No Equador

Explosão de violência já matou ao menos 13 pessoas, e população está em pânico

País está envolvido por cerca de 20 gangues criminosas, que o presidente Daniel Noboa classifica como “organizações terroristas” que devem ser “neutralizadas”

Reprodução/Youtube
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O presidente Daniel Noboa declarou estado de "conflito armado interno" ainda ontem

São Paulo – A grave explosão de violência desde ontem (9), provocada por bandos armados ligados ao tráfico de drogas, já deixou ao menos 13 pessoas mortas no Equador. O presidente Daniel Noboa declarou estado de “conflito armado interno” ainda ontem. Há dois dias, quando começaram os sequestros de policiais e rebeliões nas prisões, foi decretado estado de emergência. O país está virtualmente envolvido por cerca de 20 grupos criminosos, que Noboa classifica como “organizações terroristas” que devem ser “neutralizadas”.

O pânico se espalha pela população. A cidade de Guayaquil, no centro sul da região costeira, é o epicentro da violência no país. Ontem, os números já apontavam 10 mortos, três feridos, viaturas queimadas e um número de sequestrados indefinido. Setenta supostos criminosos foram detidos.

Também ontem, homens armados e encapuzados invadiram o canal TC Televisión, em Guayaquil, em meio a um noticiário ao vivo, até que, depois de muita apreensão, a polícia interveio. Em meio ao tiroteio, ouvia-se uma voz de mulher pedir: “Não atire, por favor, não atire”. Criminosos também invadiram a Universidade de Guayaquil, tentando sequestrar alunos e professores.

A situação de tensão no país vem crescendo há meses. Em agosto, gangues assassinaram a tiros o candidato presidencial Fernando Villavicencio. O Estado equatoriano não consegue sequer manter os criminosos presos.

Estado falido

“O Estado equatoriano é incapaz de implementar as decisões tomadas pelo governo. É por isso que o líder dos Lobos foi preso e já está foragido da prisão de Riobamba, e o líder dos Choneros também saiu da prisão há mais de uma semana e o governo só descobriu recentemente”, explica Luis Cordova Alarcon, coordenador do Programa de Investigação, Ordem, Conflito e Violência da Universidade Central do Equador, em entrevista à RFI reproduzida por vários órgãos de imprensa.

Segundo Alarcon, o problema imediato é evidenciado pelos fatos: “o governo, diante da incapacidade de fazer uma reforma policial eficaz, se depara com instituições totalmente infiltradas pelo crime organizado”.

Nos últimos dias, Adolfo Macías, conhecido como Fito, líder de Los Choneros, a principal gangue criminosa do país, fugiu da prisão em Guayaquil. Na terça-feira, foi a vez da fuga de Fabricio Colón Pico, um dos chefes do bando Los Lobos, preso na última sexta-feira (5).

Repercussão internacional

A repercussão internacional é grande, a partir dos países vizinhos. O Ministério das Relações Exteriores confirmou haver um brasileiro sequestrado no Equador. É Thiago Allan Freitas, de 38 anos, levado por criminosos armados. Segundo o filho dele em vídeo nas redes sociais, há pedido de resgate e a família teria enviado todo o dinheiro disponível aos sequestradores.

Em nota, por meio da Embaixada em Quito, o Itamaraty afirma que “acompanha com atenção a denúncia de sequestro de cidadão brasileiro no Equador, mantém contato com seus familiares e busca apurar as circunstâncias do ocorrido junto às autoridades locais”.

O premiê espanhol, Pedro Sánchez, declarou nesta quarta-feira (10) que seu país acompanha “com preocupação os acontecimentos dos últimos dias no Equador e apoiamos a institucionalidade democrática”.

O Peru decretou estado de emergência na fronteira com o Equador nesta quarta, para mobilizar forças militares em apoio à polícia local. O governo dos Estados Unidos manifestou preocupação e solidariedade com o país sul-americano. E ofereceu ajuda ao presidente Daniel Noboa, no poder há menos de dois meses.

O governo da França aconselhou seus cidadãos a evitarem viajar ao Equador. O governo italiano também acompanha a situação. A Rússia condenou os “métodos terroristas de grupos armados no Equador”, e destaca que a crise deve ser resolvida “sem intervenções externas”.