Insegurança escolar

Quase metade dos alunos da rede pública de São Paulo já sofreu algum tipo de violência na escola 

Pesquisa da Apeoesp e do Instituto Locomotiva reforça que o medo da violência nas escolas é uma realidade para a maioria dos professores, estudantes e seus familiares no estado

Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista. Em abril, um menino de 13 anos matou a professora e feriu colegas

São Paulo – Ao longo de 2022, quase a metade dos estudantes da rede pública do estado de São Paulo, com pelo menos 14 anos, sofreram alguma situação de agressão física ou verbal ou casos de bullying, discrminação, furto, assédio moral, assédio sexual ou assalto. A constatação é da nova edição da pesquisa “Ouvindo a comunidade escolar: desafios e demandas da educação pública” estadual, divulgada nesta quarta-feira (29) pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). 

De acordo com o estudo, 48% dos alunos da rede estadual já sofreram algum tipo de violência nas escolas. Assim como 19% dos professores. Entre eles, mais de 250 mil profissionais, 13% relataram ter sofrido violência verbal ou física no ano passado. Um índice que chega a 36% no caso dos estudantes. 

O levantamento, realizado em parceria com o Instituto Locomotiva, ouviu 1.250 alunos, 1.100 professores e 1.250 familiares de estudantes de toda a rede estadual de 30 de janeiro a 21 de fevereiro. Os dados indicam que o medo da violência é uma realidade para a maioria da comunidade escolar da rede pública paulista. Uma preocupação que voltou a ficar em destaque nesta semana com o ataque de um aluno de 13 anos realizado na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro da Vila Sônia, zona oeste da cidade de São Paulo. Ele esfaqueou dois estudantes e três docentes, causando a morte da professora Elisabeth Tenreiro. 

Cenário desafiador

Questionados, ao menos 71% dos estudantes disseram ter conhecimento de casos de violência nas escolas em 2022. Assim como confirmaram 73% dos familiares e 41% dos professores. Um cenário desafiador e inseguro, que ainda não apresenta uma “fórmula mágica”, como aponta a professora Keila Barreto Girotto, diretora da escola municipal de ensino fundamental Vladimir Herzog, na capital paulista. 

De acordo com a docente, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, essa violência é também uma expressão do extremismo de direita fascistas e neonazista. “É verdadeiro que esse contexto violento se coloca dentro da escola e com o incentivo ao uso de armas. São questões de violência propostas anteriores (pelo ex-presidente Jair Bolsonaro), que vivenciamos no país. Aliás, começamos o ano com uma violência de ataques a prédios  públicos em Brasília. Isso se coloca também no contexto e vem para a escola”, observa a diretora escolar. 

Keila comenta que, no dia a dia, os profissionais da educação trabalham com estratégias para minimizar esse ambiente de insegurança, mas isso não significa, conforme adverte, que a violência não está posta. A professora ainda reforça a denúncia da Apeoesp de que o programa de intermediação de conflitos, para evitar confrontos, e construir uma cultura de paz nas unidades de ensino, foi abandonado pelo governo estadual. 

Pesquisa Apeoesp/Locomotiva… by redebrasilatual

Reestruturar a educação

O que coloca como urgente repensar a estrutura da educação brasileira, garante ela. A diretora também contesta a proposta do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de convocar policiais militares que estão na reserva para atuar de forma permanente dentro dos colégios do estado. “Temos exemplos de como pode ser feita uma outra reestruturação no ensino, é evidente que não está bom para o profissional, muito menos para os estudantes e para a sociedade”, ressaltou. 

“É um trabalho de investimento de pessoal, financeiro, social e na própria educação, na formação dos professores. Há quanto tempo a educação pública chegou neste lugar que estamos caminhando para a contenção? Colocar a polícia e o detector de metal não é a solução, é a contenção. E evidentemente que a educação não deve trabalhar com a contenção. A educação é o lugar em que as pessoas promovem seu próprio ser, em cultura, em arte, aprendizagens, em educação científica. É ela que esse tipo de ação humana acontece”, alerta Keila.

Confira a entrevista