‘Procurando Elly’ traz no elenco atriz banida no Irã

Representando o Irã na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a produção causou controvérsia ao ser proibida em seu país (Foto: Divulgação) São Paulo – O […]

Representando o Irã na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a produção causou controvérsia ao ser proibida em seu país (Foto: Divulgação)

São Paulo – O que começa como uma crônica de costumes da sociedade iraniana moderna transforma-se num suspense com subtexto de comentário social em “Procurando Elly”, que rendeu a Asghar Farhadi o prêmio de direção no Festival de Berlim 2009. O longa estreia apenas em São Paulo.

Representando o Irã na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a produção causou controvérsia ao ser proibida em seu país, pois uma de suas protagonistas, a bela Golshifteh Farahani, foi banida do Irã por ter participado de “Rede de Mentiras”, do diretor britânico Ridley Scott

No entanto, o próprio presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ordenou que “Procurando Elly” fosse exibido no Festival Internacional de Cinema de Fajr, em Teerã, de onde saiu também com o prêmio de direção.

A trama começa de forma descontraída, com um grupo de amigos que se conhecem desde os tempos de universidade e viajam para a região do Mar Cáspio. A atmosfera leve, as intrigas amorosas e as longas conversas fazem lembrar os filmes do francês Éric Rohmer (“Os Contos das Quatro Estações”).

A ideia da viagem é de Sepideh (Golshifteh), que conhece Elly (Taraneh Alidoosti), professora de sua filha de três anos. Junto com seu marido, Amir (Mani Haghighi), Sepideh é acompanhada dos casais de amigos Shohreh (Merila Zare’i) e Peyman (Peyman Moaadi) e Nazi (Ra’na Azadivar) e Manoochehr (Ahmad Mehranfar), e dos filhos deles.

Além de Elly, há outra pessoa solteira no grupo. Trata-se de Ahmad (Shahab Hosseini), amigo do grupo que acabou de chegar da Alemanha, depois de um casamento fracassado. Agora ele procura uma mulher iraniana.

Sepideh quer apresentar Elly ao amigo, esperando que eles se apaixonem e casem. Ingenuamente, ela acredita que tudo funcionará sem nenhum problema, mas uma série de incidentes provam que as boas intenções não são tudo. Ou seja, uma trama tipicamente rohmeriana.

O que não tem muito a ver com o universo de Rohmer, no entanto, é a reviravolta que acontece no meio do filme e leva a narrativa para um caminho mais tortuoso. Como o título já entrega, Elly desaparece e os demais personagens saem à sua procura.

atmosfera leve e divertida da primeira metade do filme não dá nenhuma pista da tensão que se introduz a partir de um incidente envolvendo uma das crianças, que parecia ser o único contratempo de toda a viagem.

O desaparecimento de Elly revela uma rede de mentiras armada para encobrir outras. Elly sempre foi misteriosa, mas Sepideh sabia de alguns detalhes que, se revelados, poderiam ter evitado complicações. A começar pela brincadeira que ela faz ao contar à velha vizinha da casa de praia, inventando que Elly e Ahmad são recém-casados em lua- de-mel.

Em Teerã, Elly deixou para trás, além de uma mãe velha e doente de quem esconde várias coisas, como sua própria viagem à praia, outro segredo muito maior. Quando revelado, ele poderá destruir sua honra, mesmo que ela nunca mais volte.

Assinando também o roteiro, Farhadi o constroi com pequenos detalhes e coisas que parecem casuais, mas, no fundo, dizem muito sobre os personagens. A primeira parte do filme, totalmente despojada e alegre, transmite a impressão de que casas de veraneio são todas iguais — seja em Ubatuba ou no Mar Cáspio.

Conforme a trama caminha, alguns fatos mostram-se típicos da sociedade iraniana que, apesar de alguma abertura à modernidade, mantém inalteradas rígidas tradições. As mulheres, por exemplo, jamais tiram o véu, nem quando estão entre amigos ou quando entram no mar.

A fotografia de Hossein Djafarian (“Ouro Carmim”) acompanha as variações atmosféricas no filme. Se na primeira parte é ensolarada e ilumina os personagens e ambientes com graça, na segunda metade torna-se obscura e exalta a tensão do momento. Através desses detalhes técnicos e narrativos, Farhadi imprime ao seu filme uma relevância muito além de um simples relato de férias frustradas.

Fonte: Reuters

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