Projeto aprovado pela Assembleia Legislativa do Rio prevê criação de serviço de telegramática

Rio de Janeiro- Nem sempre um dicionário está à mão quando surgem dúvidas sobre a língua portuguesa. Nessa hora, a saída pode ser recorrer a um serviço telefônico para saber […]

Rio de Janeiro- Nem sempre um dicionário está à mão quando surgem dúvidas sobre a língua portuguesa. Nessa hora, a saída pode ser recorrer a um serviço telefônico para saber como usá-la corretamente. Pensando nisso, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) decidiu criar um serviço de telegramática.

Inspirado em serviços de Fortaleza e Curitiba, o telegramática fluminense contará com oito professores e tirará dúvidas de ortografia, acentuação, concordância verbal e nominal, além de regência, sintaxe e morfologia. Aprovado pela Assembleia Legislativa, o projeto prevê que o telegramática será implementado pela Secretaria de Educação. Ainda não foi definida a data que o serviço começara a funcionar.

Linguista da Universidade de Brasília (UnB), o professor Marcos Bagno considera a iniciativa arriscada, porque pode limitar o uso da língua. “O serviço pode ser mais uma maneira de tentar preservar uma noção de língua certa que já está ultrapassada”. Para ele, é preciso considerar que o uso da língua é complexo e um atendimento rápido pode não dar conta de entender a complexidade do problema.

“Na maioria das vezes, esses serviços tentam fechar o uso da língua de maneira muito drástica, simplesmente transmitindo aquelas noções de certo e errado, que já foram descartadas pela linguística”, afirmou o autor de O preconceito linguístico, o que é e como se faz. “A língua tem usos múltiplos e variados, de acordo com a situação do falante e do gênero textual. Então, o que ele vai falar, se é adequado se é aceitável, muda de acordo com todos esses fatores.”

O autor da lei do telegramática, o deputado Coronel Jairo (PSC), defende o serviço, principalmente por causa das novas regras do acordo ortográfico, que ainda não foram assimiladas por todos. “A língua portuguesa mudou na sua ortografia. Sabemos que quem está em casa, não só estudantes, como toda a população, tem uma dúvida qualquer. Agora, tem mais ainda.”

Serviço semelhante de telegramática funciona há 30 anos em Fortaleza e há 25 anos em Curitiba. Na central paranaense, oito professores atendem cerca de 100 ligações por dia. Para não cair nas armadilhas do “preconceito linguístico”, a responsável pelo serviço explica que os professores atendentes tomam muito cuidado com a abordagem.

“Estamos mais ligados aos linguistas que aos gramáticos. Explicamos que existem momentos em que não é necessário usar a forma padrão. Isso depende da situação de comunicação. Portanto, se a dúvida for de oralidade, não corrigimos”, afirmou a professora Beatriz de Castro da Cruz.

“Porém, quando recebemos a ligação de um advogado, de uma secretária querendo elaborar um contrato, preparar um convênio ou um edital, temos que informar o padrão. O importante é valorizar as variedades linguísticas, quando mais o falante souber, melhor”, completou a professora.

Em Fortaleza, o número de atendimentos desde que o serviço foi criado ultrapassa 1 milhão. E engana-se quem pensa que o número caiu com a internet. A média é de 120 ligações por dia, atendidas por nove professores. A maioria dos usuários é profissional formado com dúvidas sobre o novo acordo ortográfico e sintaxe.

As duas centrais recebem ligações de outros estados. O telefone de Curitiba é (41) 3218-2425 e o de Fortaleza é (85) 3225-1979.

 Fonte: Agência Brasil