Hora de abrasileirar

Corte internacional de produção fará Petrobras rever política de preços

Após anúncio de corte 1,6 milhões de barris por dia, a partir do mês que vem até o final do ano, preços do petróleo voltam a subir, ameaçando a inflação no Brasil

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“Fica evidente que o petróleo não é uma commodity, mas parte de um preço estratégico", diz analista

São Paulo – A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) confirmou nesta segunda-feira (3) um corte de produção de até 1,6 milhão de barris por dia dos países do grupo. A medida vale a partir de maio e vai até o final de 2023. O Ministério de Energia da Arábia Saudita havia anunciado ontem que vai realizar um corte voluntário de 500 mil barris por dia, a partir do mês que vem. Diante dessa decisão, contratos futuros de petróleo brent escalaram mais de 7%, com o barril chegando a ultrapassar os US$ 85. Na prática, a decisão pode afetar a política de preços da Petrobras.

Nesse sentido, o cartel formado pelos grandes exportadores – como Arábia Saudita, Rússia, Emirados Árabes Unidos – ensaiam uma reação diante da queda recente do preço do petróleo no mercado internacional.

“Eles estão mostrando que o cartel de produtores está vivo e disposto a manter regulado o preço internacional do petróleo, sem baixas expressivas”, afirmou o pesquisador Adhemar Mineiro, do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). Para ele, “fica evidente que o petróleo não é uma commodity, mas parte de um preço estratégico, que é o da energia. Assim, tem de ser administrado em função de uma estratégia de desenvolvimento”, disse ele.

Um ano atrás, em função da guerra na Ucrânia, o barril do brent chegou a US$ 130. No entanto, no mês passado, os preços caíram para o nível mais baixo desde dezembro de 2021. A queda se dá em função do aperto nos juros nos Estados Unidos e na Europa. Além disso, investidores também temem o aprofundamento da crise bancária nos países centrais.

Estratégia de desenvolvimento

Agora, de acordo com Mineiro, a alta nos preços pode ser um pouco menor do que 10%, “mas isso ainda terá que ser verificado”. Outros analistas do mercado dizem que o brent pode voltar a ultrapassar a marca dos US$ 100. No Brasil, essa nova alta representaria um novo repique na inflação, a partir da elevação dos preços dos combustíveis, que têm impacto disseminado em toda a economia.

Além disso, a alta dos preços serviria de pretexto para o Banco Central não reduzir a taxa básica de juros (Selic), fixada em 13,75% ao ano desde agosto. Em último caso, os juros poderiam até mesmo subir, dificultando ainda mais esforços do governo na retomada da economia.

Desse modo, o Ineep destaca em nota que cada país deve discutir os preços do petróleo e da energia em função das estratégias de desenvolvimento. “Deixar os preços praticados no Brasil flutuarem ao sabor dos movimentos internacionais é perder o papel de protagonista e ficar à mercê da estratégia de outros países”.

Assim, o instituto – ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP) – afirma que é “fundamental” retomar a discussão sobre mudanças na política de preços da Petrobras. A estatal segue aplicando o Preço de Paridade de Importação, que dolarizou os custos de produção dos combustíveis no Brasil, desde 2016.

Desbolsonarização

Durante a campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu “abrasileirar” os preços dos derivados de petróleo no Brasil. No início de março, o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que os preços determinados pelo PPI vai valer apenas para os combustíveis importados.

No entanto, segundo Prates, mudanças mais profundas devem ocorrer apenas a partir do final deste mês. Os novos diretores indicados pelo governo atual tomaram posse somente na semana passada. No entanto, o Conselho de Administração (CA) da empresa ainda é composto por bolsonaristas. No final do mês, os acionistas se reúnem para aprovar a nova composição do CA. Somente a partir daí, é que o novo governo toma efetivamente as rédeas da companhia.