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Trincas em área de barragem põem cidades em alerta no RS; nível da Lagoa dos Patos bate recorde

Municípios de diversas partes do Rio Grande do Sul estão em alerta. Na Serra Gaúcha são deslizamentos de encostas e rachaduras em estradas e até em barragem. Em Porto Alegre, o Guaíba segue 2 metros acima da cota de inundação. E no sul a Lagoa dos Patos sobe a níveis de décadas

Reprodução/Youtube
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Barragem do Salto: reservatório e até a estrutura poderiam ser comprometidos com sedimentos resultantes de deslizamentos, com prejuízos também para a população

São Paulo – Municípios em diversas partes do Rio Grande do Sul estão em alerta. Em São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, rachaduras em estradas, em edificações e uma encosta de 60 metros às margens do reservatório põem em risco a Barragem do Salto e a população de áreas de Gramado, Canela, Nova Petrópolis e Vale Real, além do distrito de Vila Cristina.

“Percebemos essa série de rachaduras na região, em um antigo hotel e em algumas casas”, disse o prefeito de São Francisco de Paula, Marcos Aguzzolli (PP). “Não é uma região com muitas casas, mas percebemos que havia paredes rachadas, água vertendo do chão da casa, algumas casas deslocaram um pouco, rachaduras grandes, profundas”, completou. A prefeitura acionou a CEEE Geração, empresa que opera a barragem, para uma ação conjunta.

Conforme um estudo, não há dano estrutural na barragem. O alerta, porém, foi disparado pela chance de deslizamento. Isso porque a quantidade de terra, ao atingir a água, geraria uma onda que poderia alcançar as casas. A prefeitura protegeu as principais rachaduras contra a entrada da água. E também para evitar que o aumento da fenda. No entanto, o último comunicado da Defesa Civil do RS mantém a barragem em “nível de emergência”.

Segundo o prefeito, se todo o morro monitorado ceder, seria gerada uma onda da altura das casas. E depois voltaria, podendo passar por cima da barragem. Por essa razão os municípios e as pessoas foram alertadas. “A administração da barragem acionou as sirenes e a prefeitura, tranquilizamos as pessoas e fizemos o acolhimento para que todos saíssem do local com calma”, disse.

Mesmo assim, apenas 20 pessoas deixaram suas casas, das quais 19 foram para casas de conhecidos e familiares. Apenas uma optou por abrigos da prefeitura.

Rompimento da barragem: Nova Petrópolis afetada em cinco horas

Em Nova Petrópolis foi montado um plano de emergência pelo Bombeiros Voluntários. Segundo o documento, 256 casas podem ser atingidas. O município emitiu alertas para as localidades de Pedancino, Riachuelo, Linha Pirajá, São José do Caí, Linha Temerária e Tirol.

Em caso de rompimento da barragem, o impacto na cidade levaria aproximadamente cinco horas. O temor, portanto, não é imediato. Mas em relação às dificuldade de evacuação nas zonas de risco, em função de transtornos em estradas bloqueadas. Cerca de 100 pessoas deixaram suas casas pela estrada Stille Eck após avisos da prefeitura. Com o sol nos últimos dias, muitas famílias resolveram voltar para casa. Canela não tem moradores em áreas de risco. Gramado teria impactos mínimos em caso de problemas na barragem.

A empresa CEEE Geração nega problemas na barragem do Salto, que estaria íntegra, dentro de seus parâmetros normais de operação. No entanto, foi colocada em situação de emergência de maneira preventiva. Ainda segundo a empresa, houve evacuação da população que vive no entorno do reservatório e próximo ao rio, enquanto a Prefeitura de São Francisco de Paula avalia a estabilidade da encosta.

No sul do estado, o nível da Lagoa dos Patos bate recorde. Era de 2,80 metros na manhã desta quinta-feira (16). A mesma das cheias históricas de 1941. Segundo o Instituto MetSul, a lagoa também registrou 2,8 metros nas cheias de oito décadas atrás.

A lagoa está acima da cota de inundação há mais de duas semanas. Desde o início das enchentes, no final de abril, o volume, que vem de rios na região central e da metade norte do estado, está acima de 1,3 metro.

Cheia recorde da Lagoa dos Patos afeta três municípios

Em Pelotas, há alerta para retirada de moradores em quatro bairros. O município, terra natal do governador Eduardo Leite, tem 673 pessoas em abrigos. São Lourenço do Sul registrou 2,87 metros na lagoa às 9 horas. O município de 21 mil habitantes tem 171 desabrigados e dois pontos de acolhimento municipais lotados.

Em Rio Grande, com as águas da lagoa 76 centímetros acima do nível do cais às 10h, a prefeitura classificou 30 bairros como área de risco. O município tem 615 desabrigados.

Já o nível do Guaíba caiu. Na madrugada desta quinta, a altura era de 4,98 metros, segundo dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura e da Agência Nacional de Águas. Mesmo assim, continua dois metros acima da cota de inundação. A referência, de 3 metros, é usada para indicar quando há risco de danos aos municípios. A queda gradual do Guaíba depende do volume das futuras chuvas. 

Atualizações da Defesa Civil indicam que dos 497 municípios gaúchos, 460 sofreram alguma consequência dos temporais. As cidades atingidas representam 92% do total do estado. O número total de afetados pelos temporais é de 2.281.774. Ao menos 538.167 pessoas ficaram desalojadas e 77.199 estão em abrigos.

O número de mortes chega a 151, até a última atualização, às 12h desta quinta-feira. Os municípios com maior registro de mortes foram Canoas (19), Caxias do Sul (10), Roca Sales (10) e Cruzeiro do Sul (10). Ainda há 104 desaparecidos e 806 feridos.

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Redação: Cida de Oliveira, com Uol e GZH