Eleições 2014

Para Berzoini, Alckmin não está garantido no segundo turno em São Paulo

Ministro da Secretaria de Relações Institucionais analisa o cenário eleitoral e diz que a reforma política 'só tem viabilidade com mobilização popular'

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

‘Debate político começa depois da Copa’, diz ministro das Relações Institucionais do governo Dilma

São Paulo – Apesar da vantagem do governador Geraldo Alckmin nas pesquisas para as eleições em São Paulo, a definição sobre os rumos das campanhas vai começar depois da Copa do Mundo e Alckmin não está garantido no segundo turno. A opinião é do ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ricardo Berzoini. “O debate é saber quem vai para o segundo turno. Eu acho que ninguém está garantido. Nem o Alckmin. Começa agora o debate político, depois da Copa, sobre como tem sido a gestão do estado de São Paulo e como poderia ser”, diz.

Em entrevista à RBA, Berzoini dá a entender que o Palácio do Planalto vai manter certa neutralidade no estado, onde se colocam duas candidaturas fortes de oposição ao governador, a de Paulo Skaf, do PMDB, partido do vice-presidente da República, Michel Temer, e do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, do PT, de Lula e Dilma. “Em São Paulo não haverá uma escolha, haverá o reconhecimento de que nós temos duas candidaturas fortes. E do ponto de vista de potencial as duas são igualmente fortes. Hoje, uma delas (a de Paulo Skaf) se apresenta com mais intenção de votos por várias razões, mas nós acreditamos que isso é muito dinâmico e não necessariamente se manterá assim”, analisa o ministro.

Para Berzoini, a complexa situação dos palanques dos três principais colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, “refletem bem a diversidade da política brasileira” e também a estrutura partidária brasileira, que dificulta a formação de visões programáticas e ideológicas.

Segundo análise do site Congresso em Foco, Dilma tem no Rio de Janeiro três palanques formalmente, os de Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT), e ainda o apoio do governador Fernando Pezão (PMDB). Aécio Neves (PSDB) se coligou com o PMDB.

Em São Paulo, o senador tucano tem o apoio de Alckmin, mas vai dividir o palanque com o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em cujo partido está o vice de Alckmin, o deputado Márcio França. Dilma tem os palanques de Skaf e Padilha.

E em Minas, Dilma tem o apoio do candidato ao governo Fernando Pimentel (PT) e Aécio o de Pimenta da Veiga, que disputa pelo PSDB. Eduardo Campos conta com o palanque do ex-deputado Tarcísio Delgado (PSB), que será candidato ao governo.

Alexandre Padilha (PT) e Paulo Sakf (PMDB) disputam contra o governador Geraldo Alckmin. Padilha disse esta semana que o “único adversário” na eleição é Alckmin. Já Sakf afirmou há um mês, para ele, PSDB e PT são adversários na “mesma intensidade”.  Como o senhor analisa esse cenário?

Primeiro, é bom lembrar que o primeiro desafio que o Padilha tem é buscar os patamares de eleitores que têm simpatia pelo PT, com PT, PCdoB e com o PR. Eu não trabalho com 30%, que é coisa de reta final, mas tem pelo menos entre 12% a 15% que são pessoas que tradicionalmente votam no PT, demonstram intenção de voto no PT desde o começo da campanha. O ambiente político em São Paulo se desenvolve tradicionalmente a partir do processo de campanha na TV, então não vejo nenhum problema para o Padilha crescer. Mas evidentemente tem um candidato de oposição (Skaf) que tenta se colocar como alternativa tanto ao PT como ao PSDB, faz parte da base do governo Dilma, e que também é viável eleitoralmente. Então ele também tem um potencial muito grande. A grande questão é que a eleição de São Paulo tende a se resolver no segundo turno. O debate é saber quem vai. Eu acho que ninguém está garantido no segundo turno, nem o Alckmin. Começa agora o debate político, depois da Copa, sobre como tem sido a gestão do estado de São Paulo e como poderia ser.

