Para Frei Betto, papa tem de reformar Igreja e dar atenção aos mais pobres

Reformismos dentro da Igreja e questão social devem ocupar grande parte da agenda do papa Francisco para que a instituição não siga isolada, diz Frei

Argentinos festejam escolha do conterrâneo Jorge Mario Bergoglio para líder máximo da Igreja Católica, em Buenos Aires (© Patricio Murphy/Folhapress)

São Paulo – Em comentário no Jornal Brasil Atual, o assessor de movimentos sociais Frei Betto, disse esperar do novo pontificado reformas na igreja e maior atenção aos pobres. “Espero que um latino-americano, que está acostumado a viver em nosso continente, com as desigualdades sociais próprias daqui, e com todo o avanço do fundamentalismo religioso na região – não só evangélico, mas também o católico – traga uma nova visão do que deve ser o papel da Igreja no mundo de hoje.”

A reforma na Cúria Romana, organismo administrativo da Igreja, é apontada por Frei Betto como primeiro ponto a ser colocado em pauta pelo papa Francisco. “Se o papa é o chefe de Estado do Vaticano, os seus ministros são aqueles que integram a cúria romana, que hoje em dia está sob suspeita de corrupção, de acobertar estes crimes hediondos de pedofilia, vazamento de informações. Espero que haja uma profunda reforma nesta cúria.”

A escolha do nome Francisco pelo cardeal Jorge Mario Bergoglio, de acordo com Frei Betto, é representativa. “São Francisco é o santo da opção pelos pobres. A história dele [Bergoglio] como padre, bispo e cardeal, mostra que teve muita sensibilidade para a questão social.”

Como mostrou reportagem da RBA, Bergoglio é investigado na Argentina pela colaboração na ditadura. Entre as acusações, estão o sequestro e a tortura de dois jesuítas e a apropriação de bebês durante a ditadura no país (1976-83).

“A ditadura militar atuou barbaramente na Argentina durante longos anos, com o desaparecimento de cerca de 3 mil crianças. A Igreja Católica foi conivente com a ditadura a ponto de nomear capelães para os quarteis onde os presos políticos eram torturados e assassinados”, afirmou Frei Betto. Ele destacou a importância da apuração dos crimes. “Tudo isso precisa ser apurado para que tenhamos um perfil exato do papa Francisco.”

Reformismo

Além das reformas na Cúria Romana, Frei Betto falou sobre outros pontos levados como verdadeiros tabus pela Igreja, que precisam passar por reformulações. “A questão da moral sexual precisa ser mexida o quanto antes. Diria que já seria avanço se o papa autorizasse os padres casados a voltarem ao ministério sacerdotal.”

O acesso das mulheres ao sacerdócio também foi lembrado por ele. “É preciso tirar da teologia católica essa nódoa de que a mulher é um ser ontologicamente menor ao homem, por isso ela não pode ser sacerdote. Isso precisa ser erradicado.”

Ele também lembrou do conservadorismo na moral sexual da Igreja. Isso é um tabu na Igreja Católica, que precisa ser mexido o quanto antes. Seria um avanço se o papa autorizasse os padres casados a voltarem ao ministério sacerdotal.”

A “dupla moral”, segundo Frei Betto, precisa acabar. “A moral que consta na doutrina e a praticada pelos fiéis são diferentes. Tem de tocar nessa questão, porque pelo que consta na Igreja, ninguém pode usar preservativo, e os casais não podem ter relações que não sejam para procriar.”

Finalmente, ele chama a atenção da importância do jovem para o novo pontificado. “Se estes pontos não forem revistos, a Igreja vai continuar a perder fieis, e continuar falando uma linguagem que o mundo atual não entende, principalmente os jovens. O papa precisa estar atento a isso.”

Em breve, o áudio completo de Frei Betto na Rádio Brasil Atual