CONSEQUÊNCIAS

Gestão da economia torna Brasil mais exposto a efeitos do conflito entre Rússia e Ucrânia

Com desemprego elevado e renda em baixa, economia comandada por Guedes e Bolsonaro fragiliza mercado interno e deixa Brasil refém dos humores internacionais

Anderson Riedel/PR
Anderson Riedel/PR
Altas persistentes de petróleo e alimentos anulam chance de alívio da inflação brasileira

São Paulo – Os efeitos das crises externas na economia do Brasil tendem a ser maiores quanto maior for a subordinação do país ao mercado global. Tal como ocorre com a política de preços dos combustíveis e com a prioridade às exportações de commodities. Além disso, o desemprego elevado há pelo menos seis anos e a renda média do brasileiro em patamar muito baixo fragilizam o mercado interno. Assim, esse modelo é incapaz de assegurar ao país maior autonomia econômica em relação a crises globais. Esse cenário, desenhado pelo golpe de 2016, se agravou com a gestão do ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes.

Por isso, a decisão da Rússia de realizar operação militar na Ucrânia, na madrugada desta quinta-feira (24), pode render efeitos à economia do Brasil. Especialmente em razão da repercussão do conflito na Europa, pois países do Ocidente prometem sanções econômicas contra os russos. Desse modo, especialistas alertam que elas devem respingar além das fronteiras do Leste Europeu, afetando o setor de petróleo e gás, por exemplo.

A Rússia é o principal exportador e segundo maior produtor de gás natural do mundo. É ainda o segundo maior exportador e terceiro maior produtor de petróleo global, respondendo por cerca de 12% da oferta global. Diante disso, sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia podem pressionar o preço da energia, direta e indiretamente. O conflito pode provocar a interrupção do comércio euro-russo de combustíveis e os europeus terão que procurar energia em outra parte. Assim, o mercado mundial que ficará mais apertado e caro.

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Um eventual abalo nas cadeias de produção e de financiamento de óleo e gás no país pode causar impactos diretos na oferta dessa commodity em todo o mundo. O preço do barril de petróleo, por exemplo, atingiu nesta manhã seu mais alto valor em sete anos, chegando a US$ 97,70 o barril.

A operação militar especial ordenada pelo presidente russo, Vladimir Putin, tem como alvo a região de Donbass, onde ficam as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (RPD e RPL, respectivamente). Putin garantiu que a Rússia não tem a intenção de ocupar a Ucrânia, mas já havia reconhecido a independência autodeclarada por essas repúblicas.

Inflação

Apesar de o dólar fechar no Brasil a R$ 5 nesta quarta (23) – menor cotação da moeda americana desde 30 de junho de 2021 –, as altas persistentes de petróleo e alimentos anulam o possível alívio e evitam que a inflação brasileira ceda. De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta preços de petróleo, gás natural, grãos e óleo de cozinha, pelo menos, encarecendo alimentos também no Brasil.

Somadas, as produções e vendas nos mercados internacionais, Rússia e Ucrânia respondem por quase 30% das exportações mundiais de trigo. Uma redução ou mesmo interrupção da oferta dessa parcela da commodity tem impacto direto sobre diversas cadeias de alimentos. Já cotação mais alta do barril do petróleo acelera os preços dos combustíveis, enquanto trigo e fertilizantes valorizados impulsionam os custos dos alimentos por aqui.

Outro tipo de impacto indireto que a economia brasileira pode sofrer das sanções econômicas impostas pelo Ocidente à Rússia está nos preços dos ativos. De acordo com Igor Graminhani, analista da Genial Investimentos, em entrevista ao portal UOL, as sanções ampliam as incertezas que já existem entre empresas e investidores sobre o desenrolar desse conflito e os impactos na economia global. E quando há dúvidas nos mercados, tradicionalmente, as moedas fortes, como dólar, os metais valiosos, como ouro, e mesmo ativos de renda fixa de governos de países mais desenvolvidos, como os títulos do tesouro americano, passam a ser mais procurados pelos investidores globais. “Na ponta contrária, as moedas, as ações e outros ativos de países de economias emergentes, como é a brasileira, passam por ondas de vendas”, disse.