Economia popular

Petroleiros vendem gás mais barato à população: ‘Imagine se as refinarias forem privatizadas?’

Em ação solidária, sindicatos comercializaram botijões com preços subsidiados, por menos da metade do praticado pelo mercado

FUP
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São Paulo – Entre as ações promovidas nesta semana pelos petroleiros, como parte de uma mobilização contra a política da empresa, de cortes e transferência de pessoal, incluiu-se uma pequena atividade de economia popular, com a venda subsidiada de gás de botijão, produto cuja alta do preço vem atingindo setores de menor renda da população. Trabalhadores comercializaram 200 botijões em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, vendidos pelo valor de R$ 30, menos da metade do valor de mercado.

Segundo acompanhamento periódico da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do botijão de 13 quilos atingiu R$ 68,77 em outubro, mas esse valor foi bem maior em alguns estados, como Mato Grosso (R$ 95,97) e Acre (R$ 80,14). Em São Paulo, a média é de R$ 67,19. Em cinco anos, o aumento foi de aproximadamente 55%, quase o dobro da inflação do período (INPC).

De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o objetivo da ação era “alertar a população sobre os prejuízos causados pela política de privatização” da Petrobras. A atividade foi organizada pelos sindicatos do Norte Fluminense e do Espírito Santo. Em Linhares (ES), a entidade iria promover descontos de R$ 40 para os 100 primeiros motoristas que abastecessem seus veículos com gasolina ou diesel em um postos à beira da Rodovia BR 101.

“As ações ocorreram no dia em que a direção da Petrobrás anunciou o segundo aumento no preço da gasolina em menos de uma semana. O litro do produto nas refinarias ficou 4% mais caro, em função da disparada do dólar”, lembra a FUP. “Os preços subsidiados pelos sindicatos poderiam ser praticados pela Petrobrás, se o compromisso da empresa e do governo fosse com o povo brasileiro e não com os acionistas privados e o mercado financeiro. A defesa de preços justos para os derivados de petróleo está diretamente ligada à luta da FUP e de seus sindicatos por uma Petrobrás pública e indutora do desenvolvimento nacional”, afirma ainda a federação, segundo a qual desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, “a estatal vem sendo gerida como empresa privada, com suas unidades sendo vendidas a toque de caixa, no maior processo de desmonte da história do setor petróleo”.

Produto básico

De acordo com a FUP, em 2014 o barril do petróleo valia US$ 100 e o litro da gasolina custava menos de R$ 3. Atualmente, com preço médio do barril na casa dos US$ 70, o preço do litro chega a ultrapassar R$ 5. “Imagine se as refinarias forem privatizadas?”, questiona a entidade. Durante mais de uma década, houve congelamento no preço de revenda da Petrobras. Os reajustes recomeçaram em 2015. Em 2017, por exemplo, para uma inflação de 2,07%, o preço médio do produto aumentou quase 20%, segundo a ANP. Mas apenas os sucessivos reajustes da Petrobras, como parte de uma nova política da empresa, somaram 67,86% na etapa de produção.

O chamado GLP (sigla que remete ao nome técnico, gás liquefeito de petróleo) é o derivado de petróleo de maior consumo no país – está presente na grande maioria dos domicílios, usado para cozinhar alimentos. Uma resolução de 2005 do Ministério de Minas e Energia reconhece que o chamado GLP “tem elevado impacto social, posto que o seu custo de aquisição afeta a parcela da população brasileira de menor poder aquisitivo”. E lembra que a lei “estabelece como um dos princípios fundamentais da Política Energética Nacional a proteção dos interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos”.

O incremento do GLP mudou hábitos de consumo. De acordo com um estudo da ANP, em 1993, dos domicílios com fogão, 12% tinham a lenha como combustível e 83%, o gás de cozinha. Em 2014, o GLP correspondia a 94% do total e a lenha, a apenas 2%. Um hábito que pode estar de volta, com o aumento de preços de um produto básico.

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