Avião na pista

Lula aponta ‘obsessão’ com crescimento e emprego, reclama de juros e vai discutir política de preços da Petrobras

Presidente faz balanço otimista do início de governo, enfatiza programas sociais e afirma que governo trabalha para atrair investimentos e ampliar crédito

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Em conversa com jornalistas, Lula afirmou que ainda não há decisão sobre política de preços da Petrobras, contrariando declaração de ministro

São Paulo – Em conversa com jornalistas na manhã desta quinta-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sua primeira “obsessão” deu certo: a retomada das políticas sociais. Ao apresentar um balanço dos 100 dias iniciais de governo, que se completarão na próxima segunda (10), Lula falou sobre a segunda obsessão, o crescimento econômico e a criação de empregos. Ele voltou a reclamar dos juros e disse que a política de preços da Petrobras ainda será objeto de discussão interna.

“Estou convencido de que vamos consertar o país. Eu estou mais do que satisfeito com o que conseguimos projetar nesses 100 dias. Eu não esperava que a gente conseguisse colocar o avião na pista com tanta rapidez”, disse Lula ao apresentar balanço em café da manhã com profissionais da comunicação. “Minha obsessão nos primeiros três meses era retomar as políticas sociais que deram certo nesse país. A minha obsessão agora é com o crescimento e com a geração de empregos, e tenho certeza de que vamos conseguir sucesso”, acrescentou Lula.

Circulação de dinheiro

Nesse sentido, ele disse que o governo está trabalhando para aumentar a oferta de crédito e investimentos, internos e externos. E aproveitou para se queixar novamente da taxa de juros, mesmo com a ressalva de que não vai ficar “brigando com o presidente do Banco Central”, Roberto Campos Neto.

“Somente com a circulação de dinheiro é que vamos retomar o crescimento da economia. Não existe outro milagre, não existe outra possibilidade”, disse Lula. “Não é possível que você possa estabelecer crédito com taxa de juros acima de 15%, 16%, 17%, 18%. Tem gente pagando 30% no mercado para fazer investimento. Não é possível o Brasil continuar assim”, criticou.

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Petrobras e a política de preços: PPI ou PCI?

Lula afirmou aos jornalistas que ainda não há definição sobre uma possível nova política de preços da Petrobras. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, declarou em entrevista que a estatal mudaria sua política, de PPI (preço de paridade de importação) para o que ele chamou de PCI (preço de competitividade interna). As afirmações causaram mal-estar na Petrobras.

O próprio Lula disse ter ficado surpreso com a entrevista. Segundo ele, uma eventual mudança será discutida apenas “no momento em que o presidente convocar uma reunião” sobre o assunto. Mas acrescentou que o Brasil não deve ficar submetido a uma política que condiciona o preço dos combustíveis a fatores externos. Além disso, afirmou que a Petrobras não pode continuar distribuindo dividendos a acionistas e não fazer investimentos no país.

Mudança de ritmo

Ao citar políticas como o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), o presidente observou que o efeito na economia ainda não aconteceu por terem sido lançados recentemente. “Quando todos os programas começarem a funcionar, a gente vai ter uma mudança no ritmo da economia brasileira”, ressaltou Lula em seu balanço, anunciando nova fase do governo a partir de segunda, com mais condições de atrair investimentos e, consequentemente, proporcionar crescimento econômico.

Um dos setores que preocupam o governo é o industrial, que vem perdendo participação na economia brasileira. Lula citou especificamente a indústria automobilística, que tem reduzido sua produção nos últimos anos. Recentemente, várias montadoras anunciaram férias coletivas e outras medidas, queixando-se da falta de componentes e também das altas taxas de juros.

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Política de crédito

Na volta da viagem à China, programada para a semana que vem, Lula disse que a prioridade do governo será discutir uma política de crédito para diversos setores. Entre eles, pequenos e médios empreendedores e empresários, cooperativas, agronegócio e agricultura familiar.

“Não vamos privatizar empresas para trazer dinheiro”, disse o presidente. Ele citou a retomada de obras paralisadas desde 2016 e possíveis oportunidades no saneamento básico, a partir da atualização do marco regulatório, anunciada ontem. E voltou a falar sobre “inclusão do pobre no orçamento” como medida importante para a economia, além de mudanças na política tributária, para que quem ganha mais também pague mais.

“Não existe muito milagre, não existe invenção. Em economia não tem mágica. Tem três palavras que considero as coisas mágicas da economia: estabilidade, credibilidade e previsibilidade. Se a gente conseguir estabelecer o funcionamento dessas três palavras, a economia volta a crescer como no período em que fui presidente da República”, afirmou. “Não discutimos as mazelas da economia. Temos que discutir o que vamos fazer para mudar.  Essa é a nossa tarefa.”