Turbulência

Petistas preparam reação a Cunha, que age como ‘franco atirador’

Base aliada está dividida sobre partir para confronto direto com o presidente da Câmara ou priorizar articulações anti-impeachment. Recurso deve será apresentado até amanhã ao STF

Alex Ferreira/Câmara dos Deputados

Presidente da Câmara diz em coletiva que Dilma mentiu e que o governo, e não ele, propôs barganha

Brasília – Os parlamentares do PT reagiram com indignação contra as declarações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), contra a presidenta Dilma Rousseff feitas há pouco. Henrique Fontana (PT-RS) chamou Cunha de “homem-bomba e chantageador geral da República”. Duas reuniões estão sendo realizadas no momento: uma entre vários integrantes da bancada petista na Casa e outra no Palácio do Planalto. O que se comenta é que a base aliada do governo está dividida sobre como reagir no momento em que Cunha, acuado, passa a agir como um “franco atirador” com mais nada a perder. Enquanto vários demonstram revolta, outros acham que o melhor é deixá-lo de lado e priorizar as articulações para desarmar o impeachment.

Uma terceira reunião, com a presença de todos os líderes partidários, está sendo realizada com a presença do próprio Cunha. Tem o objetivo de definir os nomes dos parlamentares que vão integrar a comissão especial responsável para apreciar o pedido de impeachment de Dilma. Também está sendo aguardado com ansiedade o início dos trabalhos do plenário, quando será lido o requerimento que dará abertura, oficialmente, ao processo de impeachment.

O clima político em Brasília esquentou ainda mais hoje (3) depois que Cunha chegou à Câmara com a intenção de mostrar que vai partir para o embate frontal com o Executivo. Ele convocou entrevista coletiva para acusar a presidenta de ter mentido à nação no seu pronunciamento de ontem, quando disse que não participa de negociações.

E denunciou que o deputado André Moura (PSC-SE), seu aliado, foi chamado pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para uma reunião no gabinete de Dilma ontem pela manhã, com o intuito de negociar o apoio dos deputados do PT a ele (Cunha) no Conselho de Ética, em troca da aprovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

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“Quem buscou uma negociação não fui eu, foi a presidenta. E quem se recusou a fazê-la fui eu”, acusou. Cunha disse ainda que estava fazendo o desabafo somente agora porque pretendia evitar declarações de cunho pessoal, mas viu-se “impelido” a isso depois das referências de Dilma contra ele no pronunciamento.

A bancada do PT aguarda até o final do dia o acolhimento de várias legendas da base ao pedido de recurso a ser apresentado ao plenário da Casa, contestando o requerimento de impeachment. Após esse rito regimental, haverá condições de recorrer junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Numa outra frente, aguarda-se também uma posição rápida da Procuradoria-Geral da República sobre o pedido de representação formalizado pela Rede para que Cunha seja afastado do cargo de presidente da Câmara e cada vez mais têm sido feita pressão, por parte dos deputados que defendem a sua cassação, para que ele deixe a presidência. “Esse homem não tem nem credibilidade nem condições de continuar comandando os trabalhos regimentais desta Casa”, afirmou mais uma vez, o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ).

Está sendo muito esperada, ainda, uma posição das lideranças petistas e do Palácio do Planalto sobre as acusações feitas pelo deputado. O Congresso discute a possibilidade de não realizar mais o recesso do legislativo este ano, que teria início a partir do próximo dia 22, em razão do período turbulento observado no país. Por parte da oposição, será uma forma de agilizar a tramitação do processo de impeachment.

Hoje pela manhã, Dilma chamou o vice-presidente, Michel Temer, e os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, para uma reunião em seu gabinete. Segundo a Agência Brasil, Berzoini se reuniria em seguida com os líderes da base no Congresso.

O líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), disse que o partido foi “pego de surpresa” com a decisão de Cunha e que a legenda vai atuar “de acordo com a Constituição”. “Não podemos, nós, o Congresso, e a sociedade brasileira não vai permitir, que nasça uma crise institucional. O momento é de muito equilíbrio, harmonia, para que a gente possa respeitar a Constituição e que a gente tenha a tranquilidade de fazer o nosso trabalho sem nenhuma influência que não seja o absoluto respeito à Constituição”, disse Rosse.

O PSD poderá indicar quatro deputados para a Comissão Especial que vai analisar o processo de impeachment. A comissão terá 66 parlamentares, com representação de todos os partidos, e será instalada na próxima segunda-feira (7).