Vírus online

Grupos antivacina agora espalham informações falsas sobre coronavírus

Projeto da USP mostra que, apesar da mudança na temática, métodos de desinformação continuam os mesmos, com grupos usando redes sociais para distorcer e ameaçar a saúde pública

Wikimedia Commons
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Também preocupa a desigualdade vacinal, que deixa a parte mais pobre do mundo sem vacinas, o que pode provocar o surgimento de novas mutações

São Paulo – Os chamados grupos antivacina têm usado as redes sociais para disseminar informações falsas sobre o novo coronavírus. É o que mostra análise produzida pelo projeto de instituições de pesquisa e acadêmicas da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, União Pró-Vacina, que avaliou um total de 213 postagens publicadas por dois grupos no Facebook entre 15 e 21 de março. 

De acordo com o estudo, no lugar das informações falsas para negar evidências científicas e ameaçar a inversão do progresso alcançado no combate a doenças evitáveis por vacinação, o movimento tem mudado o foco para a covid-19, mas preservando seu modo tradicional de utilizar os “mesmos métodos de desinformação”. 

“Distorcer conteúdo científico e jornalísticos, espalhar teorias da conspiração e até oferecer falsas curas usando produtos conhecidamente tóxicos para a saúde humana”, destaca o projeto da USP. 

Conhecidos por fazerem uso da plataforma para espalhar notícias falsas, os grupos antivacina chegaram a ser listados, em 2019, entre 10 maiores “ameaças à saúde pública” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Agora são mais um problema para o enfrentamento do coronavírus, como apontam os pesquisadores.

Eles destacam dois grupos antivacina dos mais ativos em redes sociais no Brasil. Duas páginas que, juntas, reúnem pouco mais de 20 mil membros no Facebook.  A União Pró-Vacina alerta que o “conteúdo das postagens é preocupante: 78,4% apresentam sérios problemas”.

Durante o período de análise, os grupos aumentaram sua produção de publicações diárias, passando de uma média de 30 para 43, no dia 21, coincidindo com o crescimento de buscas no Google por informações sobre o coronavírus. Pelo menos 139 postagens foram sobre a doença, um total de 65,3% de todo o conteúdo, ante 17,8% das publicações sobre vacinas.  

“Entre as publicações, há insinuações de que o vírus seria uma ferramenta para instituir uma nova ordem mundial ou mesmo uma arma produzida pela China. Outras afirmam que a vacina da gripe seria a responsável pela disseminação da covid-19 e que a doença seria facilmente curada por meio da frequência do cobre ou de zappers, supostos antibióticos eletrônicos”, explica o projeto da USP. 

Estudo divulgado em meados de março mostrou que a análise de dados públicos da sequência do genoma do vírus causador da covid-19 evidencia que o organismo não foi produzido em laboratório. “Ao comparar os dados disponíveis da sequência do genoma para cepas conhecidas de outros coronavírus, pudemos determinar firmemente que o SARS-CoV-2 se originou a partir de processos naturais”, apontou Kristian Andersen, que compõe a equipe de cientistas responsáveis pela pesquisa.

Os efeitos e os riscos da desinformação 

Pelo menos desde o ano passado a rede de estudo vem monitorando os movimentos antivacina na internet. O cenário preocupa os pesquisadores porque o efeito da desinformação propagada por grupos como estes em redes sociais pode criar “um problema de saúde ainda mais grave em nível nacional” diante da pandemia de covid-19, como alertam. 

Os pesquisadores ainda acrescentam que o crescimento desse movimento antivacina já impactou negativamente nas campanhas de imunização em todo mundo. No Brasil, pela primeira vez em 25 anos, o país não alcançou a meta de vacinar 95% do público-alvo em nenhuma das 15 vacinas dadas do calendário anual, ao mesmo tempo que vê a volta de doenças erradicadas, como o sarampo. 

Sobre o coronavírus, por exemplo, o estudo aponta que a postagem com maior envolvimento defendia a utilização de uma substância chamada MMS, Mineral Miracle Solution, que ingerida pode causar lesões graves ao corpo humano. Publicação, por exemplo, da última segunda-feira (30), diz ainda que o “coronavírus é uma fraude” comprada pela mídia, médicos, políticos e organizações. 

Onde encontrar informações corretas sobre o coronavírus

Por conta da atuação de grupos que promovem teorias conspiratórias e manipulam o noticiário, e até pela veiculação de informações falsas de autoridades políticas, o Grupo de Estudos da Desinformação em Redes Sociais (EDReS) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criou uma hotline no WhatsApp para mapear e combater os boatos sobre o coronavírus. Pelo canal, é possível repassar as informações falsas e tirar dúvidas sobre a doença, como mostra reportagem da RBA

Em São Paulo, o governo estadual também criou um canal de comunicação no aplicativo e nas redes oficiais, o SP Perguntas – Covid 19, que disponibiliza informações sobre prevenção, cuidados e combate fake news. É preciso mandar um “oi” no número +55 11 95220-2923.

O Ministério da Saúde também lançou pelo WhatsApp um serviço de informações à população em geral. Para usar o canal, basta enviar uma mensagem no aplicativo para o número (61) 9938-0031. Há ainda o aplicativo Coronavírus SUS, que teve sua versão nesta semana semana atualizada para combater a desinformação. A população que tem dúvidas também pode entrar em contato pelo Disque Saúde 136