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Novo Ensino Médio ‘não sobrevive mais’, afirma Daniel Cara

Especialista afirma que a reforma nunca foi defendida no governo de transição. Modelo tenta resolver todos os problemas estruturais com um currículo para formar empreendedores, quando deveria preparar os jovens para lidar com uma sociedade injusta que precisa ser transformada

Sindicato CPERS
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Alunos gaúchos em uma das passeatas pelo fim do ensino médio desenhado no governo de Michel Temer

São Paulo – O Novo Ensino Médio está morto e já não sobrevive mais, segundo avaliação do professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara. Para o especialista, o modelo enfrenta 99,9% de rejeição da comunidade educacional formada pela rede pública. Interessa apenas a meia dúzia de fundações empresariais do setor. E não faltam motivos para isso.

“O maior erro dessa reforma de ensino é que ela acha que pelo currículo resolve os problemas estruturais da educação brasileira. Currículo é uma parte da política educacional. Pode até ser o coração da política educacional. Mas a alma, os braços, as pernas, os ossos, a musculatura dependem de outras ações, entre elas a infraestrutura das escolas, formação dos professores, quantidade de professores. A gente não tem quantidade para implementar essa reforma”, disse em entrevista ao jornal O Povo publicada ontem (7).

Cara referia-se a demandas dos estudantes secundaristas que ocuparam escolas contra a reforma em 2016. Eu vejo como como um aspecto muito dolorido de todo esse processo é que o que os estudantes pediam em 2016 era uma escola com melhor infraestrutura, uma escola que tivesse laboratório de ciência, laboratório de informática, quadra poliesportiva coberta, internet banda larga, eles queriam uma estrutura de escola do século 21″.

Especialista apresenta alternativas

Além disso, apontou fragilidades do modelo em termos de projeto pedagógico, muito orientado a uma concepção neoliberal. Ou seja, formar empreendedores despreparados para lidar com uma sociedade injusta, que precisa ser transformada. “E tem outro problema concreto. Com essa idade, com 15, 16 anos, você não consegue tomar uma decisão sobre o trajeto que vai ter por toda a sua vida. Segmentar tanto a sociedade por esses trajetos. Tomar uma decisão muito muito cedo de segmentação da sociedade é muito determinista, é muito cruel. Esse modelo gera frustração para os jovens.”

Na entrevista, o especialista defende a reorganização das escolas por áreas como alternativa ao Novo Ensino Médio. “Teria área de ciências humanas, ciências da natureza, língua portuguesa e matemática. Essas áreas teriam uma coordenação pedagógica dentro de cada escola. Todas as escolas teriam de ter essas quatro áreas garantidas, como existia no modelo anterior. No fundo, é aproveitar os professores que já estão concursados, as salas de aula que já existem, fazer com que a escola, dentro de um projeto pedagógico, possa fazer no terceiro ano do ensino médio, aprofundamentos conforme a necessidade dos alunos”, disse, ressaltando que esse aprofundamento não demandaria a construção de novas salas de aula.

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui


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Redação: Cida de Oliveira