"balbúrdia"

Ministro da Educação de Bolsonaro recusa diálogo com estudantes

Abraham Weintraub leva audiência na Câmara a confusão ao barrar intervenções de dirigentes da UNE e da Ubes, expulsos à força do plenário

Marianna: 'Por que a gente que quer falar é tratada desta forma? A gente veio dialogar com o ministro e é tratado deste jeito'

São Paulo – “Eu não quero falar com a UNE nem com a Ubes. Eles não foram eleitos”, disse, em tom de desdém, o ministro da Educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub. Ele e a equipe do governo se recusaram a ouvir o movimento estudantil durante audiência pública realizada hoje (22) na Câmara dos Deputados. Após a fala, a polícia legislativa tentou retirar a força os estudantes do local do debate, o que provocou reação da oposição.

Após a tentativa da oposição de garantir a palavra aos estudantes, Weintraub saiu escoltado da audiência, o que provocou o fim da sessão. “Tá fugindo?”, questionou a presidenta da UNE, Marianna Dias. “A gente não é bandido, não. Por que a gente que quer falar é tratada desta forma? A gente veio dialogar com o ministro e é tratado deste jeito”, continuou a líder estudantil, que disse ter a camiseta puxada e quase rasgada pela polícia legislativa.

A audiência foi convocada pelas comissões de Educação e Trabalho, e Administração e Serviço Público, após Weintraub anunciar cortes de 30% no orçamento das universidades e institutos federais. A medida já despertou a voz das ruas que, no último dia 15, viu a presença de milhões de cidadãos indignados em mais de 200 municípios de 26 estados. Frente ao maior movimento popular contrário ao governo desde que assumiu, Bolsonaro preferiu agredir os brasileiros: “Idiotas úteis”, disse durante viagem aos Estados Unidos.

Ataques à educação, ciência e cultura fazem parte da rotina do governo, que apresenta como principal plataforma um tipo de guerra cultural impulsionada por um ranço ideológico. Ao anunciar os cortes, o ministro chegou a dizer que as universidades federais brasileiras “promovem a balbúrdia”.

O deputado Alencar Santana (PT-SP) reagiu à truculência governista. “Balbúrdia é esse governo que diz e recua. Depois recua de novo. Balbúrdia é no ministério ter dois ministros em cinco meses e quatro presidentes do Inep. Balbúrdia é quebra de protocolo de segurança no Inep. Ministro, idiota é quem ofende o povo brasileiro, quem ofende os estudantes e quem não defende a educação brasileira.”

Glauber Braga (Psol-RJ) classificou de “cretina” a manifestação do presidente da República ao ofender os estudantes que estiveram nas manifestações. “Ministro, interrompa sua caçada ao pensamento crítico, à educação pública, reveja a política de cortes e aproveite para pedir desculpas para a sociedade, para estudantes, professores e todos aqueles que não vão aceitar sua perseguição à educação brasileira.”

O ministro disse que “está em rota positiva”, e seguiu em sua “caçada ideológica”. Atacou, como de costume da base de apoio bolsonarista, o educador Paulo Freire. “Não vou falar que respeito, tolero a opinião. Respeitar respeito quem ganhou prêmio Nobel”. Sobre seu trabalho, disse ser “apenas um técnico” e que não pensa que vá ficar por muito tempo na pasta. “Não penso que seja a pessoa que vá deixar o legado”.

Parlamentares apoiadores de Bolsonaro também se exaltaram em diferentes ocasiões. Em uma delas, quando a deputada Professora Marcilvânia (PCdoB-AP) conduzia os trabalhos da mesa e discursava em defesa do direito à manifestação dos estudantes, os deputados Delegado Éder Mauro (PSD-BA) e Professora Dayane (PSL-BA) perderam o controle e iniciaram uma sessão de gritos. “Vocês deveriam abraçar os estudantes. Não vão ganhar a discussão no grito”, retrucou Marcilvânia.