na câmara

PMDB governista trabalha pelo retorno de deputados licenciados

Peemedebistas que ocupam secretarias estaduais ou cargos no 2º escalão devem substituir suplentes que hoje estão na ala da oposição, para garantir mais votos pela rejeição do impeachment

Tomaz Silva/Abr/fotos públicas

Primeiro aceno nesse sentido está sendo organizado pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão

Brasília – Deputados e senadores do PMDB deixaram mais intenso, hoje (9), o clima de racha observado entre a ala oposicionista e o grupo que dá apoio ao governo com as reuniões e estratégias na disputa pela liderança da legenda na Câmara. Isso porque, irritados com a destituição do líder peemedebista da Casa, Leonardo Picciani (RJ), esta manhã, em função de um abaixo-assinado de 35 assinaturas (uma a mais do que o mínimo exigido para tal substituição), peemedebistas aliados do Executivo estão se articulando pela substituição de parlamentares que ocupam a suplência por titulares da bancada.

O primeiro aceno nesse sentido está sendo organizado pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que possui deputados federais licenciados, atuando nas secretarias estaduais de Esportes e Coordenação do seu governo – respectivamente, Marco Antonio Cabral e Pedro Paulo. O mesmo movimento está sendo articulado junto à equipe do governador Jackson Barreto, de Sergipe, que também é peemedebista e assinou ontem carta de apoio à presidenta Dilma Rousseff.

Um terceiro governador da sigla é Renan Filho, de Alagoas, mas como ele é filho do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), alguns parlamentares da bancada acham que as negociações – que contam com o apoio do Palácio do Planalto – podem deixar Renan Filho de fora.

O objetivo dessa estratégia é fazer com que deputados que estejam na suplência por ocuparem cargos em governos estaduais ou de segundo escalão no Executivo Federal voltem ao Congresso Nacional, para substituir suplentes que estão fechados com a ala oposicionista. A iniciativa visa a deixar mais forte o grupo da sigla que apoia o Executivo não apenas para o processo de impeachment como também na votação das matérias orçamentárias e do pacote de ajuste fiscal.

‘Único voto’

Ao dar declarações após ser retirado da liderança do PMDB e ser substituído pelo deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), Picciani afirmou que as discussões e defesa de posições – pelo grupo que está com o governo dentro do partido – terão continuidade. Embora sem confirmar, o deputado deu a entender que pode voltar a ocupar a liderança em pouco tempo. O que só pode acontecer caso o número de apoios ao seu nome supere o dos peemedebistas que assinaram a carta pedindo a sua substituição por Quintão.

“Fui afastado por uma maioria de um único voto. É uma maioria pouco significativa, não acha?”, enfatizou Picciani, em tom irônico, ao destacar que estava tranquilo quanto à sua saída. “Não me cabe julgar se é ruim ou não minha saída da liderança do PMDB. Cabe ao presidente da Câmara (Eduardo Cunha, PMDB-RJ), considerado o principal responsável por essa mudança – saber ou dizer a vocês (jornalistas) as razões que o levaram a esta articulação. Mas não me surpreendi com a substituição”, destacou o ex-líder.

A insatisfação dos peemedebistas da oposição com Picciani tomou proporções mais sérias na última semana, depois que ele indicou para a comissão que vai apreciar o impeachment da presidenta quatro nomes considerados favoráveis ao governo, além do dele próprio. Antes disso, já causava incômodo a aproximação do líder com o Palácio do Planalto, onde constantemente era chamado para conversar com ministros da articulação política.

Perfil oposto

O substituto de Picciani, por sua vez, disse que recebeu a liderança como uma missão e reiterou que pretende cumpri-la até o final da legislatura. Quintão tem perfil oposto ao do antigo líder em termos de relacionamento com o governo. Ele foi um dos deputados a assinar, em 2013, o requerimento para abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras.

Além disso, costuma contar nos bastidores que deixou de se candidatar à prefeitura de Belo Horizonte, em 2012, por ter sido convencido a apoiar a candidatura de Patrus Ananias (do PT) e teria “levado um golpe”. A mágoa se dá porque o deputado esperava, em troca do apoio a Ananias, ser indicado para o Ministério da Agricultura, o que nunca aconteceu.

Atualmente, Quintão é criticado no Congresso e por representantes de movimentos sociais e ambientalistas, por ser o relator do Código de Mineração e ter usado, no seu relatório substitutivo do texto, material encaminhado por assessores da Vale.

Até sexta-feira passada, com a saída do secretário nacional da Aviação Civil, Eliseu Padilha, o Planalto estava articulando, até como forma de melhorar a relação com este grupo do PMDB, a entrega do cargo a um peemedebista a ser indicado pelo vice-presidente Michel Temer. E um dos parlamentares postulados vinha sendo Leonardo Quintão, segundo contou um líder da base aliada.

Indefinição

Depois da irritação dos peemedebistas da oposição com Leonardo Picciani, a substituição da liderança por Quintão e a crise na coalizão entre PT e PMDB com a carta do vice Michel Temer à presidenta Dilma Rousseff, ainda não se sabe os rumos que essa divisão na segunda maior legenda da base aliada tomará.

Mas o dia foi de muitas reuniões convocadas pelo vice Michel Temer com integrantes do partido das duas correntes. Temer, que tem uma reunião logo mais com a presidenta Dilma Rousseff, afirmou que apesar de ter exposto numa carta mágoas com o que considera falta de confiança do governo nele, não existe possibilidade de rompimento da aliança firmada em 2010.

Ao mesmo tempo, a avaliação de senadores que conversaram com o vice-presidente é de que, embora não vá se posicionar nem favorável nem contrário ao impeachment, Michel Temer está pronto para assumir a presidência da República caso surja esta possibilidade. Até um resultado desse desfecho, as divergências em relação às duas alas do PMDB continuam. E a fragilidade na aliança da legenda com o governo, mais ainda.

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