Deputados convidam reitor da USP para audiência pública

João Grandino Rodas prestaria esclarecimentos sobre prisão de 73 estudantes que ocupavam a reitoria contra a repressão policial e a presença da PM na USP

São Paulo – Por indicação do deputado Carlos Giannazi (PSOL), a Assembleia Legislativa do estado de São Paulo convidou o reitor da Universidade de São Paulo (USP), João Grandino Rodas, juntamente com a comunidade universitária, a participar de uma audiência pública no dia 28. O tema do evento seria a necessidade de se prestar esclarecimentos sobre os últimos acontecimentos no campus da universidade na zona oeste da capital paulista.

Neste semana, foram presos 73 pessoas – na maioria estudantes, e quatro funcionários da universidade. Uma diretora do sindicato dos trabalhadores da universidade, o Sintusp, dois integrandes do conselho diretor de base do sindicato estavam entre os detidos. O motivo da intervenção de 400 policiais militares e da Tropa de Choque foi a ocupação do prédio da reitoria em protesto justamente contra a presença e a atuação da Polícia Militar no campus.

Os funcionários da USP, em assembleia realizada na quinta-feira (10), decidiram fazer paralisação e participar massivamente da audiência. Segundo o diretor do Sintusp Magno de Carvalho, o reitor também deverá explicar sobre os inúmeros inquéritos policiais a partir de calúnias contra diretores do Sintusp e militantes do movimento estudantil e do sindicato.

Pesquisadores da USP, também indignados com os acontecimentos, divulgaram nota sobre seu posicionamento frente “à crise na universidade” (leia a íntegra abaixo). A audiência no dia 28 está marcada para as 13h, no auditório Franco Montoro.

Leia a íntegra:

Nós, pesquisadores da Universidade de São Paulo auto-organizados, viemos por meio desta nota divulgar o nosso posicionamento frente à recente crise da USP.

“No dia 8 de novembro de 2011, vários grupamentos da polícia militar realizaram uma incursão violenta na Universidade de São Paulo, atendendo ao pedido de reintegração de posse requisitado pela reitoria e deferido pela Justiça. Durante essa ação, a moradia estudantil (Crusp) foi sitiada com o uso de gás lacrimogêneo e um enorme aparato policial. Paralelamente, as tropas da polícia levaram a cabo a desocupação do prédio da reitoria, impedindo que a imprensa acompanhasse os momentos decisivos da operação. Por fim, 73 estudantes foram presos, colocados nos ônibus da polícia, e encaminhados para o 91º DP, onde permaneceram retidos nos veículos, em condições precárias, por várias horas.

Ao contrário do que tem sido propagandeado pela grande mídia, a crise da USP, que culminou com essa brutal ocupação militar, não tem relação direta com a defesa ou proibição do uso de drogas no campus. Na verdade, o que está em jogo é a incapacidade das autoritárias estruturas de poder da universidade de admitir conflitos e permitir a efetiva participação da comunidade acadêmica nas decisões fundamentais da instituição. Essas estruturas revelam a permanência na USP de dispositivos de poder forjados pela ditadura militar, entre os quais: a inexistência de eleições representativas para Reitor, a ingerência do governo estadual nesse processo de escolha e a não-revogação do anacrônico regimento disciplinar de 1972.

Valendo-se desta estrutura, o atual reitor, não por acaso laureado pela ditadura militar, João Grandino Rodas, nos diversos cargos que ocupou, tem adotado medidas violentas: processos administrativos contra estudantes e funcionários, revistas policiais infundadas e recorrentes nos corredores das unidades e centros acadêmicos, vigilância sobre participantes de manifestações e intimidação generalizada.

Este problema não é um privilégio da USP. Tirando proveito do sentimento geral de insegurança, cuidadosamente manipulado, o governo do Estado cerceia direitos civis fundamentais de toda sociedade. Para tanto, vale-se da polícia militar, ela própria uma instituição incompatível com o Estado Democrático de Direito, como instrumento de repressão a movimentos sociais, aos moradores da periferia, às ocupações de moradias, aos trabalhadores informais, entre outros. Por tudo isso, nós, pesquisadores da Universidade de São Paulo, alunos de pós-graduação, mestres e doutores, repudiamos o fato de que a polícia militar ocupe, ou melhor, invada os espaços da política, na Universidade e na sociedade como um todo.”