Nova ordem

Guerra na Ucrânia marca fim da globalização, diz CEO da maior gestora mundial de ativos

Larry Fink, da BlackRock, enfatiza que conflito na Europa “derrubou a ordem mundial” em vigor desde o fim da Guerra Fria

Reprodução
Reprodução
O Touro de Wall Street representa um mercado financeiro “pujante” que nunca será mais o mesmo

São Paulo – Larry Fink, CEO da BlackRock, considerada a maior gestora de ativos do mundo, que administra investimentos de US$ 10 trilhões, o equivalente a cerca de metade do PIB dos Estados Unidos, prevê que os esforços para punir a Rússia pela guerra na Ucrânia levarão ao desmoronamento da globalização.  “A invasão russa da Ucrânia pôs fim à globalização que experimentamos nas últimas três décadas”, disse Fink na quinta-feira (24) em carta dirigida aos investidores.

“Já tínhamos visto a conectividade entre nações, empresas e até pessoas tensionadas por dois anos de pandemia. Isso deixou muitas comunidades e pessoas se sentindo isoladas e voltadas para ‘dentro'”, disse. Esse estado de coisas, na visão de Fink, “exacerbou a polarização e o comportamento extremista que estamos vendo na sociedade hoje”.

Para o presidente-executivo da BlackRock, as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia levarão “empresas e governos a estudar de forma mais ampla sua dependência de outros países”. Isso, avalia, pode levar as empresas “a colocar mais de suas operações no país (de sua) sede ou próximo, resultando na retirada mais rápida de alguns países”.

Efeitos inflacionários globais

A transferência de mais operações das empresas para seus países de origem ou vizinhos levaria a custos e preços mais altos, já que as empresas se afastariam de suas cadeias de suprimentos globais, destacou Fink. “Uma reorientação em larga escala das cadeias de suprimentos será inerentemente inflacionária”, escreveu ele na carta.

O executivo é enfático ao dizer que a guerra na Europa “derrubou a ordem mundial” em vigor desde o fim da Guerra Fria. A BlackRock, por exemplo, deverá se ajustar com “mudanças estruturais de longo prazo”, como “desglobalização” e inflação mais alta, prevê. Ele acrescentou que os bancos centrais terão que aceitar o aumento da inflação ou a redução da atividade econômica e do emprego.

As opiniões de Fink foram divulgadas nos mais importantes veículos de mídia do mundo, de oeste a leste do planeta. O Russia Today, por exemplo, afirma que “o bilionário exerce tanta influência financeira que seus pensamentos podem, até certo ponto, ser autorrealizáveis”.

Fink prevê que a crise na Ucrânia deve acelerar o desenvolvimento de moedas digitais e a substituição mais rápida dos combustíveis fósseis. “As ramificações desta guerra não se limitam à Europa Oriental”, disse. “Estão sobrepostas a uma pandemia que já teve efeitos profundos nas tendências políticas, econômicas e sociais. O impacto vai reverberar nas próximas décadas de maneiras que ainda não podemos prever.”

Alternativas

“Embora Fink e os líderes russos não estejam de acordo sobre o conflito na Ucrânia – o gestor do dinheiro culpa Moscou pela crise –, eles concordam que a ordem mundial está mudando. O presidente russo, Vladimir Putin, disse na semana passada que as sanções contra Moscou marcam o fim de uma era, anunciando o fim do ‘domínio global’ do Ocidente, tanto política quanto economicamente. O ex-presidente Dmitry Medvedev ecoou esses comentários esta semana, dizendo: “O mundo unipolar chegou ao fim”, diz o RT, pró-Kremlin.

Ainda no início da guerra, o economista Márcio Pochmann afirmou à RBA que, em sua opinião, “a ordem mundial que se estabeleceu em 1991, com o desmembramento da União Soviética e o fim da Guerra Fria, cai por terra”, com a guerra da Ucrânia. Para ele, as sanções poderiam incentivar outro sistema monetário.

Pochmann ponderou que, se a predominância do dólar continua inquestionável, “o embrião de uma nova ordem começa a se colocar no mundo”. Mudar as reservas em dólar para ouro e criptomoedas, como bitcoin, são alternativas, disse.