saber o que claramente está em jogo hoje e lutar com firmeza pela liberdade e pela liberdade que nós conquistamos, que é pra nós e para eles também”, afirmou o ministro Aragão, ao mencionar favoráveis ao impeachment da presidenta.

Com agências


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