Relações exteriores

‘Se eu fizesse o discurso de Biden no Congresso americano, seria chamado de comunista no Brasil’, diz Lula

Presidente falou à jornalista Christiane Amanpour, da ‘CNN’, sobre democracia, guerra e paz, extrema direita no mundo e Bolsonaro, “cópia fiel de Trump”

Reprodução/Youtube/CNN
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“Jamais imaginei que pudesse acontecer nos Estados Unidos da América a invasão do Capitólio"

São Paulo – Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, em Washington, antes de seu encontro com o presidente Joe Biden, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi questionado e falou sobre a democracia, a guerra Rússia-Ucrânia, a extrema direita no mundo e, particularmente, nos Estados Unidos e no Brasil, liderada por Donald Trump e Jair Bolsonaro.

“Jamais imaginei que pudesse acontecer nos Estados Unidos da América a invasão do Capitólio, como jamais imaginei que no Brasil, depois de uma eleição democrática, houvesse uma invasão dos prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal”, disse. Segundo o líder brasileiro, essa é a expressão de “uma extrema direita raivosa, que utiliza fake news como instrumento de fazer política”. É preciso “destruir a narrativa que eles utilizam contra os democratas”, defendeu.

A entrevista a uma das mais importantes jornalistas do mundo teve momentos descontraídos. Lula elogiou o discurso de Biden ao Estado da União, na terça-feira (7), quando o presidente democrata se dirigiu aos opositores republicanos e pediu que se juntem a ele para reconstruir a economia e unir a nação.

Ao comentar o discurso, Lula afirmou que Biden discursou “como se estivesse falando do Brasil, no Brasil  acontece a mesma coisa”, e mais tarde acrescentou: “Se eu fizesse no Brasil hoje o discurso que o Biden fez no Congresso americano, eu seria chamado de comunista no Brasil”. Rindo, Amanpour comentou: “mas o senhor é chamado de comunista!”

Bolsonaro cópia de Trump

Questionado sobre seu antecessor, Lula fez duras crítica a Jair Bolsonaro, construindo uma linha do tempo. “A gente não imaginava que no país que simbolizava a democracia alguém pudesse invadir o Capitólio, ou alguém pudesse ser tão desumano quanto era o presidente Trump”, afirmou. “E Bolsonaro é uma cópia fiel.” Em seguida, definiu Bolsonaro: “Não gosta de sindicato, de empresários, de trabalhadores, de mulheres, de negros, de conversar com empresários; é ele e as mentiras dele. Não gosta de falar com a imprensa.”

“Bolsonaro não tem nenhuma chance e voltar à presidência”, continuou. De acordo com Lula, isso “vai depender da nossa capacidade de construir a narrativa correta do que ele representou para o Brasil”.  “A extrema direita está no mundo inteiro”, disse, citando Estados Unidos, Brasil, Espanha, França, Hungria (onde a extrema direita governa) e Alemanha. “É uma extrema direita organizada, é uma atitude nazista!”, exclamou.

Guerra e paz

O presidente brasileiro foi questionado pela jornalista sobre a guerra na Europa. “O senhor fala de democracia, mas não perece que acredita no apoio ocidental à Ucrânia. Por que Lula está comprometido com a democracia em seu país e não no exterior?”, questionou Amanpour.

“Eu estou muito comprometido com a democracia em qualquer lugar do planeta Terra”, respondeu Lula. Ele defendeu que, no caso de Ucrânia e Rússia, é preciso trabalhar pela paz. “Que se crie interlocutores para conversar com as partes, que possam sentar com Putin e mostrar o equívoco de invadir a integridade territorial da Ucrânia e mostrar à Ucrânia que é preciso conversar mais”.

Amanpour insistiu no questionamento e perguntou se a Ucrânia não tem o direito de se defender. Lógico que tem o direito de se defender, até porque a invasão foi um equívoco”, disse. Porém, o presidente deu uma sutil alfinetada. “Mas é preciso construir uma narrativa, porque a Rússia não é um país qualquer. Uma narrativa que dê a eles o mínimo de condições de parar (com a guerra), como os Estados Unidos pararam a guerra do Vietnã. E teve que parar.”

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