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Convite ucraniano para Brasil participar de ‘cúpula de paz’ pode ser armadilha de Kiev

Zelensky tem deixado claro que as negociações para pôr fim à guerra têm de obedecer “fórmula” ucraniana. Mas como chegar à paz sem negociar com Moscou?

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Em maio, Lula (à direita) e Zelensky (esq.) estiveram no mesmo ambiente do G7, mas não chegaram a se falar

São Paulo – Uma “cúpula de paz” tem sido mencionada pelo governo ucraniano como uma proposta de reunir países e discutir uma “fórmula” pela qual a guerra entre Rússia e Ucrânia chegue ao fim, ou ao menos seja interrompida. Com esse pretexto, o chefe de gabinete da presidência da Ucrânia, Andriy Yermak, postou no Twitter nesta quarta-feira (14) que conversou por telefone com o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Celso Amorim.

“Eu contei sobre a preparação para a Cúpula da Paz Global, na qual a Ucrânia busca envolver a comunidade internacional para implementar a fórmula da paz”, afirmou Yermak. A fala é encarada como forma de reaproximação de Kiev ao Brasil após os desencontros recentes entre o presidente ucraniano, Volodymr Zelensky, e Lula, em maio, na cúpula do G7 no Japão.

Na ocasião, Zelensky disse que queria uma reunião com Lula. O presidente brasileiro afirmou ter esperado o ucraniano, que depois não compareceu ao local combinado e alegou problemas de agenda. Lula, por sua vez, esquivou-se de declarar apoio à Ucrânia, como queria a imprensa brasileira e ocidental.

Ardil ucraniano

Mas a tentativa de reaproximação do Brasil por parte de Kiev – assim como a organização da “cúpula” – é vista também como um ardil para conseguir, ao mesmo tempo, “uma foto” com Lula, que tem grande popularidade, e ainda desfazer a imagem de que a Ucrânia obedece a comandos ocidentais contra a paz.

Essa análise é compartilhada, por exemplo, pelo jornalista brasileiro Lucas Leiroz, colaborador do Brics Information Portal, citado pelo site Sputnik. Para ele, o objetivo do regime de Volodymyr Zelensky ao patrocinar tal cúpula é afastar o “estigma” de que não se interessa pela paz. Até porque essa cúpula não teria a participação da Rússia, o que transformaria o evento em um mero teatro.

Zelensky tem deixado claro que as eventuais negociações têm de obedecer a uma “fórmula” a partir de um “plano de paz” da própria Ucrânia, e que essa é a única alternativa possível para a resolução do conflito.

“Com a ausência de uma das partes beligerantes (no caso, a Rússia), nenhuma negociação de paz é possível”, opina Leiroz. “Mas a cúpula servirá para aumentar a retórica ocidental e ucraniana de que Kiev busca uma solução pacífica, o que sabemos não ser verdade.”

De acordo com o analista, tem crescido a visão de que a Ucrânia, junto ao Ocidente, é a parte que mais impulsiona o conflito e tem interesse em continuá-lo até as últimas consequências.

Zakharova: ‘manual americano’

Em maio, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, uma autoridade que expressa claramente a visão do Kremlin e de Vladimir Putin, disse que as propostas de Zelensky são “um manual americano para fomentar conflitos na Europa”.

Segundo o jornal norte-americano The Wall Street Journal, a cúpula poderá ser realizada na Dinamarca. O primeiro-ministro dinamarquês já pediu que os países do Sul global (China, Índia e Brasil) estejam representados, mas, apesar das falas de Andriy Yermak, o Itamaraty ainda não recebeu convite formal para tal evento.


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