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‘Estamos vendo o oprimido virar opressor, como dizia Paulo Freire’, avalia diretor

Menção ao mais influente educador brasileiro foi feita em evento que será realizado até amanhã na Praça da República

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Descolada da realidade dos alunos, em vez de valores éticos, educação passa apenas a formar ‘competitivos’

São Paulo – O simples aumento da escolaridade sem formação de cidadania, como verificado nos últimos anos na educação acentuou o conservadorismo e o sentimento de falta de solidariedade, disse hoje (16) o diretor de Ensino da Freguesia do Ó e Brasilândia (zona norte da capital paulista), César Nascimento, durante a Conferência Popular de Educação.

Desde ontem, o evento reúne professores, alunos, pais e representantes de movimentos sociais e sindicatos para debater temas como condições de trabalho e aprendizagem nas escolas públicas, financiamento da educação e valorização dos profissionais da educação na Praça da República, no centro. Organizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), a conferência segue até amanhã (17), com debates a partir das 9h.

“Hoje, muitos dos que eram pobres entraram na classe média, a renda aumentou e a escolaridade também mas, sem formação crítica, a cultura da humanidade, da solidariedade não aumentaram na mesma proporção”, disse. “Estamos como Paulo Freire dizia e vendo o oprimido se transformar em opressor”, completou, referindo-se ao educador e pedagogo que propunha uma educação baseada em diálogos com a realidade do aluno.

Nascimento reforçou que o desenvolvimento crítico não se dá apenas pela escolarização, mas pelo debate político e pela participação em movimentos sociais.

“A escola deve estimular esse debate e promover discussões sobre classes sociais, sobre o porquê da desigualdade. É preciso questionar os motivos pelos quais o aluno quer ascender socialmente”, disse. “Os professores e diretores também devem fazer esse debate.”

Na última sexta-feira (11), por exemplo, a diretora da Escola Estadual Marilena Chaparro, no Parque Anhanguera, zona oeste de São Paulo, chamou a polícia para reprimir um protesto de alunos contra o fechamento de salas-ambiente e de informática. Adolescentes de 12 a 16 anos foram vítimas de agressões com spray de pimenta. A diretora foi afastada do cargo e foi aberta uma investigação sobre a conduta dos soldados.

A abertura do evento, na noite de ontem, foi animada por um show do grupo musical Teatro Mágico. O vocalista, Fernando Anitelli, fez um apelo por tolerância frente ao momento político que o país enfrenta. “As manifestações são dignas, mas é importante prestar atenção se não estamos trazendo argumentos que são machistas, racistas ou homofóbicos para as manifestações. Nós, povo brasileiro, temos que estar juntos, com muito respeito e muita coragem.”

Outro tema debatido durante a manhã de hoje foram as denúncias de desvios de recursos destinados à merenda escolar pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

“Nós cobramos que Duarte Nogueira (secretário estadual de Transportes), Edson Aparecido (secretário da Casa Civil de Alckmin), o ex-secretário de Educação Herman Voorwald, e o atual, José Renato Nalini, comparecessem às cinco comissões da Assembleia Legislativa para prestar esclarecimentos, mas a oposição pediu vista dessa convocação para fazer uma manobra”, disse o deputado estadual Teonílio Barba (PT). “Pedimos aos movimentos sociais que nos ajudem a pressionar a Assembleia, especialmente às terças e quartas-feiras, para conseguirmos forçar a instalação da CPI.”