Eleição na Câmara

Peemedebistas confraternizam com Michel Temer, mas mantêm clima de divisão

Vice-presidente enfatizou que partido não é um simples aliado, mas uma parte importante do governo, e cobrou fidelidade. Já Romero Jucá manteve tom de confronto e afirmou que não quer agradar ao Planalto

José Cruz/Agência Brasil

Temer comandou reunião com deputados eleitos e à noite jantou com líderes do partido no Jaburu

Brasília – Partiu do senador Romero Jucá (PMDB-RR), atual vice-presidente do Senado, na noite de ontem (4), dar uma mostra de como está dividido o PMDB sobre a possibilidade de apoiar um nome de agrado do Palácio do Planalto para a presidência da Câmara, abrindo mão da candidatura do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que formou um bloco independente dentro da base aliada. Ao ser procurado pelos jornalistas na entrada do Palácio do Jaburu, onde foi oferecido um jantar pelo vice-presidente Michel Temer aos peemedebistas, Jucá, que fez campanha por Aécio Neves (PSDB) nas eleições de outubro e rompeu com o governo Dilma Rousseff no ano passado, afirmou: “O PMDB não quer agradar ao Planalto. O PMDB quer agradar ao povo brasileiro e cumprir o seu papel como maior partido do país. É isso que vamos discutir aqui.”

Jucá, no entanto, salientou que a disputa pela presidência da Câmara não era assunto para ser tratado no jantar e ponderou que “tudo tem o seu tempo”. Horas antes, Temer, que tem trabalhado no sentido de reduzir o poder de fogo de Eduardo Cunha, deu entrevista sobre o assunto após receber em seu gabinete um grupo de parlamentares e minimizou a crise. O vice-presidente disse, em tom diplomático, considerar normal o fato de serem formados blocos para disputar a presidência da Casa, e lembrou da sua experiência como parlamentar, uma vez que presidiu a mesma Câmara dos Deputados por três vezes.

Ele fez questão de reiterar, contudo, o discurso que tem pregado desde o início da campanha pela reeleição: de que os peemedebistas são governo, e é isso que precisa ficar claro, por meio da união do partido.

Governabilidade

Temer afirmou que esta união será consolidada aos poucos, mas destacou que “o PMDB garantiu governabilidade absoluta para a presidência”. “Não somos aliados, como o governador Cid Gomes, nós somos governo. Foram eleitos a presidente, do PT, e o vice-presidente, do PMDB”, colocou. Ontem Gomes, do Pros, esteve no Palácio do Planalto para anunciar a Dilma sua intenção de criar um partido grande para integrar a base aliada, numa clara intenção de contrapor forças ao PMDB.

Esse foi o principal discurso que o vice-presidente e seus aliados tentaram pregar no jantar de confraternização oferecido aos peemedebistas. Os convidados, aproximadamente 150, movimentaram a entrada do Palácio do Jaburu em Brasília nesta terça-feira, num jantar que contou com a participação de todas as alas do partido, sem exceções. Estiveram presentes tanto nomes como o senador José Sarney, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) – que pela primeira vez em mais de 30 anos ficará sem mandato –, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como o próprio Eduardo Cunha, principal protagonista da crise referente à disputa pela presidência da Câmara.

Dentre os ministros, passaram pelo Palácio do Jaburu os titulares das pastas de Minas e Energia, Edison Lobão, Previdência Social, Garibaldi Alves, Agricultura, Neri Geller, e o secretário de Aviação Civil, Moreira Franco.

Governadores

Informações repassadas por alguns parlamentares da legenda dão conta de que, em paralelo ao trabalho que Temer tem realizado no sentido de buscar apoio entre integrantes das lideranças em todos os estados, o Palácio do Planalto também fará contato com os governadores e lideranças do PMDB nos estados, como forma de reforçar tal ação.

No início da noite de ontem, no Congresso, Eduardo Cunha, recém-saído de uma reunião com lideranças parlamentares em sua residência, afirmou que pediu o apoio de líderes de PR, PTB, PSC e Solidariedade, que ficaram de fazer uma consulta aos deputados das suas bancadas para apoio ao nome dele. “As reuniões estão avançando. Para quem conseguiu, em apenas dez dias após o segundo turno das eleições, já ter a bancada lhe indicando e lhe autorizando a construir um bloco, ter conversado com cinco partidos e ter deles a boa vontade de levar isso adiante, eu diria que é um bom avanço”, afirmou ele.

No PT, a disposição é manter o acordo feito em 2010 de revezamento dos nomes dos dois maiores partidos (PT e PMDB) para a presidência da Casa. O líder da legenda, deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (SP), chegou a reiterar na segunda-feira que os petistas não vão abrir mão de uma candidatura, mas na presidência do partido já se discute a possibilidade de vir a ser apoiado um outro nome que possa fazer boa contraposição a Cunha, caso seja mais fácil apoiar o líder do PMDB. Isso tudo porque foi Cunha o principal oponente, nas votações em plenário, das principais matérias encaminhadas pelo Executivo ao Congresso nos últimos anos.

Terceira via

Em paralelo, deputados independentes falam na candidatura de outro nome que possa vir a formar uma terceira via e, desse modo, evitar a polarização PT-PMDB. Fatores decisivos para essa engenharia política podem ser observados a partir de hoje, com a realização de reuniões dos diretórios do PSDB e do PSB. O PSDB, conforme já anunciou o seu presidente, senador Aécio Neves (MG), quer atuar de forma a garantir a candidatura de Eduardo Cunha. O PSB, por sua vez, mantém-se dividido e com muitos integrantes dispostos a retomar a aliança com o governo, rompida no ano passado.

As discussões dos nomes para os ministérios e as denúncias de políticos envolvidos na Operação Lava-Jato podem interferir de forma favorável ou negativa nestas articulações, em que cada conversa e cada reunião realizada terão peso maior do que nunca, a partir de agora. Em tempo: a eleição só acontece em janeiro, o que mostra que petistas e peemedebistas ainda têm três meses de briga pela frente.

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