Ameaça à saúde global

Alemães fogem de restrições e criam ‘colônias antivacina’ na Bulgária

De acordo com informações do correspondente internacional Flávio Aguiar, há uma verdadeira fuga de negacionistas da Alemanha, espalhando teorias conspiratórias sobre a pandemia

Hans Pfeifer/DW
Hans Pfeifer/DW
Na Alemanha, manifestantes se autodenominam "Spaziergänger" (ou "passeantes", na tradução literal) e exigem o fim das restrições causadas pela pandemia

São Paulo – Grupos antivacina da Alemanha, insatisfeitos com o rigor das medidas sanitárias contra a covid-19 no país, estão se deslocando até a Bulgária, no Leste Europeu, para “fugir” da imunização e estabelecer “colônias antivacina” na região. De acordo com informações do jornalista, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e analista internacional Flávio Aguiar, para o Jornal Brasil Atual, já existem duas comunidades do tipo estabelecidas nas cidades de Aheloy e Varna, ambas às margens do Mar Negro. 

Em uma delas, vivem cerca de 60 pessoas, em um condomínio com acesso controlado, portão de ferro e vigias próprios. E o plano, segundo o líder negacionista Dirk Gelbrecht, é chegar a 100. Direto de Berlim, Flávio Aguiar descreve que o perfil desses grupos é marcado pela rejeição às vacinas e ao uso de máscaras principalmente, mas eles também são responsáveis pela divulgação de uma “gama de teorias conspiratórias sobre a pandemia”. 

Segundo o correspondente internacional, a Bulgária acabou se tornando um destino dos antivacina devido à falta de controle das medidas sanitárias. O país tem hoje a menor taxa de vacinação da Europa, com 30% da população imunizada, segundo reportagem da Rádio França Internacional (RFI).

Ataque ao parlamento

Embora a posição do governo búlgaro seja pelo uso de máscaras, a norma não é seguida em pequenos comércios, bares e restaurante. Em paralelo, os preços mais baixos de imóveis também têm atraído os negacionistas. 

Na última quarta-feira (12), um grupo de pouco de 3 mil pessoas tentou invadir o parlamento contra a obrigação do uso de máscaras e vacinação. Apesar de ter se tornado um “refúgio” antivacina, o país também vai exigir a apresentação de teste negativo ou atestado de vacina para a entrada em restaurantes, cafés, shoppings e academias. 

Medidas coercitivas

Flávio Aguiar conta que os governos pela Europa vêm endurecendo as medidas coercitivas contra os que se recusam a ser vacinados. A ofensiva contra o movimento antivacina leva em conta a nova onda de casos da doença do coronavírus no continente, impulsionada pela ômicron e que contamina principalmente aqueles que recusam a imunização. 

“É inverno aqui e os números de gripe aumentam, além de outras doenças respiratórias. E o atendimento está sendo prejudicado pelo acúmulo de casos de covid entre os não-vacinados nas UTIs dos hospitais. Estamos vivendo um clima muito pesado, de incerteza muito grande”, lamentou o correspondente, em entrevista a Marilu Cabañas. “Essa tem sido nossa vida, é um drama. Estou com uma viagem marcada para o Brasil no final de fevereiro, depois de dois anos sem ver minha filha e meus netos. Mas não sei se vai dar para fazê-la. Talvez eu tenha que protelar e vou chegar a marca de três anos sem ver filha, netos e amigos.”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que, sem controle, mais da metade dos europeus pode contrair a variante nos próximos dois meses. O comunicado levou em conta o ritmo atual de infecções. Em uma semana, foram 7 milhões de novos casos na Europa, com mais de 3 milhões em apenas um dia.

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção