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Contra reorganização em SP, alunos e professores boicotam avaliação

Para presidenta do sindicato dos professores, momento é inadequado para aplicação de provas. Governo lança campanha de R$ 9 milhões para justificar a reorganização

reprodução/Saresp

Alunos entregam prova do Saresp em branco “para mostrar que o nosso futuro é a gente que vai escrever”

São Paulo – Após as ocupações de escolas por alunos, o novo capítulo da luta contra a reorganização do ensino do governo Alckmin é o boicote ao Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar de São Paulo (Saresp). O exame não é obrigatório para os estudantes, nem vale nota no boletim, mas é usado para calcular o bônus nos salários de professores e diretores, além de dar uma medida do desempenho das escolas e da qualidade do ensino. As provas foram agendadas para ontem (24) e hoje para 1 milhão e 200 mil estudantes da rede estadual paulista, mas professores e alunos se uniram contra a sua aplicação.

Nas cerca  de 150 escolas ocupadas até a noite de ontem, não houve prova e, nas escolas em atividade, muitos estudantes anularam o exame marcando duas ou mais respostas em cada questão, deixando a prova em branco, ou ainda escrevendo frases de protesto na folha de gabarito.

Reportagem de ontem (24) do Seu Jornal, da TVT, traz vídeo gravado na escola Lauro Ferreira de Camargo, em São Bernardo do Campo, na região do ABC, e divulgado pelas redes sociais, em que os alunos denunciam a farsa da avaliação. “O Saresp nada mais é que um processo para mostrar que o governo ‘trabalhou bem’ por um ano. Nós sabemos que isso é muito falho e a gente quer fazer um boicote entregando a prova em branco para mostrar que o nosso futuro é a gente que vai escrever”, declara o aluno Alexandre Ribeiro.

A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, lembra que os professores decidiram, em assembleia realizada no último dia 29 que, segundo ela, contou com a presença de 30 mil trabalhadores, boicotar o exame. Para Bebel, o momento é inapropriado para aplicação das provas devido às incertezas decorrentes do processo de reorganização. Ela questiona se as notas de professores e alunos transferidos para outras unidades valerão para a nova ou a antiga unidade.

Júlio César Máximo, aluno da escola Diadema, a primeira a ser ocupada pelos estudantes, há cerca de 15 dias, diz que o Saresp “é uma baboseira do governo, que quer saber se o ensino que eles colocam é bom, só que a gente sabe que o ensino é péssimo”. Segundo ele, os alunos continuam organizados e sem data para deixar a escola.

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A reportagem da TVT mostra ainda que, em vez de convocar a comunidade escolar para discutir a reorganização da rede pública de ensino, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) optou por gastar R$ 9 milhões em recursos públicos com uma campanha publicitária na TV para defender o pacote de medidas que vai fechar ao menos 93 unidades de ensino, deslocar cerca de 311 mil alunos para outras escolas, superlotar salas ainda mais, demitir professores etc. O valor foi confirmado pela assessoria de imprensa do governo.

No filme, a animação informa que a reorganização vai criar mais de 750 escolas com ciclo único, o que na avaliação do governo paulista vai melhorar a qualidade do ensino. De acordo com o filmete, os alunos vão aprender mais e os professores vão ter menos movimentação entre as escolas.

A assessoria de imprensa da gestão Alckmin diz se tratar de uma campanha de utilidade pública, com respostas às perguntas mais frequentes da comunidade escolar. Contudo, nada é falado em relação às escolas que serão fechadas, nem sobre superlotação das salas de aula, nem sobre possíveis demissões de professores e de outros trabalhadores da educação, impactos diretos da reorganização.

Minas Gerais

Também na TVT:  em Belo Horizonte, alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais, um dos colégios mais tradicionais da cidade, decidiram adotar a forma de luta dos colegas paulistas e ontem (24) pela manhã, ocuparam a escola, exigindo reforma na estrutura do prédio e declarando solidariedade ao movimento de São Paulo.