Estudantes da PUC-SP impedem reunião da nova reitora com professores

Centro acadêmico tem liminar favorável a suspensão de lista tríplice

(Foto:Guilherme Almeida e Contraponto/AGEMT)

São Paulo – Dezenas de estudantes estavam deitados ao chão, enfileirados, em um dos corredores da sede da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-Sp), quando professores integrantes do Conselho Universitário (Consun) chegaram para se reunir com sua a reitora, a professora de Letras Anna Cintra. 

Os alunos gritavam: “Não passarão!” Os conselheiros estavam a caminho da sala onde se encontrariam para discutir o orçamento da universidade para 2013, mas foram impedidos, e a reunião não aconteceu. Segundo a comissão de imprensa do movimento, Anna nem sequer foi à universidade por conta do bloqueio no acesso.

Ela já havia sido impedida por alunos de entrar na reitoria quando tomou posse, no início deste mês. Centros acadêmicos e associações de professores e de funcionário da PUC-SP não reconhecem Anna como reitora, por ter sido nomeada sem ter alcançado a maioria dos votos da comunidade estudantil. O cardeal dom Odilo Pedro Scherer, presidente da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da universidade, alega que a escolha de um dos três mais votados, caso de Anna, a terceira da lista tríplice, faz parte das regras da instituição. 

O Centro Acadêmico 22 de Agosto, da faculdade de Direito, entrou com um processo contra a Fundasp e contra o cardeal – que ocupa o cargo de grão-chanceler da universidade – por não terem levado em consideração a decisão do Consun de suspender a posse de Anna. O conselho é o órgão superior da comunidade estudantil e o responsável pelo encaminhamento da lista tríplice de candidatos à reitoria ao grão-chanceler. 

Centros acadêmicos haviam apresentado recurso ao Consun pedindo a impugnação da candidatura de Anna, com o argumento de que ela havia cometido quebra de decoro. Assim como os demais candidatos, durante a campanha, Anna assinou um termo em que se comprometia em não assumir o cargo, caso fosse indicada sem a maioria dos votos. Mas ela aceitou a nomeação mesmo tendo sido superada por outros dois nomes da lista.

No dia 28 do mês passado, em reunião, o Consun ia julgar o recurso, mas um dos conselheiros pediu vistas, adiando a decisão para amanhã (12). O Consun decidiu, então, suspender a posse de Anna e apontou o conselheiro Marcos Tarciso Masetto para assumir como reitor interino, até amanhã. Entretanto, a Fundasp manteve a nomeação de Anna. 

A Justiça de São Paulo mandou intimar a PUC-SP, a Fundasp e o cardeal e concedeu uma liminar ao Centro Acadêmico 22 de agosto, reconhecendo a resolução do Conselho Universitário (Consun) que suspendeu a lista tríplice de indicados para a reitoria. O juiz Anderson Cortez Mendes, da 4.ª Vara Cível, afirma, na decisão, que o grão-chanceler não tem a competência de rever os atos do Consun. 

Há quase um mês, nove faculdades estão em greve. Estudantes, professores e funcionários compõem o movimento Democracia na PUC e afirmam que a nomeação de Anna é um ato anti-democrático. Tradicionalmente, é escolhido para o cargo o candidato mais votado. E é em favor dessa tradição que o movimento estudantil se ampara. 

Os estudantes defendem que o professor de Direito Dirceu de Mello, atual reitor, permaneça no posto, por ter recebido o maior número de votos. Em segundo ficou o professor de Economia Francisco Serralvo.

O cardeal afirma que sua decisão não viola o estatuto da universidade e que não é antidemocrática. Em texto publicado no jornal Folha de São Paulo, ele diz não esconder sua intenção de que a PUC-SP esteja “alinhada com os valores cristãos”, como acusavam integrantes do movimento estudantil. Eles afirmam que Scherer havia escolhido Anna, porque ela é católica e aproximaria a universidade dos interesses da Igreja. “Não dissimulo meu empenho para evidenciar e fortalecer na PUC-SP a sua identidade católica”, diz o cardeal, no texto.

A Fundasp ainda não se pronunciou sobre a liminar.

De acordo com a Agência Maurício Tragtenberg, órgão do curso de Jornalismo da PUC-SP, a greve poderá se encerrar amanhã, já que a universidade entrará em recesso.