estranheza

Viagem de Gilmar Mendes causa desconforto em Lisboa; imprensa portuguesa repercute

Patrocinado pela Fiesp e com Temer, Aécio e Skaf, seminário organizado pelo ministro do STF chama a atenção dos portugueses pela presença ostensiva de defensores do golpe contra o governo Dilma

reprodução

Serra e Temer, articuladores do golpe no Brasil, entre os oradores em evento promovido por Mendes em Portugal

São Paulo – Sob pretexto de debater as crises políticas no Brasil e em Portugal, em uma conferência a ser realizada na Universidade de Lisboa, desembarcam na capital portuguesa, no início da semana que vem, alguns dos principais líderes do movimento que pretende afastar a presidenta Dilma Rousseff, por meio do processo de impeachment na Câmara, cuja legitimidade já é contestada em vários países, inclusive do outro lado do Atlântico. Com o tema Constituição e Crise – A Constituição no contexto das crises política e econômica, o 4º Seminário Luso-Brasileiro de Direito, a ser realizado entre os dias 29 e 31, na Faculdade de Direito de Lisboa, é promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que tem como sócio e fundador o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O evento tem patrocinadores como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que levarão para Portugal, além de Gilmar, o vice-presidente, Michel Temer, os senadores tucanos Aécio Neves e José Serra, o presidente do Tribunal de Contas da União, Arondo Cedraz, o também ministro do STF Dias Toffoli e o próprio presidente da Fiesp, Paulo Skaf, todos publicamente articuladores do movimento pelo impeachment de Dilma.

reproduçãopublico
Jornal Público

A “excursão do impeachment” chamou a atenção dos jornais portugueses, que, entre ontem (23) e hoje (24) repercutem e debatem que papel o grupo pretende desempenhar naquele país. Uma fonte oficial do governo de Lisboa chegou a chamar o encontro de “governo brasileiro no exílio”, segundo o jornal Público, que fez questão de lembrar que o encerramento do seminário ocorre justamente no 52º aniversário do golpe de 1964.

O presidente português, Marcelo Rebelo de Souza, e o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, ambos do Partido Social Democrata, que já tinham sido incluídos entre os oradores do evento, alegam “problemas de agenda” e devem desistir de suas participações – até as 11h30 de hoje a reportagem ainda não havia recebido a confirmação oficial. “O Presidente não sabe ainda se poderá participar. Mas será de certeza muito difícil…”, diz nota do gabinete de Rebelo de Souza, publicada no mesmo jornal.

Já o Correio da Manhã, outro periódico lusitano, ao repercutir a decisão da recusa do presidente, diz que a razão da desistência pode ser “essencialmente diplomática”.

reproduçãoCorreio da Manhã
Correio da Manhã

Até mesmo o presidente do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que co-organiza o evento junto ao IDP de Mendes, admite a polêmica e diz que que “pode haver algum aproveitamento” político do seminário.

Com a manchete “Protagonistas da impugnação de Dilma juntam-se em Portugal”, o Jornal de Negóciostrata o seminário como “pretexto” e fala em açodamento das tramas protagonizadas por Temer e Serra, que já planejam um eventual governo pós-Dilma.

reproduçãoJornal de Negócios
Jornal de Negócios

O jornal também nota a presença menos ilustre, mas não menos sintomática, do juiz brasileiro Antônio César Bochenek, presidente da Associação dos Juízes Federais, que vai moderar um dos debates do evento, e lembra que ele “apoiou a decisão do juiz Sergio Moro de tornar públicas as escutas a Lula”.

Na última sexta-feira (18), Lisboa também foi palco de manifestações de estudantes brasileiros em favor da democracia e contra o impeachment da presidenta Dilma. “Confiamos na democracia e nas instituições brasileiras”, diz o estudante Bruno Araújo, que denuncia a tentativa de golpe e o acobertamento oferecido pela imprensa verde-amarela.