Com reitor indefinido, estudantes da PUC-SP decidem hoje se greve continua

Cardeal ignora decisão do Conselho Universitário e professores suspendem paralisação

São Paulo – Os estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) vão decidir hoje (13) em assembleia se continuarão a greve que paralisou a maioria dos cursos desde o dia 14 do mês passado. O encontro ocorrerá após a Fundação São Paulo (Fundasp), a mantenedora da universidade, ter informado que não respeitaria a decisão do Conselho Universitário (Consun) de anular a indicação da professora de Letras Anna Cintra à reitoria e que ela continuaria no cargo. O presidente da fundação é o cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, o grão-chanceler da universidade, a quem cabe nomear os reitores. Após ele optar por manter a indicação de Anna, a Associação de Professores da PUC-SP suspendeu sua greve.

A reunião ocorrerá hoje às 19h na quadra da sede da PUC, no bairro de Perdizes, zona oeste da capital paulista. O presidente do Centro Acadêmico (CA) 22 de Agosto, da Faculdade de Direito, André Tavares, disse que não pode prever se os estudantes votarão pela suspensão da greve. “Talvez não haja nem quorum para fazer qualquer votação”, comentou. Ele afirma, entretanto, que o movimento Democracia na PUC não acabou. “Mesmo que a greve acabe, há outras formas de manifestação. Vamos continuar com as aulas públicas, com as manifestações.”

Esta semana, os alunos decidiram impedir a presença de Anna na sala de reitoria. “Nossa conversa não é mais com a Anna Cintra. Isso acabou. Nós não a reconhecemos como reitora e não vamos aceitá-la. A discussão agora é no plano judicial.”

Os professores deverão retomar suas atividades nesse final de ano letivo, ministrando as últimas aulas, aplicando avaliações e lançando notas. Segundo alguns estudantes, hoje, entretanto, não houve aulas em várias faculdades.

Em nota divulgada à imprensa, a Fundasp afirma que a decisão do Consun é “no mínimo incoerente”, já que suspendeu a lista tríplice 90 dias após tê-la homologado em unanimidade. “A nomeação da Profa. Anna Maria Marques Cintra está mantida, pois foi feita pelo seu grão-chanceler, a quem compete essa prerrogativa, em estrita observância às normas estatutárias”, diz o texto.

Na terça-feira (11), a Justiça de São Paulo havia concedido liminar que garantia a resolução do Consun de suspender a posse de Anna. A decisão havia sido tomada no final do mês passado, um dia antes da posse, e durava até ontem (12), quando os conselheiros se reuniriam para votar um recurso apresentado pelo CA 22 Agosto, que pedia a desconstituição da lista tríplice de candidatos à reitoria. De fato, a reunião ocorreu, e os conselheiros atenderam o pedido dos estudantes. O cardeal não havia aceitado a suspensão decidida na primeira reunião, assim como não aceitou a última decisão.

No estatuto da PUC, ele é o responsável por nomear os reitores, a partir dessa lista tríplice de candidatos aos cargos votados pela comunidade universitária, entre estudantes, professores e funcionários. Por direito, ele pode escolher qualquer um deles, mas, tradicionalmente, sempre indicou o candidato mais votado. Nas eleições deste ano, contudo, nomeou a menos votada, o que provocou a greve geral e a existência do movimento “Democracia na PUC-SP”.