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Cerco se fecha: visto de Bolsonaro nos EUA perdeu a validade, diz Departamento de Estado

“Se um portador não está mais realizando missões oficiais representando seu governo, deve deixar os EUA ou pedir mudança de status”, afirma porta-voz

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
"Bolsonaro é responsável pelos ataques em Brasília e deixou um rastro de caos e retrocesso", diz mídia mundial

São Paulo – Após os atos de destruição terrorista patrocinados por hordas de seguidores de Jair Bolsonaro em Brasília ontem (8), o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Edward (Ned) Price, em entrevista coletiva, foi questionado, específica e nominalmente, sobre a situação de Bolsonaro no país. A questão que lhe foi dirigida nesta segunda-feira (9) era sobre se o visto de permanência “A1” – reservado a chefes de Estado – é válido por 30 dias ou se expira “automaticamente” caso a pessoa deixe de ser governante. O brasileiro está na Florida.

Ned Price evitou falar no caso específico de Bolsonaro, mas afirmou  que o documento perde a validade e o interessado deve procurar o governo americano em até 30 dias. O porta-voz disse que evitaria falar de casos individuais.

“Deixando os indivíduos de lado e falando de maneira geral, se alguém entra nos Estados Unidos com um visto de chefe de Estado, se um portador não está mais realizando missões oficiais representando seu governo, ele deve deixar os EUA ou pedir mudança para status de imigrante em 30 dias”, explicou Price.

Ele disse ainda que o pedido de mudança do visto deve ser feito ao Departamento de Segurança Nacional. “Então é dever do portador do visto deixar os EUA ou pedir a mudança de status”, acrescentou. “Não estou comentando sobre nenhum indivíduo.”

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“Sinais” de Biden

Enquanto o porta-voz da Casa Branca dava indicações de que o país pode encaminhar a saída de Bolsonaro de seu território, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ligação telefônica do colega Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. Segundo nota publicada pelo planalto às 19h20 de hoje, na conversa “Biden transmitiu o apoio incondicional dos Estados Unidos à democracia do Brasil”, além de condenar os ataques registrados ontem em Brasília. E reafirmaram compromissos em comum, como o enfrentamento às mudanças climáticas, o desenvolvimento econômico e outros.

Confira a nota:

Os presidentes Lula e Biden conversaram por telefone esta tarde. O presidente Biden transmitiu o apoio incondicional dos Estados Unidos à democracia do Brasil e à vontade do povo brasileiro, expressa nas últimas eleições do Brasil, vencidas pelo presidente Lula.

O presidente Biden condenou a violência e o ataque às instituições democráticas e à transferência pacífica do poder. Os dois líderes comprometeram-se a trabalhar juntos em temas enfrentados pelo Brasil e pelos Estados Unidos, entre os quais mudança do clima, desenvolvimento econômico, paz e segurança.

O presidente Biden convidou o presidente Lula a visitar Washington no início de fevereiro para consultas aprofundadas sobre uma ampla agenda comum, e o presidente Lula aceitou o convite.

Repercussões continuam

As repercussões do episódio continuam intensas em todo o mundo, depois de chefes de Estado de vários países repudiarem o ataque aos prédios mais simbólicos da República brasileira e a tentativa de golpe no Brasil. E não são apenas vozes progressistas que se levantam contra os golpistas.

Citado pelo professor Oliver Stuenkel, de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas-SP, o Frankfurter Allgemeine, “principal jornal de centro-direita da Alemanha”, observa ele, aborda o tema dizendo que Bolsonaro é responsável pelos ataques em Brasília e diz que “o ex-presidente deixou um rastro de caos e retrocesso”.

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Em comunicado oficial, o Estado de Israel “condena os violentos tumultos de ontem em Brasília e apoia as instituições da democracia e do estado de direito”. “O Brasil é uma das maiores democracias do mundo. Estamos confiantes em sua capacidade de proteger seus valores e esperamos que a ordem seja restaurada em breve.”

O ataque “é resultado de uma campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados para atacar os princípios democráticos e difundir alegações infundadas de fraude eleitoral”, destacou a organização não governamental Human Rights Watch.

Internado de novo

Hoje, Bolsonaro foi internado no início da tarde de hoje, no AdventHealth Celebration, um hospital com 220 leitos nas imediações de Orlando, na Flórida, para onde foi em 31 de dezembro. Alegou dores abdominais.

O jornal The New York Times mantém cobertura on-line na capa nesta segunda, informando, no início da noite, que 1.200 pessoas haviam sido presas pelos ataques. Confira:

Capa do The New York Times às 19:07 desta segunda-feira

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