O PMDB aprovou por 398 votos sim e 275 não, a coligação com o PT, mais apertada do que há quatro anos. Com uma eventual reeleição de Dilma, isso não indicaria mais problemas com o PMDB de Eduardo Cunha (RJ) do que já houve no atual mandato?

Eu acho que não existe o PMDB do fulano ou do beltrano, existe o PMDB com divisões internas, mas é um partido que busca se apresentar para a sociedade em vários estados e nacionalmente como um partido que tem responsabilidade para com o país. O fato de ele ter se dividido é fruto, em parte, dos problemas de relacionamento que vivemos nos últimos três anos, mas acho que nós temos trabalhado na perspectiva de superação e de construção política para o futuro. O PMDB está no governo e está na campanha.

Que influência terá sobre a candidatura do PT em São Paulo o fato de o PMDB do vice-presidente Michel Temer ter um candidato próprio no estado, Paulo Skaf, que está melhor nas pesquisas do que Padilha? Segundo especulações, haveria um certo corpo mole do Planalto em relação a candidatura do Padilha…

Isso é especulação absolutamente falsa. Na verdade, o que há é o seguinte: no comando da campanha da Dilma não definimos nenhum tipo de forma de relacionamento específico em nenhum estado, até porque estamos em uma fase de articulação política. A partir de agora, onde há um único candidato da base da presidenta, evidentemente esse é o candidato e ponto. Onde há mais de um, nós temos que definir como nós vamos nos relacionar sem atrapalhar as campanhas de cada um e buscando potencializar o objetivo geral que é reeleger a presidenta Dilma. Em São Paulo, não haverá uma escolha, haverá o reconhecimento de que nós temos duas candidaturas fortes. E do ponto de vista de potencial, as duas candidaturas são igualmente fortes. Hoje, uma delas se apresenta com mais intenção de votos por várias razões, mas nós acreditamos que isso é muito dinâmico e não necessariamente se manterá assim. Vamos trabalhar tanto a relação com a campanha do Skaf quanto com a campanha do Padilha

Essa situação não é uma potencial fonte de conflitos?

Não ter conflito é o desejo. Isso se constrói. Ambos sabem que têm duas eleições, a do primeiro turno e a do segundo turno. No primeiro, cada um tem de buscar todas as positividades possíveis. No segundo, dependendo de quem for, se estabelece o contraditório. Então não há razão a priori para ficar Skaf procurando problema com o Padilha e o Padilha com o Skaf. No primeiro turno, ambos podem buscar um eleitorado que vota pelo positivo e não pelo negativo.

A aliança PT, PCdoB e PR é suficiente em São Paulo, considerando que setores do PT defendiam uma composição com setores mais à direita, como o agronegócio, que não vingou?

Eu que defendo sempre alianças, acho que em aliança se busca sempre o máximo possível, dentro das suas premissas. Nós tentamos fazer alianças mais amplas, chegamos a esse patamar. Temos de olhar para a frente agora. Qualquer tipo de reflexão do tipo “será que é possível, será que não é possível”, “será que é suficiente, será que não é suficiente”, é absolutamente irrelevante em relação ao desafio de construir opinião favorável a nossa candidatura.

Vários partidos que apoiam o governo hoje ou que fizeram parte da base têm propostas muito distantes dos movimentos sociais. Os evangélicos, por exemplo, não prejudicariam um futuro governo no rumo de avanços como descriminalização do aborto, a questão das drogas?

A questão fundamental é a seguinte: a aliança se faz para governar com um programa comum. As diferenças eventuais se tratam no momento em que elas surgem. Politicamente, nós buscamos sempre construir uma aliança em torno da questão da redução das desigualdades sociais, da melhoria das condições econômicas do país e de buscar o fortalecimento dos direitos dos trabalhadores. O que tem para além disso são temas que cada partido tem um enfoque e que, no programa governamental, não são questões centrais. Quem prioriza essas questões como centrais, numa campanha eleitoral, costuma se perder do rumo principal que é a disputa entre a esquerda e a direita. A direita, para além das questões econômicas e sociais, tem um viés conservador sobre vários temas. Quando a esquerda faz alianças ao centro, ela tem de dialogar com as diferenças, senão não consegue construir apoio suficiente.

