Futuro de José Serra é indefinido: adeus ou até breve?

Apesar das análises segundo as quais o tucano estaria 'acabado' para cargos executivos, é precipitado prever se a derrota para Haddad é um fato definitivo na sua carreira

São Paulo – Ao perder a eleição para a presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2010, o então candidato José Serra (PSDB) esperou a eleita se pronunciar em entrevista coletiva e só então falou à imprensa. Na ocasião, com seu estilo peculiar, não admitiu a derrota e prometeu que voltaria, deixando no ar certo mistério sobre se apontava para 2012 ou 2014. “Nós apenas estamos começando uma luta de verdade. A minha mensagem de despedida neste momento não é um adeus, mas é um até logo”, disse então o candidato derrotado.

A lembrança é do cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), ao comentar as perspectivas políticas de Serra após as eleições municipais de 2012. A fala de “despedida” de 2010 é reveladora e ainda hoje oportuna. Devido a essa tenacidade, é precipitado prever se a derrota para Fernando Haddad (PT) é um fato definitivo na carreira do tucano, no sentido de ser um fim de suas pretensões futuras a cargos majoritários do Executivo, em qualquer das três esferas (municipal, estadual e federal). “Eu não sepultaria a carreira política de Serra, não o descartaria para 2014”, diz.

Marchetti lembra também que, em 2008, o atual governador Geraldo Alckmin teve uma derrota fragorosa na eleição municipal, ao cair já no primeiro turno, deixando o segundo para a disputa entre Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (hoje no PSD, na época no DEM), que acabou eleito. Ao contrário do que alguns previram, apenas dois anos depois Alckmin voltou com força e se elegeu governador de São Paulo no primeiro turno.

Além dessa análise mais ampla em torno da imprevisibilidade da política, para Marchetti, uma abordagem mais cautelosa sobre o futuro de Serra depende do fato mais conjuntural da eleição deste domingo (28): a leitura sobre qual foi a amplitude da derrota, se por muitos ou poucos votos de diferença.

O horizonte do PSDB

Sobre o partido de Serra, Marchetti entende que o próprio futuro do PSDB está em jogo no médio prazo. “O partido tem de forçar a renovação de seus quadros, como fez o PT, que colocou lideranças novas no cenário. Terá de lidar com isso nos próximo anos e com a consolidação de suas propostas. Por exemplo, a privatização faz parte ou não de se suas políticas? O PSDB tem de resolver isso até 2014”, analisa.

Apesar disso, para Marchetti, o PSDB ainda tem fôlego para chegar a 2014 como oposição. “Mas, se perder o estado de São Paulo, seria um desastre para o partido. Se perder a capital já é ruim para ele, a derrota no estado poderia ser um golpe fatal”, prevê.

O deputado federal Rodrigo de Castro (MG), secretário-geral do PSDB, embora ligado ao governador Aécio Neves, preterido na sucessão de 2010 pelo estilo “trator” de Serra dentro do partido, prefere a diplomacia ao falar da eleição em São Paulo e evita utilizar expressões como disputa ou animosidade entre os caciques tucanos de São Paulo e Minas. Ele diz não concordar que a derrota de Serra seja decorrente do desgaste do candidato e da falta de renovação dos quadros da legenda. 

“Não vejo dessa forma. [Serra] é um grande nome e sempre vai ter importância grande no PSDB. Sua candidatura foi uma decisão soberana do diretório de São Paulo e ele era o melhor para a cidade”, diz Castro. Para ele, o partido sai fortalecido das eleições de 2012. “Diziam que o PSDB estava dizimado. Mas, como um todo, o PSDB é o segundo partido com maior número de prefeitos eleitos. Em Belo Horizonte, vimos a vitória política do governador Aécio Neves e a derrota do PT”, avalia. O PSDB elegeu 693 prefeitos no primeiro turno, atrás apenas do PMDB, com 1.025. O PT vem em terceiro, com 628 prefeitos eleitos. No entanto, apesar do “mensalão”, o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o único dos três que cresceu em número de prefeituras em relação a 2008, considerando apenas o primeiro turno, quando fez 550 prefeitos. Há quatro anos, o PMDB elegeu 1.193 e o PSDB, 787 prefeitos.

Aécio, ainda uma promessa

Sobre Aécio Neves e suas nada veladas pretensões de substituir Serra no cenário político nacional como nome para o Planalto daqui a dois anos, Vítor Marchetti não vê o nome do governador mineiro consolidado como liderança. “Por enquanto há mais expectativa do que realidade em relação ao que Aécio será. Sua atuação no Senado mostra que ele tem aparecido mais como uma promessa do que como realidade, ao contrário de Eduardo Campos [governador de Pernambuco pelo PSB]”.

Fora o desgaste de Serra e sua enorme rejeição, o cientista político Lincoln Secco, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, atribui a derrota do tucano à maneira como conduziu a campanha. “Ele cometeu o mesmo erro de 2010, com o discurso da corrupção e do conservadorismo. O ‘mensalão’ não teve interferência, porque a população sabe que FHC foi reeleito comprando votos no Congresso. A população viu a queda de Demóstenes Torres”, diz. “A população vê as políticas sociais. Dilma baixou os juros, uma antiga demanda da sociedade. O mensalão abala na esfera partidária, mas não na eleitoral.”

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