Líder da oposição na Espanha cobra dinheiro para os cidadãos, e não para os bancos

Governo de Mariano Rajoy adota discurso do “mal menor” e diz que resgate de 100 bilhões de euros evitou intervenção europeia no país

São Paulo – O líder do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), Alfredo Pérez Rubalcaba, criticou hoje (10) o resgate de 100 bilhões de euros fechado na véspera entre seu país e a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI). “O governo pretende nos fazer acreditar que ganhamos a loteria, e não é assim”, afirmou a jornalistas. 

Ele quer que uma comissão do Congresso acompanhe a execução das verbas destinadas aos bancos – que, para ele, são os responsáveis pela crise iniciada em 2008 e com desdobramentos desde o ano passado. Segundo o jornal El País, Rubalcaba considera que o dinheiro deveria ser utilizado para “resgatar” os cidadãos afetados pelos problemas criados pelas instituições financeiras, destinando os fundos europeus ao crescimento econômico e à recuperação do poder de compra e dos empregos.

Neste sentido, ele reforçou a identificação com os planos do novo presidente francês, François Hollande, que rejeitou as medidas recessivas impostas pela União Europeia e pelo FMI. “Para que este resgate tenha eficácia, falta uma política de crescimento”, disse o espanhol, que acrescentou que é preciso mais flexibilidade com as metas de déficit impostas pelo bloco.

Também hoje, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, quebrou um incômodo silêncio ao dar a primeira entrevista coletiva sozinho desde que tomou posse. O político conservador evitou a utilização da palavra “resgate” e brincou que, após “resolver a situação”, pode viajar para assistir à estreia da Espanha na Eurocopa, que ocorre na Polônia e na Ucrânia. “Se não tivéssemos feito o que fizemos nestes cinco meses, o que se teria cogitado ontem seria a intervenção da Espanha”, disse, afirmando que não foi alvo de pressões dos bancos para que solicitasse a ajuda à União Europeia, que até há poucas semanas recusava completamente. “A mim ninguém pressionou. Eu é que tenho pressionado. Queria uma linha de crédito para resolver o problema.”

Rajoy evitou ainda comparações com os casos de Grécia, Irlanda e Portugal, que também tiveram de recorrer à ajuda regional após elevado aumento da dívida e dificuldade no saneamento das contas públicas. Para ele, foi necessário garantir o crédito porque é a única maneira de obter crescimento e emprego. “Ontem, ganhou credibilidade o projeto europeu, o futuro do euro e a solidez do sistema financeiro.”