Mais repercussões

Chefes de Estado de diversos países expressam repúdio à tentativa de golpe no Brasil

Do Papa aos líderes da Alemanha, China, Reino Unido e Rússia, reação ao ataque contra a democracia e as instituições brasileiras por parte de bolsonaristas também incluiu mensagens de apoio e solidariedade ao presidente Lula

Angelo Carconi/Agência Lusa
Angelo Carconi/Agência Lusa
Papa lamenta violência no Brasil. Jornais internacionais também repercutem "assalto à democracia" por "fascistas fanáticos". Nos Estados Unidos, deputados pedem expulsão de Bolsonaro

São Paulo – Os atos terroristas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília, nesse domingo (8), vem unindo diferentes chefes de Estado do Oriente ao Ocidente que seguem condenando a tentativa de golpe de Estado dos bolsonaristas no Brasil. Os premiês da Alemanha e do Reino Unido, e porta-vozes da Rússia e da China se somaram às dezenas de chefes de Estado e de governo, nesta segunda-feira (9), ao repudiar o atentado à democracia e respaldar as decisões anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Ontem, além de reivindicarem intervenção militar, os golpistas depredaram patrimônio histórico da humanidade, assim classificado pela própria Unesco, ao invadir e vandalizar todos os prédios da Praça dos Três Poderes. 

“Condeno qualquer tentativa de minar a transferência pacífica de poder e a vontade democrática do povo brasileiro”, escreveu o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak em sua conta no Twitter. A autoridade também ofereceu “total apoio” a Lula e seu governo, acrescentando que está “ansioso para fortalecer os laços estreitos” com o Brasil. O gesto de solidariedade foi repetido pelo primeiro-ministro alemão Olaf Scholz. “Os ataques violentos são um atentado à democracia que não pode ser tolerado”, destacou nas redes sociais. 

Apoio mundial e do papa

Principal parceria comercial do Brasil, a China, por meio de seu porta-voz, Wang Wenbin, também afirmou que o país “apoia as medidas tomadas pelo governo brasileiro para acalmar a situação, restaurar a ordem social e preservar a estabilidade nacional”. O Ministério das Relações Exteriores chinês disse ainda “acompanhar de perto” e se opor “firmemente ao ataque violento contra as autoridades federais”. 

O que foi repetido pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a jornalistas locais. “Condenamos veementemente as ações dos instigadores do motim e apoiamos totalmente o presidente brasileiro Lula da Silva”, declarou a Rússia. Ainda no domingo, dezenas de lideranças condenaram os ataques em Brasília. As mensagens de repúdio e solidariedade a Lula vieram da Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, França, Itália, México, Portugal, Uruguai, entre outras nações. 

O Papa Francisco citou nominalmente o Brasil em discurso perante o corpo diplomático do Vaticano, nesta segunda. Ao citar as “inúmeras crises políticas em vários países do continente americano”, o pontífice argentino disse “pensar especialmente” na caso brasileiro e no Peru em função dos protestos que se espalharam pelo país após impeachment do ex-presidente Pedro Castilho, que tentou dissolver o Legislativo andino. 

Nas manchetes

É preocupante, segundo o Papa, o “enfraquecimento, em muitas partes do mundo, da democracia”. A tentativa de golpe bolsonarista também ganhou repercussão negativa na imprensa internacional. 

Logo na manchete, o principal jornal argentino Clarín chamou atenção para a “comoção no Brasil pelo assalto ao Congresso por ativistas de Bolsonaro”. A expressão “assalto à democracia no Brasil”, também foi destacada pelo jornal espanhol El País. A publicação ainda disse que “os bolsonaristas atacam as instituições em Brasília”. As imagens mostram as janelas, gabinetes e obras de arte quebradas, após o ataque dos terroristas. 

As cenas do atentado foram comparadas ainda à invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, pelo jornal The New York Times. Segundo o veículo, a “multidão em frenesi” que invadiu o Congresso brasileiro é “semelhante” à leva de apoiadores do ex-presidente Donald Trump que invadiu o congresso do país, há dois anos, em 6 de janeiro de 2021, inconformados com a derrota e alegando, sem provas, fraude eleitoral. Ainda ontem, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, condenou os atos de terrorismo como “inaceitáveis”. 

Extradição de Bolsonaro

Além disso, os deputados Alexandria Ocasio-Cortez e Joaquem Castro, do Partido Democrata do presidente Joe Biden, também vêm pedindo que Bolsonaro deixe os Estados Unidos. O ex-mandatário chegou ao país no dia 30 de dezembro, antes do fim de seu mandato, para não passar a faixa presidencial a Lula. Desde então, ele está instalado em Orlando, próximo aos parques da Disney. Os congressistas cobram agora sua extradição para que Bolsonaro responda à justiça sobre sua relação com a tentativa de golpe. 

Na tarde desta segunda, o presidente brasileiro deverá conversar por telefone também com o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, e o premiê português, Antonio Costa. De acordo com site Brasil de Fato, espera-se que Lula articule uma resposta política nos Estados Unidos à articulação da extrema direita nas duas nações. Um grupo de autoridades internacionais também debate a elaboração de uma carta em defesa da democracia, unindo presidentes de todo o globo em apoio ao petista.