Passado e presente de mãos dadas no filme ‘Cinema Novo’, de Eryk Rocha
Documentário apresenta um dos principais movimentos cinematográficos latino-americanos. Espécie de ensaio poético e sensorial, filme apresenta os sonhos que apontavam para um país melhor
Publicado 02/11/2016 - 20h27
Vencedor do prêmio Olho de Ouro (L’oeil d’or), este ano, em Cannes, o documentário Cinema Novo, de Eryk Rocha, estreia nesta quinta-feira (3) em salas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Niterói (RJ) e São Luís. O longa-metragem dirigido pelo filho de Glauber Rocha resgata a história de um dos mais importantes movimentos cinematográficos latino-americanos, a paixão dos diretores pelo cinema e seus sonhos de transformação do Brasil em um país mais justo e igualitário.
Chamado pelo próprio diretor de “ensaio poético”, o documentário mergulha na criação do cinema novo e na visão de mundo e de cinema de seus diretores: Glauber, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra, Walter Lima Jr. e Paulo César Saraceni. Não se trata, porém, um filme histórico e didático, mas sim uma reconstrução sensorial do movimento.
Foram usadas imagens de arquivo e cenas de 130 filmes do Cinema Novo, entre os quais o clássico de Glauber Rocha Terra Em Transe, Vidas Secas e Rio 40 Graus, ambos de Nelson Pereira. Com uma montagem espetacular de Renato Vallone, o resultado é um mosaico harmônico tanto na forma quanto no conteúdo. As entrevistas de bastidores filmadas na época exalam as aventuras e as lutas de uma geração de cineastas que acreditava na arte como um potencial de transformação social.
Pelas mãos destes cineastas, o cinema nacional deixava antigos moldes e renascia como uma nova forma que tinha como lema “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Era um cinema que tomava as ruas e registrava o ‘verdadeiro’ povo brasileiro, a vida nos subúrbios e nas fábricas, nossas manifestações culturais, nossas mazelas e contradições mais profundas.
Por isso tudo, o filme resgata o passado sem desconectá-lo dos dias atuais, como afirmou recentemente Eryk Rocha ao portal HuffPost Brasil durante o festival de cinema de Brasília: “É muito emocionante estrear este filme em Brasília neste momento histórico do país. Eu acho que este filme é fruto de um diálogo entre gerações, desse entendimento da memória não como uma coisa do passado, hermética, ou cristalizada, ou idealizada, mas a memória como uma construção de futuro… Eu acho que essa geração do cinema novo tinha uma grande paixão pelo Brasil e pelo cinema. Mas é uma geração, também, que vivenciou um golpe militar e todos os desdobramentos trágicos de uma ditadura militar no Brasil. E a gente, infelizmente, tragicamente, está vivendo esse momento no Brasil, um novo golpe. Eu, como cidadão, fico indignado com isso. Acho que o filme dialoga nesse sentido, visceralmente, com o Brasil contemporâneo”, critica Eryk.
Cinema Novo
Direção: Eryk Rocha
Produção: Diogo Dahl
Montagem: Renato Vallone
Desenho sonoro: Edson Secco
Coordenação de produção: Joelma Oliveira Gonzaga e Flávia Vianna
Pesquisa: Thiago Brito/Adriana Peixoto
Argumento: Eryk Rocha/ Juan Posada
Produção: Coqueirão Pictures e Aruac Filmes
Coprodução: Canal Brasil e FM Produções
Distribuição: Vitrine Filmes