golpe financeiro?

123Milhas: presidente de CPI vê ‘sério indício’ de pirâmide

Sócios da 123Milhas, que deveriam depor nesta terça (29) na CPI das Pirâmides Financeiras, podem ser alvo de condução coercitiva, se não comparecerem amanhã

Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Para relator da CPI, 123Milhas vendia "promessa" de passagens

São Paulo – Os irmãos Augusto Júlio Soares Madureira e Ramiro Júlio Soares Madureira, sócios da 123Milhas, deveriam prestar depoimento à CPI das Pirâmides Financeiras, na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (29), mas não compareceram. A oitiva foi remarcada para amanhã. O presidente da CPI, Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), afirmou que vai requerer a condução coercitiva dos empresários, em caso de não comparecimento.

Eles chegaram a entrar com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), dizendo serem “vítimas de constrangimento manifestamente ilegal” por conta da convocação. A ministra Cármen Lúcia negou o pedido para tornar o comparecimento facultativo, mas resguardou o direito ao silêncio em perguntas que pudessem incriminá-los.

A defesa dos sócios alegou ainda que a 123Milhas não comercializa nem opera serviços financeiros e jamais atuou no mercado de valores mobiliários. Portanto, não estariam inseridas no contexto da CPI, que investiga suspeitas de fraudes em empresas gestoras de criptomoedas.

O presidente da CPI rebateu. Ele afirmou que os milhares de clientes lesados têm o direito de ouvir os donos da empresa. “Não foram só viagens canceladas, mas sonhos que foram interrompidos. E por que estamos dando esse tratamento? Primeiro porque milhas é uma moeda, é uma moeda virtual, como tantas outras. E existe série indício de ocorrência de pirâmide”.

‘Promessa’ de passagem

No último dia 18, a 123Milhas pegou milhares de clientes de surpresa ao anunciar a suspensão das vendas de passagens e pacotes promocionais até dezembro. Nesta terça, os sócios da empresa – que acumula R$ 2,3 bilhões em dívidas – entraram na Justiça com pedido de recuperação judicial. A solicitação também engloba as empresas HotMilhas e Novum, ligadas ao grupo. Além disso, a empresa também solicitou a suspensão imediata, por um período inicial de 180 dias, das ações judiciais de cobrança movidas contra ela.

Para o relator da CPI das Pirâmides Financeiras, Ricardo Silva (PSD-SP), o pedido de recuperação indica que “algo de muito errado estava ocorrendo ali”. Ele endossou a suspeita de esquema de pirâmide, e explicou: “Uma pirâmide é quando uma pessoa, uma empresa oferece um produto, um serviço, um investimento que você vai trazendo cada vez mais pessoas, com ampla publicidade”.

Cadê o dinheiro?

No caso da 123Milhas, era justamente isso com “promessa de passagens aéreas”. Ele destacou a intensa propaganda utilizada pela empresa como indício de esquema conhecido como “marketing multinível”.

“Aqui o marketing é exacerbado, em todo o aeroporto você vê a 123Milhas atraindo pessoas para isso. As pessoas colocam dinheiro, colocam dinheiro, colocam dinheiro. Do dia pra noite, eles falam: ‘não conseguimos honrar’”. Nesse caso, a empresa deveria devolver os recursos, afirmou o relator, que pediu a quebra do sigilo fiscal da empresa. “Mas não. Preferiram talvez sumir com dinheiro, será que é isso?”, provocou.

Em vez de ressarcir em dinheiro os consumidores lesados, a 123Milhas emitiu vouchers que só podem ser utilizados na própria plataforma. “Nós temos que saber o que eles fizeram antes com o dinheiro dessas pessoas: transferiram de contas, o que é que eles fizeram? Por isso a quebra do sigilo. E por que eles têm que vir aqui? Justamente para que nós possamos entender o mecanismo de como se deu isso”, afirmou o relator. “Além de ferir direitos dos consumidores, podemos estar diante de leis penais também sendo atingidas por essa conduta”.