Em eleição presidencial, você trabalha com o centro da política, que é a disputa que tem na Europa, na Ásia, nos Estados Unidos, em toda a América Latina, que é entre direita e esquerda, entre programa democrático popular e programas liberais financistas. Os outros assuntos são importantes, mas eles não são centrais em uma disputa nacional. Depois, pode deixar para o parlamento equacionar temas que não foram tratados durante a campanha eleitoral.

Terminadas as convenções, como avalia o cenário nacional e os palanques nos principais colégios eleitorais do país, Minas, São Paulo e Rio?

Refletem bem a diversidade da política brasileira, ou seja, bastante cálculo político e nem sempre orientação programática. Lamentavelmente, o Brasil não tem uma estrutura partidária que induza a uma visão programática e ideológica. É uma estrutura partidária fragmentada e pouco visível para um cidadão comum. Isso é um dos problemas da estrutura política brasileira que temos de enfrentar por meio de uma reforma política. Mas é isso que existe no Brasil hoje e que nós não tivemos condições de alterar nos últimos 12 anos para melhorar a qualidade da estrutura partidária.

E qual o horizonte para a reforma política?

O horizonte é desafiador e só tem viabilidade com mobilização popular. Não acredito em reforma política surgindo de dentro do parlamento.

O presidente do PT, Rui Falcão, tem falado muito da necessidade de democratizar os meios de comunicações. E o governo fez pouco nessa área…

Primeiro é bom lembrar que isso quem faz é o conjunto da sociedade…

Mas não faltaria ao governo a chamada vontade política?

Quando você tem vontade politica de fazer algo, para concretizar a vontade, você precisa examinar a correlação de forças e quais são as prioridades do período. Eu, pessoalmente, que sou um defensor de uma regulamentação que promova a democracia e a soberania popular dos temas de comunicação e da representação política, acho que nós temos de saber o seguinte: para conquistar isso, você precisa produzir um parlamento nas eleições que tenha esse perfil. O parlamento atual não tem e nós teremos, digamos, um grande desafio para produzir um parlamento com viés diferente. Então, a vontade política não é apenas ter vontade, é construir as condições para tanto.

Lembrando um velho tabu da política brasileira, é possível ganhar uma eleição sem ganhar em São Paulo e Minas?

O Juscelino Kubitschek teve uma votação pífia em São Paulo e se elegeu presidente. O Lula perdeu as eleições em São Paulo…

Mas se perder nos dois não fica difícil?

Não, o eleitorado nacional é um eleitorado só. Não existe isso. A divisão por estado é boa para fazer, digamos, análise estatística, mas do ponto de vista político tem que ganhar o eleitorado nacional. Cada estado tem uma dinâmica, mas o povo não obedece as fronteiras estaduais no voto presidencial.

Como está a relação de Dilma com as pautas trabalhistas, já que os trabalhadores reclamaram que faltou diálogo durante o mandato?

Olha, primeiro a Dilma cumpriu rigorosamente o acordo para corrigir a tabela do imposto de renda todos os anos. Enquanto no governo Fernando Henrique, do PSDB, ficamos sete anos sem correção e só saiu em um ano correção porque deputados do PT organizaram uma pressão dentro do parlamento. Segundo, nós continuamos a fazer o salário mínimo crescer acima da inflação alinhado com o crescimento do PIB. Terceiro, o governo Dilma deu a tributação diferenciada que isenta a maioria dos trabalhadores em relação à PLR. Quarto, durante as grandes obras foi firmado um pacto do trabalho decente para as grandes obras e para a Copa. Quinto, nós temos a ampliação da luta contra o trabalho escravo e o trabalho infantil. Se as centrais sindicais sabem de tudo isso, elas têm uma opção para orientar o voto nas eleições, que é a Dilma. As outras são opções conservadoras com um traço anti-trabalhista.

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