Mobilização

Organização e união da comunidade marcam dia a dia de ocupações de escolas

Da limpeza à preparação dos alimentos, todas as tarefas são dividas e as decisões tomadas em conjunto. Reportagem da TVT mostra luta de alunos, pais e professores de escola de Mauá

reprodução/TVT

Comunidade escolar se une para evitar fechamento do ensino médio na E.E. Maria Aparecida Damo Ferreira

São Paulo – Em todo o estado de São Paulo, cresce a luta dos estudantes contra o projeto de reorganização do governo Alckmin, que pretende separar as escolas por ciclo e fechar ao menos 93 unidades. Segundo os estudantes, já são quase 200 escolas são ocupadas.

A reportagem do Seu Jornal,da TVT, acompanhou o dia a dia de uma das escolas ocupadas, a  Maria Aparecida Damo Ferreira, em Mauá, na grande São Paulo. A ocupação foi o último recurso usado pelos estudantes para tentar reverter a reorganização planejada pelo governo estadual que, sem nenhum debate com a comunidade, determinou o fechamento do ensino médio para o próximo ano letivo.

Antes de ocuparem, os alunos fizeram protestos, manifestações e pediram reuniões com a Delegacia Regional de Ensino durante três meses, em vão. “O estado não (nos) ouviu, como sempre”, conta um dos estudantes à repórter Vanessa Nakasato. “Essa escola aqui, na verdade, é uma das melhores de Mauá. Tem escolas que não têm necessidade de serem reorganizadas”, afirma Giovana Pereira dos Santos, estudante do ensino médio.

A escola Maria Aparecida Damo Ferreira foi ocupada na última quinta-feira (19) por alunos do ensino médio e do ensino fundamental, a segunda das três que aderiram aos protestos em Mauá. Cerca de 60 alunos vêm para escola durante o dia e 20 se revezam à noite nas salas que a direção do colégio deixou sem energia elétrica. As mães também entram no rodízio.

Em uma das salas onde os adolescentes dormem, são muitos os colchões espalhados pelo chão, mas que ainda assim não dão conta de acomodar todos os alunos. Muitos deles acabam improvisando camas em cima das carteiras, como Tainá, que dorme nessas condições desde o primeiro dia da ocupação.

Durante o dia, a escola fica aberta. Alunos, pais, professores, pessoas da comunidade dispostas a ajudar dividem as tarefas. Enquanto uns limpam, outros cozinham. “Nunca fica ninguém parado. Todos trabalhando sempre, ajudando no quer for preciso”, conta o aluno Vitor Hugo, de 15.

No momento da visita da reportagem, a mãe de filhos que estudam na escola preparava a comida, auxiliada por outros estudantes. Segundo ela, a escolha do cardápio é feita segundo decisão da maioria.

Os alimentos consumidos pelos estudantes são doados pelos pais e pela comunidade. “Os pais estão doando, os mercados estão doando. Eles têm muita coisa e estão dividindo com outras escolas que estão sendo ocupadas. Acho muito bonito o que eles estão fazendo. A união deles aqui dentro é muito bonita”, relata a mãe Ana Cristina Moura.

Os estudantes têm contado com apoio de muita gente, mas eles já perceberam que alguns só querem pegar carona no movimento. “Eles vêm aqui, entram, tiram foto e postam no Face”, descreve Lucas Machado Tavares, ex-aluno que participa dos esforços da ocupação. “Nós não queremos política, porque essa causa é dos alunos”, diz ele.

“Toda ajuda é bem-vinda. A gente quer a ajuda de ser humanos com a gente, mas não de bandeiras, de partido. É a luta dos estudantes. A gente luta pela nossa escola. Quem quiser lutar com a gente, venha, mas sem bandeira nenhuma”, afirma a aluna Nathália Farias, de 16 anos.