Escândalo sem fim

TCU barra compra de ônibus suspeita de superfaturamento pelo MEC

Tribunal de Contas da União suspende licitação de veículos escolares até que sejam investigadas denúncias de sobrepreço envolvendo pessoas próximas ao presidente Bolsonaro

Arquivo/FNDE
Arquivo/FNDE
Cada ônibus que o governo quer comprar custa aproximadamente R$ 270,6 mil. Mas o MEC sob Bolsonaro está disposto a pagar até R$ 480 mil

São Paulo – A compra de ônibus escolares pelo Ministério da Educação (MEC) com suspeitas de superfaturamento foi barrada hoje (5) pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A decisão é provisória e vale até que sejam apuradas as denúncias feitas no sábado (2) pelo jornal o Estado de S. Paulo. Na decisão, o ministro Walton Alencar pediu também que sejam prestados depoimentos por funcionários do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão que financia a compra dos veículos.

Ao todo, em ano eleitoral, o governo Jair Bolsonaro pretende comprar 3.850 veículos para serem destinados ao transporte de alunos da rede público de municípios das áreas rurais. O preço de mercado de cada um deles é de aproximadamente R$ 270,6 mil. Mas na licitação, a previsão é de pagar até R$ 480 mil a cada unidade. Uma diferença de 55%. Com isso, ao fim da licitação, que chegaria a R$ 2,045 bilhões, o governo gastaria um excedente de R$ 732 milhões em relação ao custo real dos veículos.

Também de acordo com o Estadão, um dos diretores do órgão, Garigham Amarante, indicado por Valdemar da Costa Neto (presidente do PL, de Ciro Nogueira e Jair Bolsonaro), atuou na definição dos valores superestimados. Em ao menos dois despachos, ele determina o prosseguimento do processo. Com pequenos ajustes, mas mantendo os preços inflados, apesar dos alertas de sobrepreço.

Oposição quer acelerar a criação de CPI do MEC e centrão tenta barrar

Órgão de fiscalização do próprio FNDE havia alertado a área técnica para problemas na licitação. Em parecer, sustenta que “a discrepância das cotações apresentadas pelos fornecedores em relação ao preço homologado do último pregão, do ano passado, […] implica em aumento não justificado do preço, sem correspondente vinculação com as projeções econômicas do cenário atual”.

A denúcia de superfaturamento na compra de ônibus escolares agrava a crise no MEC. Uma das pastas mais importantes do governo está mergulhada em escândalo há quase um mês, desde que veio à tona a existência de um suposto esquema de desvio de recursos da educação para municípios intermediado por pastores ligados ao presidente Jair Bolsonaro.

O então ministro e pastor, Milton Ribeiro, tinha conhecimento das negociações e chegou a dizer, em áudio que vazou à imprensa, que cumpria ordens do presidente Bolsonaro. Foi demitido na semana passada mas os escândalos continuam.