Com empate técnico em pesquisa, Chile define presidente

Apoio de Ominami a Frei é um dos motores de reação do candidato governista. Pela primeira vez em 20 anos, coalizão de direita pode vencer eleições

Diferença diminui, mas oposicionista segue na frente (Foto: Montagem sobre divulgação)

A diferença de intenção de votos entre os candidatos que disputam o segundo turno nas eleições presidenciais do Chile voltou a cair. Às vésperas da votação, neste domingo (17), Sebastián Piñera, da oposicionista Aliança, tem 1,7 pontos percentuais a mais do que Eduardo Frei Ruiz, da Concertação. O levantamento da Consultoria Mori considera apenas os votos válidos.

Apesar de a diferença ter sido bastante reduzida, a oposição tem condições de eleger o primeiro presidente em 20 anos, desde a redemocratização do país com a saída do ditador Augusto Pinochet. De 1973 a 1990, depois de liderar um golpe de Estado, Pinochet comandou uma gestão repleta de denúncias de abusos, arbitrariedades, perseguições, torturas e até assassinatos.

Piñera, aos 60 anos e um dos homens mais ricos do país, dono da empresa aérea LAN, do canal de TV Chilevisión e de uma participação no clube de futebol Colo Colo, prevê um “triunfo histórico”.

A reação governista é fruto de uma maior agressividade na campanha de Frei, mas principalmente da declaração de apoio do candidato Marco Enríquez-Ominami. No primeiro turno, o terceiro colocado, que encabeça a chapa Chile Cambió, teve 20% dos votos. Dissidente da Concertação, ele manifestou seu apoio aos governistas na terça-feira (12).

“As pessoas que apoiaram Marco são homens e mulheres livres que estão com a mudança e o futuro, não com o passado, nem com os mesmos de sempre. Eles vão votar com a consciência, não se trata de seguir um dirigente”, minimizou Piñera.

O empresário teve de responder a uma série de ataques feitos pelos governistas em relação às companhias de que é sócio. O líder nas pesquisas criticou o que considera mentidas proferidas pela campanha de Frei Ruiz e alega estar afastado de sua administração.

Boa parte dos eleitores de Ominami prometia votar em branco ou nulo no segundo turno, indicavam as pesquisas. Segundo a lei, os votos nulos e brancos são considerados não emitidos. Além disso, no primeiro turno, 12,3% dos eleitores se ausentaram, apesar de o voto ser obrigatório.

Por isso, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, pediu que os cidadãos assumissem uma posição. “Quero fazer um chamado para uma reflexão bem profunda para que não se voto branco ou nulo”, indicou Bachelet à rádio cooperativa. “Quando alguém está votando branco ou nulo, acredita que está tomando uma decisão, mas, na verdade, a decisão está sendo tomada por outros, que vão definir que é o próximo presidente da República”, completou.

O diretor do Serviço Eleitoral do Chile, Juan Ignacio García, concorda que a disputa será apertada. Ele lembrou que, na história chilena, outras eleições foram apertadas, embora “nenhum resultado” ter provocado denúncias de fraudes. “Se todos os atores cumprem seu trabalho de acordo com a lei e a boa vontade, haverá um processo eleitoral transparente”, sustenta.

Uma disputa voto a voto é a esperança de Frei. “Há 35 mil mesas eleitorais em todo o país e um voto por mesa pode fazer toda a diferença, cada voto conta”, declarou Frei, presidente do Chile entre 1994 e 2000. “Estamos otimistas, muita gente tem se somado às nossas ideias, propostas e programa. Esperamos confiantes ao veredicto da cidadania”, afirmou o governista.

Qual esquerda?

Para Amado Cervo, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), a falta de novas propostas é o motivo da vantagem da oposição até agora. “Não surpreende a vantagem da direita no Chile porque o país tem raízes conservadoras e neoliberais”, afirma Cervo em entrevista à Agência Brasil.

“O conservadorismo é muito presente no Chile nos aspectos político, econômico e social. O Chile é um país bastante crítico em relação à política sul-americana no que se refere à ascensão de governos chamado de esquerda, como de Chávez (Hugo Chávez, da Venezuela) e Evo Morales (da Bolívia) à margem da globalização”, sustenta.

Outro analista da UnB ouvido pela Agência Brasil, Virgílio Arraes, é necessário saber de que esquerda se fala no Chile. “A Concertación [de Frei e da presidente Michelle Bachelet] manteve a política social de Pinochet”, afirma. “A vantagem a Piñeira demonstra uma decepção do eleitorado, daí o novo ‘pinochetismo’ e até mesmo a falta de oxigenação da coligação Concertación”, analisa.

Os analistas consideram improvável que a eventual gestão conservadora de Piñera seja balisada à do general Augusto Pinochet. As acusações de violação de direitos humanos e a figura paternalistas não são vistas com simpatia pelo eleitorado.

Com informações da Agência Ansa Latina e Agência Brasil