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Secundaristas paulistas defendem articulação nacional de estudantes

Desde ontem (14), estudantes estão realizando campanha de arrecadação para realizar uma caravana que visitará escolas ocupadas no Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul

Mídia Ninja

Além de ocupações, os estudantes realizaram vários protestos nas ruas da capital paulista

São Paulo – Estudantes do ensino básico de São Paulo organizam uma “caravana secundarista” para trocar experiências e propor uma articulação nacional com educandos de outros estados que estão realizando ocupações de escolas e reivindicando melhorias na educação. “Nosso principal foco é confrontar os cortes de verbas na educação e reivindicar melhores condições de trabalho e aprendizagem”, explicou o ativista João Vitor Santos, que participou da ocupação de escolas e da sede do Centro Paula Souza, que administra as escolas técnicas estaduais, em São Paulo.

Os secundaristas já foram dialogar com os ocupantes de escolas de Goiás duas vezes. No estado, os discentes lutam contra a concessão da administração de escolas para a iniciativa privada, por meio de organizações sociais, e para a Polícia Militar (PM), dentre outros problemas. Agora os jovens paulistas pretendem dialogar com estudantes do Ceará, do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro e construir uma plataforma comum de mobilização por melhorias na educação.

“A situação das escolas em todos esses estados é muito precária. Assim como a dos trabalhadores da educação, que não são valorizados. Falta estrutura para ensinar e para aprender, falta merenda, tem muitas salas lotadas. Claro que cada estado tem suas próprias reivindicações, mas estamos todos lutando contra uma precarização em nível nacional”, explicou João Vitor. Para ele, a vitória dos estudantes paulistas contra a reorganização proposta pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que fecharia uma centena de escolas, incentivou os jovens de outros estados.

Para realizar a ação, os estudantes estão arrecadando dinheiro em uma conta bancária, divulgada na página “Caravana Secundarista”, nas redes sociais. Eles evitaram o modelo crowdfunding, sistema de financiamento coletivo sustentado por sites especializados, porque parte da verba é retida pelo administrador. “Queremos conseguir R$ 6 mil até o dia 25 de junho, para financiar a viagem destinada ao Ceará. A campanha vai continuar para obter mais R$ 5 mil, até o dia 5 de agosto, para a caravana ir ao Rio de Janeiro, e mais R$ 5 mil, até o dia 20 de agosto, para o grupo viajar ao Rio Grande do Sul”, detalhou João Vitor.

No momento, nos três estados, há 275 escolas ocupadas. No Rio de Janeiro, os estudantes ocupam dez unidades de ensino e a Secretaria Estadual de Educação. Ontem (14) foi fechado um acordo de negociação entre os discentes, a secretaria, o Ministério Público Estadual, a Defensoria Pública e o Tribunal de Justiça fluminense, com objetivo de avançar nas reivindicações e encerrar as ocupações. Até o dia 1º de julho serão realizadas seis reuniões gerais, que serão depois substituídas por grupos de trabalho para cada tipo de demanda, dentre as quais estão: gratuidade no transporte coletivo, fornecimento de uniformes e melhorias na infraestrutura.

No Rio Grande do Sul, são 186 escolas ocupadas. Os estudantes reivindicam melhorias nas unidades de ensino, aumento do repasse estadual para a merenda – que hoje é de R$ 0,27 –, eleições diretas para direção das unidades e contratação de profissionais. Eles são contrários a um projeto do governo estadual, que tramita na Assembleia Legislativa gaúcha, de conceder a administração de equipamentos públicos ligados à educação, saúde, meio ambiente e esporte para a iniciativa privada, por meio das organizações sociais.

No Ceará, 66 escolas estaduais seguem ocupadas por estudantes, que reivindicam reformas estruturais nas escolas, melhorias nos laboratórios de informática e construção de quadras poliesportivas, além de aumento do repasse de verba para a merenda. O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) do Ceará denunciou que o governo estadual não tem repassado para as escolas os R$ 0,31 por refeição/por aluno, encaminhados pelo governo federal. No ano passado, o estado repassou em média R$ 0,18.

Já em São Paulo, após a mobilização dos estudantes das Escolas Técnicas estaduais (Etec), que ocuparam várias escolas e o Centro Paula Souza, o governo Alckmin se comprometeu a garantir o fornecimento de marmitas nas escolas a partir de agosto. Hoje nenhuma escola paulista está ocupada.