Volta às aulas

Acordo entre estudantes e reitoria suspende ocupação do Instituto Federal de Brasília

Em troca da desocupação, IFB vai realizar semana especial de debates e promete encaminhar reivindicações de todos os alunos

Mídia Ninja

Há um mês, estudantes alunos ocupavam o IFB contra a PEC 55, a reforma do ensino médio e a lei da mordaça

São Paulo – O Conselho Superior do Instituto Federal de Brasília (IFB) e os estudantes que ocupavam alguns dos campi desde 22 de outubro firmaram acordo para a total desocupação a partir de hoje (22). Os alunos se comprometeram a liberar os acessos de todas as instalações e não voltar a ocupá-las, e a eles foi assegurada a recuperação de conteúdos e avaliações.

Os manifestantes obtiveram ainda o compromisso da realização de uma semana de estudos e discussões sobre suas reivindicações. Eles querem a retirada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55 – antiga 241 –, da Medida Provisória (MP) 746, que fragmenta e reduz o currículo do ensino médio, e são contra projetos de lei que criminalizam o debate na escola, a chamada lei da mordaça.

A semana, que será considerada atividade acadêmica, terá sua programação definida por diretores das unidades e pelos estudantes. Deverão ser realizadas palestras com representantes do Ministério Público, do Senado, dos ministérios do Planejamento e da Educação e de segmentos sociais.

“Com o acordo, buscamos contemplar as reivindicações dos estudantes manifestantes com as necessidades dos demais”, disse o reitor, Wilson Conciani. “O objetivo é permitir o acesso a todos os estudantes ao mesmo tempo em que as reivindicações dos manifestantes possam ser debatidas. Queremos ouvir a todos, inclusive aqueles que queriam ocupar, mas não tiveram coragem, e os que não concordavam com as ocupações.”

Nesses 30 dias de ocupação, parte das unidades teve aulas interrompidas e os servidores dificuldades de acesso por alguns dias. Porém, a ocupação da reitoria, no último dia 11, atrapalhou as atividades rotineiras do instituto, segundo o reitor. “A gente precisava ter a reitoria desocupada. Em uma escola há pluralidade de ideias. Construir o processo educacional significa ensinar respeito, tolerância, resolver conflitos.”

Conciani considera a ocupações uma nova maneira de manifestação social. “Algo novo, em que grupos possam manifestar sua opinião. Elas geram tensão, não se pode negar, mas nos levam a sentar para ouvir o que está sendo colocado. Tivemos alguns dias de maior tensão, seja na reitoria ou nos campi; há muitas pessoas com visões diferentes. E essas ideologias se confrontam num momento de tensão de maneira mais intensa. É de fato um grande exercício de cidadania para a gente aprender a conviver, a defender nossas ideias, defender aquilo em que a gente acredita, sem que precisemos matar as ideias ou as pessoas”, disse.

UnB

O Diário Oficial da União publicou hoje (22) a nomeação da nova reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão. Ela é a primeira mulher eleita reitora na instituição. Com graduação (1986), mestrado (1993) e doutorado (1998) em Geologia pela UnB, cursou pós-doutorado na Queen’s University, no Canadá. Professora que dirigia o Instituto de Geologia, Márcia é pesquisadora do CNPq e membro do Programa de Pós-Graduação em Geologia.

A nomeação ocorre em meio a disputas judiciais. Ontem, o Ministério Público Federal em Brasília (MPF-DF) entrou com recurso na 4ª Vara da Justiça Federal, da qual o juiz federal Itagiba Catta Pretta havia determinado a desocupação imediata de 15 áreas ocupadas na universidade Federal de Brasília (UnB).

No entanto, o reitor em exercício, Luís Afonso Bermúdez, havia emitido ofício aos estudantes pedindo a saída voluntária no prazo de 36 horas. A reitoria continua ocupada.

No recurso, o MPF considera que a reintegração de posse afasta da discussão processual todos os demais interessados da comunidade acadêmica (alunos, professores, servidores, centros acadêmicos, departamentos, reitoria), além dos líderes dos movimentos de ocupação e de desocupação.